segunda-feira, 23 de maio de 2011

PARA FUGIR DO PADRE, ENTRE NUM CAIXÃO!

Por José Farid Zaine


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Esse Padre de que falo é o do filme homônimo em cartaz nos cinemas do Brasil, e que tem o título original de “Priest”, o mesmo de um ótimo drama de 1994, aqui chamado “O Padre”. Não é apenas o artigo no nome que faz a diferença, que é muito, muito grande. Primeiro que o filme de 1994, dirigido por Antonia Bird, é um exemplar digno do melhor cinema britânico, com uma história arrojada e corajosa. Nela, um padre vive em conflito com a descoberta de sua homossexualidade, as dúvidas que enchem seu coração e o que deve fazer com um segredo de confissão, em que fica sabendo de um caso de abuso sexual. Forte, tenso.


Esse “Padre” de 2011, dirigido por Scott Charles Stewart, é apenas mais um filme de terror juvenil, inspirado em história em quadrinhos. O visual é, como sempre, carregado, dark. Os atores falam sussurrando. A história é sobre um Padre que, num futuro onde o mundo foi destroçado por guerras constantes entre humanos e vampiros, numa cidade inteiramente dominada pela Igreja, ousa desafiar o poder de seus superiores para procurar e salvar a sobrinha raptada pelos monstrengos... Tudo é overdose, da fotografia à trilha sonora, até bonita, mas presente com sua pompa durante o filme inteirinho, havendo lugar até para o Réquiem, de Mozart, que não merecia esta, digamos, homenagem. Paul Bettany vive esse Padre estranho. Aliás, ele já tem um padre bem estranho em sua filmografia, o monge mais do que bizarro chamado Silas no filme de Ron Howard “O Código da Vinci”, baseado no Best-seller mundial de Dan Brown. Christopher Plummer, grande ator, está presente num papel quase constrangedor (ele foi o Capitão Trapp, em “A Noviça Rebelde”).


As adaptações de histórias em quadrinhos tem dado ótimos filmes, como o caso de Watchmen, alguns exemplares de Batman e outros super-herois. Aqui o desastre é semelhante ao de outro também em cartaz, o “Thor” dirigido pelo shakespeareano Kenneth Branagh, quem diria. “Thor” é igualmente ruim, com uma overdose de efeitos especiais e uma tenebrosa e brega direção de arte. O ator australiano Chris Hemsworth, convenientemente saradão, contracena com nada mais, nada menos que a vencedora do Oscar por “Cisne Negro”, Natalie Portman. O par não funciona ao ponto de Natalie parecer a tia de Chris...


No final de ambos os filmes, “Padre” e “Thor”, fica clara a ameaça de que novos exemplares virão.


Então, o que fazer para fugir dessas coisas que estão dominando nossas salas exibidoras? Correr para dentro de um caixão, quer dizer, de uma locadora, e de lá sair com a caixinha de DVD ou Blu-Ray de “Enterrado Vivo”. Se a procura é por emoção, suspense, adrenalina, está aí uma boa dica. “Enterrado Vivo” (Buried), filmado nos EUA pelo diretor espanhol estreante, Rodrigo Cortés, tem a ousadia de ter seus quase 90 minutos em um único cenário, aliás mínimo: o interior de um caixão! A filmagem demorou 17 dias e foram utilizados 7 caixões diferentes para compor o espaço diminuto em que se passa a densa história: um caminhoneiro de uma empresa americana contratada para a tal “reconstrução” do Iraque, acorda dentro de um caixão enterrado no solo. Com ele, um isqueiro e um celular que logo toca, avisando que, se não houver pagamento de um resgate, ele morrerá em poucas horas. O ator Ryan Reynolds despiu toda sua vaidade para compor a personagem, e se saiu muito bem. Conhecido pelos dotes físicos, que o colocaram como um dos homens mais atraentes do mundo, segundo pesquisas de revistas femininas, ele dá credibilidade às cenas, deixando verossímeis todos os momentos de angústia, de terror claustrofóbico e da desesperada luta pela sobrevivência. Mas “Enterrado Vivo” não se presta apenas a contar um história inusitada, num único cenário. O propósito do diretor vai mais além: somos mergulhados no drama de uma pessoa comum que vê sua vida destroçada por interesses comerciais e políticos que tornam seres humanos objetos descartáveis.


