terça-feira, 16 de agosto de 2011

COMO ESQUECER DZI CROQUETTES?

Por José Farid Zaine

farid.cultura@uol.com.br

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Hoje e amanhã o Teatro Vitória revive, mais uma vez, seus dias de cinema... prossegue nesta sexta e continua amanhã, sábado, o Projeto Cine Cultura, da Secretaria da Cultura de Limeira, desta vez trazendo à cidade, pela primeira vez, o Festival Mix de Cinema da Diversidade, grande sucesso em São Paulo. Em Limeira, acontecerão as exibições de dois longas e dois programas de curtas sobre o tema.


O longa de hoje é “Como Esquecer”, um belo drama com Ana Paula Arósio e Murilo Rosa. A história é a da professora de literatura inglesa, Júlia, no período que se sucede a uma dolorosa separação de uma mulher com quem viveu um romance de dez anos. Mágoas e ressentimentos dominarão o cotidiano de Júlia, que passa a contar com o apoio do amigo Hugo (Murilo Rosa), outro que sofre pelo rompimento com um caso amoroso, por conta da morte do parceiro. Situações diversas, mas que obrigam as personagens a tentar recompor a vida após perdas traumáticas.

A diretora Malu de Martino correu o risco de ver seu filme taxado de “papo cabeça” ou intelectualizado, por certa “pompa” em seus diálogos. Mas a natureza das personagens envolvidas exigia algo assim, e Ana Paula Arósio dá conta de construir uma Júlia verossímel, sem deixar que os exageros de pessimismo a transformassem numa personagem chata. O filme é delicado, bem fotografado, tem boa trilha sonora, flui com leveza, sem que jamais se torne panfletário. Narra a convivência de pessoas com o aprendizado da dor, da ausência. Neste aspecto consegue aprofundar essa reflexão e ser comovente.

Após “Como Esquecer”, o público poderá apreciar os curta-metragens selecionados pelo festival e premiados na edição de 2010.


O título do artigo remete ao outro filme do festival, que será exibido amanhã. Trata-se de um dos mais aclamados e premiados documentários brasileiros sobre um grupo de artistas que fez história nos anos 70, enfrentando a ditadura militar com inteligência e bom humor. Não demorou para a censura, câncer da cultura nos anos do regime militar, proibir o musical. O espetáculo foi para Paris e ganhou notoriedade internacional, como mostram depoimentos que estão no documentário, e que incluem palavras emocionantes de Liza Minelli.


“Dzi Croquettes” foi um grupo de ousados artistas da cena teatral brasileira num período difícil, em que a arte era vista como inimiga do poder, o que é comum nas ditaduras e regimes totalitários. Quem confrontasse o governo sofria as penas dos anos de chumbo, que incluíam prisões arbitrárias e bárbaras torturas, além de assassinatos e exílios. Por romper com as convenções e não se submeter às imposições, usando criatividade e fina ironia, o espetáculo “Dzi Croquettes” surgia e apaixonava as plateias.


O público limeirense terá a chance de conferir, amanhã, às 20h, com entrada franca, a fascinante trajetória dos “Dzi Croquettes”, treze homens atores/bailarinos, dos quais 8 já morreram, incluindo uma de suas maiores estrelas, o coreógrafo Lennie Dale. Lennie era amigo de Liza, que viu o espetáculo no Brasil e depois em Paris.


“Dzi Croquettes” tem direção de Tatiana Issa e Rapahael Alvarez. Tatiana, conforme ela declarou no Programa do Jô, morou com a trupe em Paris quando era muito menina, pois o pai trabalhava na equipe técnica do espetáculo.


O grupo se dissolveu em 1979, mas retornou em 1988, naturalmente sem o grande impacto do período de seu surgimento, quando recebeu todos os adjetivos imagináveis, de criativos a debochados, de irônicos a escrachados, mas sem nunca faltar o reconhecimento à sua genialidade.


Além de Liza Minnelli, o documentário traz depoimentos de Marília Pêra, Gilberto Gil, Ney Matogrosso, Nelson Motta e outros.


A possibilidade de que novas gerações conheçam o trabalho dos “Dzi Croquettes” e, através dele, compreendam melhor uma época difícil e traumática da recente história do Brasil, foi saudada por muitos críticos, e o filme recebeu diversos prêmios em festivais.


O Projeto Cine Cultura teve início no mês de maio, com uma pre-estreia nacional do filme “Elvis e Madona”, de Marcelo Lafitte, com a presença do ator Igor Cotrim, que interpreta Madona. “Elvis e Madona” estreará nos cinemas apenas no dia 23 de setembro! Em junho tivemos o filme “Bodas de Papel”, de André Sturm e o curta-metragem vencedor nessa categoria em Paulínia, no ano passado, “Eu Não Quero Voltar Sozinho”, com a presença do ator Fábio Audi. Este curta estará na programação do Festival Mix em Limeira. Na terça passada foram exibidos curtas argentinos.


Portanto, cinéfilos e público que deseja uma opção interessante e inteligente de cinema na cidade: Hoje e amanhã, de graça, a partir das 20h, no Teatro Vitória, ótimos filmes discutem a diversidade, mostrando a visão do cinema sobre amor, sexo e liberdade!

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