terça-feira, 12 de abril de 2011

OLHA A ONDA!


Por José Farid Zaine

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Não, não se trata de um tsunami, mas da onda de filmes espíritas que estão chegando aos nossos cinemas, principalmente em decorrência do centenário de Chico Xavier. A surpresa já havia começado com uma “marolinha”, o paupérrimo “Bezerra de Menezes”, que acabou levando mais de 500 mil pessoas ao cinema. Depois veio um produto bem acabado, o melhor de todos, o filme dirigido por Daniel Filho, “Chico Xavier”, com produção impecável, ótima caracterização de Nelson Xavier e excelentes interpretações de Cristiane Torloni, Tony Ramos, Ângelo Antonio e Letícia Sabatella. Estrondoso sucesso de bilheteria que ficaria ecoando até a estreia espetacular de “Nosso Lar”, superprodução cheia de efeitos especiais, orçamento milionário e resultado pífio. O público, principalmente os simpatizantes do tema, gostou dos dois. Chega às telas agora o terceiro exemplar da trilogia, “As Mães de Chico Xavier”, mexendo numa praia que sempre rende lágrimas, a das mães que perdem seus filhos. Aqui veremos as sempre tocantes histórias de mulheres cujo sofrimento pela pior das perdas só é amenizado através de cartas psicografadas por Chico. Nelas os filhos mortos se comunicam com suas mães, seus familiares, contando detalhes da história de parentes, relatando fatos conhecidos apenas por quem teve com eles convivência íntima, de modo a deixar quem recebe essas cartas plenamente convencido da veracidade delas.

“As Mães de Chico Xavier” tem uma vantagem sólida sobre outro exemplar da onda, o chatíssimo “As Cartas Psicografadas de Chico Xavier”, que vi no festival de Paulínia, mas parece não ter agradado nem aos fanáticos do gênero. “As Mães” tem qualidades e defeitos de seus antecessores. Como qualidades destaco a interpretação de Via Negromonte, como a mãe que perde o filho mesmo antes dele morrer, por causa das drogas. A expressão de Via é realmente comovente. Outra mãe, Vanessa Gerbelli, fica perdida entre a apatia e o desespero, como se sua personagem estivesse permanentemente no limbo. Tayná Müller, jovem, bonita e convincente, é outro ponto positivo. Pesam muito sobre o conjunto do filme o ritmo arrastado, a produção pobre e a trilha sonora lacrimosa, sempre tentando induzir ao choro. Nelson Xavier está presente, novamente no papel de Chico, agora envelhecido e muito, muito parecido com o verdadeiro.

Lançado na semana passada, “As Mães de Chico Xavier” teve o maior público no país no seu final de semana de estreia (em renda, perdeu para o blockbuster “Fúria Sobre Rodas”). Era esperado. Vamos ver se mantém a performance nas próximas semanas. Está cada vez mais frequente a presença de filmes brasileiros entre as maiores bilheterias, e estamos vendo isso acontecer também com “Vips”, interpretado por Wagner Moura, e “Bruna Surfistinha”, com Deborah Secco.

Já que eu falei sobre “onda” espírita, vale ressaltar outro tipo de onda: a dos mares cariocas, presentes na paisagem que enfeita a animação “Rio”, do nosso Carlos Saldanha. A animação em 3D estreia neste fim de semana e já se anuncia como um grande sucesso. A história de Blu, uma ararinha azul, inteiramente ambientada no Rio de Janeiro, é um dos filmes mais aguardados da temporada. Saldanha, hoje um dos mais respeitados nomes no mundo da animação, um dos gêneros mais rentáveis do cinema, está sendo muito admirado e disputado, mas mirando seu próprio e milionário negócio.

Veremos “Rio” com a voz de Rodrigo Santoro, outro nome que já ficou bem conhecido em Hollywood, e agora recebe cada vez mais convites para filmar fora do país. O lançamento dessa animação coincide com o período em que existe o maior interesse de levar para o mundo uma imagem da cidade maravilhosa menos estereotipada e menos marcada por cenários de pobreza e violência. Certamente a beleza do filme, seu maravilhoso acabamento técnico, a trilha sonora a cardo de Sérgio Mendes, a história com toques ecológicos emocionantes serão incorporados ao imaginário de milhões de pessoas mundo afora, agora que os olhos do Planeta se voltam para o país que sediará a Copa de 2014 e a cidade das Olimpíadas de 2016.

Que a onda o leve, caro leitor, aos cinemas que estão exibindo “As Mães de Chico Xavier” e “Rio”. Tocado pela fascinante ideia da vida “no outro lado”, e ainda com possibilidades de comunicação com “o lado de cá”, perdoando os defeitos da produção, ou envolvido no mundo da ararinha Blu, você estará prestigiando o cinema brasileiro. Tanto o que é feito inteiramente aqui, quanto o que é feito lá fora, mas com talento que saiu daqui...

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