Quem não se lembra do recente e ótimo “127 horas”, do diretor Danny Boyle, premiado com o Oscar por “Quem Quer ser um Milionário”? A semelhança fica na ousadia de um único ator manter o interesse permanente e o suspense crescente, praticamente num único cenário. Nesse aspecto, “Enterrado Vivo” radicaliza muito mais.


Então, caros leitores e leitoras, para fugir desse Padre caçador de monstrengos pegajosos e da Thor...tura, entrem nesse caixão com Ryan Reynolds. Podem crer, será muito mais emocionante.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

ADIVINHE QUEM VEM AO TEATRO VITÓRIA?

ELVIS E MADONA!

Por José Farid Zaine

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Não, não se trata da confirmação da famigerada teoria de que Elvis Presley está vivo....nem tampouco de um delírio megalomaníaco da Secretaria da Cultura programando um show de Madonna no teatro...Aliás, essa Madona que estamos falando tem o nome escrito com um ene apenas, e é um travesti! Já o Elvis mencionado é uma mocinha lésbica, entregadora de pizzas...Pois não é que os dois terão um caso de amor? Essa história inusitada é a base do roteiro do filme “ELVIS E MADONA”, dirigido por Marcelo Laffitte, e que terá uma pré-estreia no Teatro Vitória no dia 19 de maio, quinta-feira próxima. O intérprete de Madona, o ator Igor Cotrim, estará presente. Igor é bem conhecido do público, principalmente por sua participação no reality show “A FAZENDA”, da Rede Record. Igor também esteve na novela de Manoel Carlos, “Mulheres Apaixonadas”, de 2003, e na série “Sandy e Júnior”, em 1999, ambos da Rede Globo.

A noite de quinta, 19, portanto, promete ser agitada...às 19:30, Luiz Biajoni, um dos apresentadores do Programa Fatos e Notícias, da TV Jornal de Limeira, vai autografar seu livro “Elvis e Madona”...Sim, Bia escreveu um livro baseado no roteiro do filme, num interessante caminho inverso, uma vez que na grande maioria das vezes os livros é que se transformam em roteiros de filmes. Logo após a sessão de autógrafos, com a presença de representantes da Editora Língua Geral e a participação de Igor Cotrim, haverá a projeção do filme, sendo que esta será a primeira apresentação pública dele no interior, antes de sua estreia nacional num grande circuito de cinemas, prometida para o mês de junho. O público de Limeira se antecipa, com orgulho, na avaliação da obra de Laffitte, que já percorreu diversos festivais de cinema, incluindo os de Melbourne, na Austrália e o concorrido festival Tribeca, em Los Angeles.

O ator Igor Cotrim faz uma ótima composição do travesti Madona, a personagem que sonha em estrelar um grande show musical. Ele dribla bem seu tipo físico másculo para conferir feminilidade e leveza à personagem.

Simone Spoladore, fugindo dos estereótipos, compõe um Elvis delicado, até pela sua estatura. O par é estranho, sem dúvida, mas é o que garante o interesse e originalidade do filme.

O Teatro Vitória, com a pré-estreia de “Elvis e Madona” tem um verdadeiro revival dos seus tempos de cinema, que duraram da década de 1940 ao fim dos anos 1990, quando o tradicional Cine Vitória se transformou em teatro. A partir dessa pré-estreia, a Secretaria da Cultura realizará, naquele espaço, o Projeto Cine Cultura, dedicado à exibição de filmes, com projeção digital, com entrada franca para a população.

