Por José Farid Zaine
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Desde os seus primórdios, o cinema namorou a sua condição de fábrica de sonhos. Possibilidade inesgotável de documentação da história passou a existir, assim como a discussão da natureza humana em todas as suas facetas. Mas o que fascinou a humanidade foi a possibilidade de ver, nas telas, em movimento, a materialização dos seus desejos. No cinema é possível ultrapassar todas as limitações do corpo, do espaço, do tempo. Quem não desejou ser um super herói, com poderes para fazer de tudo, mudar ou conquistar tudo? Quais são os filmes que arrastam multidões ao cinema em todas as partes do mundo? A briga está por aí: Batman ou Homem Aranha? Homem de Ferro ou Superman? Todos os herois juntos ou o pequeno bruxo de Hogwarts? O universo se curva diante dos invejados poderes deles todos, e isso se traduz numa indústria voraz que consome e arrecada bilhões, numa prova incontestável do prazer gerado por uma aventura fantasiosa nas telas...Afinal somos nós, sentados nas poltronas, que nos deixamos levar pela fantasia, como se adquiríssemos todo o poder sonhado, e de repente pudéssemos romper com nossas limitações, transformando-nos em herois salvadores do planeta...Bem, haverá quem se identifique com os vilões, igualmente dotados de superpoderes, mas com outro foco, lógico...
Pois eis que chega às telas uma nova concepção de outro conhecido salvador da pátria, o Capitão América. Ele vem na pele do ator Chris Evans, numa superprodução que acaba de estrear, também destinada a conquistar grandes plateias. “Capitão América – O Primeiro Vingador”, dirigido por Joe Johnston, tem todos os ingredientes que temperam as grandes aventuras do cinema moderno: efeitos visuais espetaculares, capricho na direção de arte, fotografia, magníficos figurinos, trilha sonora...O apelo visual é fortíssimo, assim como o som, mas é preciso que o filme seja visto num cinema bem equipado...Fui ver numa sala que o exibia em 3D, mas com péssima projeção e uns óculos extremamente desconfortáveis, que ficavam folgados demais. Aí a sala exibidora trabalha contra a produção, tecnologicamente irrepreensível. Mas lá está o nosso herói. Muito americano, claro, defensor das cores de sua bandeira, o que é louvável em todo herói, não fosse a patriotada. Em todo o caso, em “Capitão América”, ela é mais leve do que em “Homem Aranha”. A magia do cinema, que,como já disse, nos permite tudo, aqui se revela na segunda guerra mundial. Sabemos o que existia na década de 1940, o que era possível existir dentro da história das conquistas científicas, mas nos divertimos vendo vilões com equipamentos incrivelmente avançados para a época...Lá estão os indefectíveis cientistas, o do bem e o do mal, ambos com suas descobertas mirabolantes, que não podem deixar de passar pelas máquinas e soros capazes de transformar um rapaz pequeno, raquítico, tímido, numa montanha de músculos, sem que se perca a marca do “homem bom”. Nisso reside muito do humor de “Capitão América”, pela escolha acertada do ator, e pelos efeitos interessantes que o fazem mudar a estatura e a compleição física.
O mês de julho, por ser de férias, foi pródigo em lançamentos de aventuras que prolongam sua temporada por todo o mês de agosto...Podemos escolher entre voltar à segunda guerra no corpo de um soldado bombadão ( dentro dele estamos nós, os raquíticos sonhadores), penetrar no mundo sombrio das descobertas de Harry Potter, mas podendo usar todos os recursos de sua magia, ou nos envolvermos no universo mecânico de “Transformers”...aliás, este último vem nos revelar o “outro lado da lua”, a mesma lua que fascinou os primeiros aventureiros da sétima arte, que há mais de cem anos já viajaram, através do celulóide, ao nosso satélite...”Viagem à Lua”, do francês Georges Méliès é de 1902!
É espantoso compararmos os filmes de décadas atrás com as produções de agora, mas sabendo que, em cada época, eles foram capazes de despertar as mesmas emoções. O que virá pela frente? É igualmente fascinante pensar nisso. O que não mudará, com toda a certeza, será o poder que o cinema tem de alimentar nossas fantasias, nossos sonhos e ilusões.
Cito um exemplo: Não teríamos todos um desejo secreto de nos vingarmos dos nazistas, pelas barbaridades que cometeram durante o holocausto, que causam choque e terror ainda hoje? Pois Quentin Tarantino fez isso por todos nós. A sequência final de “Bastardos Inglórios” é a nossa redenção: os nazistas pagam, de forma cruel, claro, pelos seus crimes. Tudo bem, trata-se de um filme de ficção. Mas de que outra forma conseguir justiça, a esta altura da história?
Bom, é hora de acabar com os preconceitos e se permitir uma folga só pra curtir um divertimento sem outras pretensões. Quem for ver “Capitão América” com esse propósito não se arrependerá.
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