O Projeto “Cine Cultura” vai se dedicar à exibição de filmes de interesse artístico e cultural, como opção de cinema para o público que procura uma alternativa diante do que é apresentado pelo único circuito exibidor da cidade.

“Elvis e Madona”, portanto, é também o filme inaugural de um projeto que vai atender aos anseios dos cinéfilos da cidade. Outras ideias, como a criação de um Cine-Clube, também estão caminhando.

O filme de Marcelo Laffitte, “Elvis e Madona”, teve um orçamento pequeno, mas o resultado é bem satisfatório. É bom tecnicamente e tem um elenco irrepreensível. Além do par central, vivido por Igor e Simone, o longa tem as marcantes presenças de Maitê Proença, José Wilker, Sérgio Bezerra e Buza Ferraz.

Cinema e literatura estarão presentes, num casamento perfeito, na próxima quinta, dia 19 de maio, a partir das 19:30, com entrada franca, na noite limeirense de autógrafos do livro de Luiz Biajoni e na pré-estreia do filme homônimo, “Elvis e Madona”. Quem quiser conferir esse inusitado e divertido encontro, é só comparecer ao Cine, quer dizer, Teatro Vitória. É de graça. Quem quiser o livro do Bia, claro, vai comprar e pedir autógrafo pra ele. Eu já tenho, e fui à noite de autógrafos que ocorreu na Livraria Cultura, em São Paulo, na Avenida Paulista. Era uma noite agitada, e a Paulista estava linda, com todas as suas luzes. Tudo muito apropriado para um apoteótico show de Madona...

sexta-feira, 13 de maio de 2011

“A gente quer comida, diversão e arte”

Artigo opinativo do secretário da Cultura José Farid Zaine

Neste final de semana, o Governo do Estado de São Paulo, através da Secretaria de Estado da Cultura, realiza em diversos municípios a “Virada Cultural Paulista”. Como representante da área cultural da cidade de Limeira, e apreciador de projetos ousados como o da “Virada”, reitero aqui a importância dele, sobretudo quando ele invade os municípios, levando cultura em diversos espaços. Na capital, por exemplo, é interessante ver a cultura e a luz vencendo espaços que, em dias comuns, são perigosos e pontos de distribuição de drogas. É uma prova de que a cultura de qualidade vence a escuridão e convida a população a voltar a olhar, com orgulho, os espaços que habita.

Enfim, os limeirenses cobram muito a realização da “Virada” no município. Eu mesmo já cobrei, enquanto vereador e agora como secretário, para que fossemos uma das cidades a receber o projeto. Fui diversas vezes a São Paulo, em reunião até com o secretário de estado da Cultura. Ocorre que, por sermos sede do Festival Paulista de Circo (realizado neste ano pelo quarto ano consecutivo), um dos maiores investimentos do Estado e também do nosso município, não integramos esse circuito. Claro que gostaria de receber a “Virada” e o “Festival”, mas como optar entre um ou outro? Impossível.

Da mesma forma como ficamos afoitos agora para irmos às cidades que são sede da “Virada”, muitas delas também ficam para vir ao nosso “Festival”, quando recebemos as lonas mágicas e coloridas do circo na cidade.

Claro que é preciso sempre mais, pensando nisso, criei o “Vira Virou – A Virada Cultural Limeirense”, com total apoio do Prefeito Silvio Félix e de todos os secretários municipais, especialmente Marcos Camargo e Adalberto Mansur, além do importante apoio do Poder Legislativo de Limeira, hoje presidido pela vereadora Elza Tank. Todos nós, unidos, nos dias 14 e 15 de setembro de 2010, realizamos nossa própria “Virada”, com recursos bem menores do que os do Estado - é verdade - mas com muito empenho e dedicação. A nossa “Virada” teve um público de quase 15 mil pessoas, com abertura emocionante com a trupe “O Teatro Mágico”, no Parque Cidade. Para este ano, pretendemos – em breve – já iniciar as discussões do projeto. Tenho certeza de que será maravilhoso.

Vamos cobrar e exigir de todos os Poderes para que as propostas culturais sejam sempre fomentadas e ampliadas dentro da nossa cidade. Mas, também, vamos nos unir para valorizar o que é nosso, divulgar e prestigiar. Há muitas iniciativas sendo trazidas ao público, algumas – inclusive – bastante ousadas, como o “Vira Virou”. Mas é preciso que apoiemos e abracemos a causa a favor da nossa cultura.

Estamos passando por um turbilhão de projetos: “Mostra de Teatro”, para atender as necessidades das artes cênicas; “Mostra de Dança”, para atender aos bailarinos, “Verso e Voz”, para a área de literatura, “Cine Cultura”, para atender aos cinéfilos de plantão – projeto, aliás, que estreia nesta quinta-feira, 19, às 19h30, no Teatro Vitória, com o filme “Elvis e Madona”, de Marcelo Laffitte; “Canta Limeira”, para que os músicos também tenham vez dentro da nossa programação. E, vem aí, o retorno dos salões de arte, para atender o público das artes visuais, o “Conselho Municipal da Cultura”, para discutirmos junto à sociedade projetos da área e a abertura de editais prevista na Lei de Incentivos Fiscais à Cultura.

Não nos acomodamos e buscamos sempre atender as necessidades da população. Cultura é uma área intensa, em que sempre tudo o que se faz ainda é pouco. Mas estamos buscando aperfeiçoar as nossas ideias, sempre com o objetivo de atendermos melhor a população.

Vida longa à “Virada”, vida longa ao “Festival Paulista de Circo”... Vida longa à cultura!

terça-feira, 10 de maio de 2011

ÁGUA PARA UM MORTO-VIVO

Por José Farid Zaine

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Como havíamos anunciado, estreou na sexta passada o filme “Água Para Elefantes” (Water for Elephants, EUA, 2011), dirigido por Francis Lawrence. O diretor, conhecido pelos filmes de ficção científica “Constantine”, de 2005, e “Eu sou a Lenda”, de 2007, resolveu adaptar para as telas o romance homônimo de Sara Gruen, um grande sucesso de vendas. Para compor o trio central da trama, Lawrence recrutou o vampirinho Robert Pattinson, da saga “Crepúsculo”, a loura vencedora do Oscar Reese Whiterspoon, e o carrasco nazista de “Bastardos Inglórios”, também ganhador da estatueta, Cristoph Waltz. A história é narrada em flash-back por um senhor de 94 anos (o ótimo Hal Holbrook, de 86 anos, indicado ao Oscar por “Na Natureza Selvagem”) que sai de um “lar” para idosos e vai ao encontro de um circo; lá ele contará toda a sua história para um dos donos desse circo. Quando jovem, universitário quase formado em Veterinária, ele vê sua vida mudar radicalmente quando perde os pais num acidente de carro; quase acidentalmente também, mas por força do destino, segundo ele acredita, ele vai parar no trem de um circo , aí fica trabalhando e conhece uma linda loura, encantadora de cavalos, que sofre sob o poder do dono, um homem destemperado e violento. O triângulo se forma, inevitavelmente. Haverá muito sofrimento, muitas dores, num tempo em que os EUA viviam o auge da depressão, o ano de 1931. O circo, refúgio das pessoas assoladas pelo desemprego, pela fome, pela miséria, é a ilusão onde todos tentam se segurar. Para salvação desse onde se passa nossa aventura, quase falindo após a perda de seu grande astro, um cavalo branco, quem surge é uma simpática elefanta, de nome Rosie. Ela conhecerá o amor do mocinho e da mocinha e, claro, os maus tratos abomináveis do vilão. Rosie é um grande achado do filme, e dá a ele momentos de graça e emoção verdadeiros.

Agora chega de contar a história, embora não haja tantos acontecimentos a mais que justifiquem guardar segredos. Enfim, é um filme que se vê com facilidade. O roteiro é bom, garante interesse. A fotografia, a direção de arte, os figurinos e a trilha sonora são plenamente satisfatórios. Um filme de época feito com capricho é sempre gostoso de ver. O problema de “Água Para Elefantes”, é que ele é muito linear, muito previsível e muito água com açúcar. Robert Pattinson disse numa entrevista que estava adorando interpretar um ser humano de verdade, depois de tantas vezes ter ficado preso na pele de um vampiro. O diretor se esqueceu de dizer a ele que, agora, sua personagem precisava realmente “parecer” gente. Pattinson mantém aquele olhar glacial e a expressão de um poste para compor sua personagem, o quase veterinário Jacob Jankowski. Ele passa todo o filme mais parecendo um morto-vivo, precisando do choque de um balde de água gelada para acordar e dar um pouco de vida ao seu sonolento Jacob. Reese Whiterspoon está linda, claro, mas ela também não é nenhuma Jean Harlow, apesar do penteado e dos figurinos remeterem à Vênus Platinada. Até no caso de Cristoph Waltz, aqui repetindo o tipo “mau e asqueroso” que viveu em “Bastardos Inglórios”, de Quentin Tarantino, parece faltar um pouco de tempero...Quem acaba se salvando é mesmo o velhinho Hal Holbrook, a personagem vivida por Pattinson quando jovem. Ele tem um olhar expressivo e uma interpretação bem convincente, que dá pra perguntar: como poderia ter sido tão sonso na juventude?

Com tantas críticas, pode parecer que saí do cinema odiando o filme. Nem tanto. Até gostei. São duas horas que passam rapidamente, não há tédio. O que faltam são saltos de emoção, interpretações mais consistentes e um pouco de pimenta no açucarado romance e nas relações do triângulo amoroso. A história é interessante e o espectador deseja ver o desfecho. Isto somado às qualidades técnicas inegáveis do filme, faz com que seja possível recomendá-lo, e numa avaliação por estrelas, situá-lo numa posição um pouco desconfortável entre duas e três.

Interessante também em “Água Para Elefantes” é o que se mostra do cotidiano de um circo às voltas com a necessidade de público para a sobrevivência dos trabalhadores... e a triste presença de animais, explorados e mal tratados, coisa muito comum nos circos antigos, e que hoje é tão condenada. Lembrei-me do Festival Paulista de Circo, há quatro anos realizado em Limeira: lá não há animais infelizes e subjugados, mas apenas o talento e a garra de artistas que conseguem unir, de forma primorosa, o circo mais tradicional ao mais moderno, sem que precisemos nos deparar a todo momento com aqueles tristíssimos olhares dos bichos adestrados.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS E UM CASO PERUANO

Por José Farid Zaine

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Estranharam o título? Mas já vai ficar claro. Hoje teremos no Teatro Vitória a segunda apresentação da peça “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, com um elenco de estrelas: a linda e ótima atriz Carol Castro, atualmente na novela “Morde e Assopra”, de Walcyr Carrasco, é Dona Flor, Marcelo Faria, astro de tantos sucessos globais, é Vadinho e Duda Ribeiro, presença constante nas novelas da Globo, é o farmacêutico Teodoro...Trata-se de uma adaptação para o palco do mais do que célebre romance de Jorge Amado, levado às telas nos anos 1970 com Sônia Braga, José Wilker e Mauro Mendonça, com direção de Bruno Barreto. Eis aí uma dica para uma sessão doméstica do recordista de bilheteria do cinema brasileiro, até a chegada de “Tropa de Elite 2”. Vale a pena ver ou rever, para uma gostosa comparação. Quem leu o livro e assistiu ao filme certamente terá interesse em ver como essa conhecida e deliciosa história ficou no teatro. Outra linguagem já foi também usada para dar vida a personagens tão maravilhosas de Jorge Amado: a da TV, na minissérie da Globo com Giulia Gam. O filme e a minissérie são fáceis de encontrar nas locadoras ou nos sites de vendas de DVDs.

Na semana passada vi um filme muito bonito, uma coprodução do Peru com a Colômbia. Alguns comentários consideraram o filme uma espécie de “Dona Flor” às avessas... Trata-se de “Contracorrente”, o filme indicado pelo Peru para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro no ano passado (Não confundir com o policial americano “Contra Corrente”, já disponível em DVD). Como no caso do Brasil, não chegou a figurar entre os cinco finalistas, mas ganhou muitos prêmios e aplausos no mundo todo. A história é a de um pescador de uma pequena vila litorânea do Peru, casado e com a mulher grávida, que se envolve num romance com um pintor que se instala no local, vindo de outra cidade. Numa reviravolta do roteiro, o pescador terá que continuar seu romance com o espírito do pintor, convivendo com ele e com a esposa, dividido entre dois amores, estando aí a semelhança com nossa Dona Flor, mergulhada na tórrida paixão por Vadinho e sustentada pelo amor seguro e tranqüilo do farmacêutico Teodoro. O diretor peruano Javier Fuentes-León realmente demonstra conhecer nosso famoso romance baiano: uma das personagens tem o nome de Dona Flor. Ele também deixa transparecer seu gosto pelas novelas brasileiras, “as melhores” na fala de uma personagem que assiste a uma reprise de “Direito de Amar”, com Lauro Corona. Como o filme trata de um caso de amor homossexual, parece clara a intenção de mostrar Corona, que morreu de AIDS enquanto fazia a novela. “Contracorrente” é uma grata surpresa de um país cuja cinematografia não é muito conhecida, e que recentemente teve uma projeção internacional através do longa “A Teta Assustada”, que chegou à indicação ao Oscar de Melhor Filme estrangeiro, e arrebatou prêmios mundo afora, incluindo o Urso de Ouro no Festival de Berlim. A estranheza de “A Teta Assustada” aqui é substituída por leveza e emoção. “Contracorrente” fala da influência da religião e dos costumes locais sobre a vida sexual das pessoas, a existência de um forte preconceito em regiões mais rudes e do dilema instalado na mente de quem questiona a própria condição. O filme é político por esse aspecto, mas está longe de ser panfletário. O romance gay é mostrado sem véus, mas não há apelação nem mau gosto. Pelo contrário, há uma beleza permeando todo o filme, também pela excelente fotografia e pelas inusitadas locações na costa peruana. A música conduz muito bem a narrativa, tornando a obra emocionante, sem ser melodramática ou piegas. O tema musical “Aunque no sea Conmigo”, interpretado por Café Tacuba y Celso Piña, é muito bom e pode ser ouvido no trailer disponível no Youtube.


"Dona Flor e Seus Dois Maridos"

Estrelado por um trio central muito bom (Cristian Mercado como o pescador Miguel, o galã colombiano Manolo Cardona como fotógrafo e pintor Santiago e Tatiana Astengo como Mariele, a esposa), o filme agrada até mesmo às plateias não muito acostumadas com o tema. No Festival Mix da Diversidade Sexual, em São Paulo, no ano passado, arrebatou o público, sendo considerado por ele o melhor da mostra.

Bom, caros leitores, dicas para todos os gostos: se preferem o tempero baiano, a brasilidade e a sensualidade tropical, basta alugar “Dona Flor”, em sua versão de longa metragem para as telonas ou minissérie para a telinha; se o caso for ousar e ver uma história de amor gay com toques de sobrenatural, é preciso ir a um cinema em São Paulo onde esteja sendo exibido “Contracorrente”.

De qualquer maneira, a principal dica de hoje é mesmo ir ao Teatro Vitória, aqui em Limeira, para ver de perto Dona Flor e Seus Dois Maridos, e assim compreender melhor porque o mundo inteiro se interessou tanto pelo seu fantástico caso de amor.



Contracorrente


Assessoria Geral de José Farid Zaine