Por José Farid Zaine
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Uma das injustiças mais
flagrantes deste ano no Oscar foi a exclusão de “O Mestre” entre os indicados a
melhor filme do ano. Juntamente com outro injustiçado, Ben Affleck, Paul Thomas
Anderson, um dos maiores diretores do cinema contemporâneo foi igualmente
esquecido. Mas o elenco que esse brilhante diretor reuniu saiu recompensado,
pois os três principais intérpretes receberam indicações ao prêmio máximo do
cinema: Joaquin Phoenix, indicado a melhor ator, Philip Seymour Hoffman a
melhor ator coadjuvante e Amy Adams a melhor atriz coadjuvante.
Joaquin Phoenix atinge seu auge
neste drama que se passa nos anos 1950, época em que os Estados Unidos e o
resto do mundo viviam os tempos de rescaldo da segunda guerra. Neste período, o
ex-marinheiro Freddie Quell, vivido por Phoenix, precisa se equilibrar entre os
traumas da guerra, o alcoolismo e a compulsão pelo sexo. Ele conhece um homem
instigante e perturbador, Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman) líder de uma
seita chamada “A Causa”, para a qual é levado e onde permanece, dentro de um
grupo que acredita nas orientações de seu líder para a cura da loucura sem o
uso dos métodos convencionais.
Muito se comentou na imprensa de
todo o mundo que a base do roteiro de “O Mestre” estaria na história da
Cientologia, a famosa religião de Tom Cruise e outros astros de Hollywood,
também iniciada nos anos 1950. Isso pouco importa para a obra de Anderson, que
se constrói como uma assustadora imersão na mente humana e seus labirintos, e
com tudo o que se faz para desvendar os seus mistérios e corrigir suas
distorções.
“O Mestre” é um filme duro, que
não faz concessões ao gosto fácil pelo melodramático, pelo que é fácil de
digerir. Ao contrário, é extremamente perturbador, como se todo o tempo
estivéssemos sendo desafiados a compreender seus propósitos, tornando-nos
seguidores de seus princípios e, mais do que isso, cúmplices deles.
“O Mestre” é belíssimo em sua
forma, magnificamente fotografado e com uma trilha sonora envolvente e
sedutora. Os anos 1950 estão totalmente presentes através de uma direção de
arte rica em detalhes que nos fazem mergulhar nos cenários onde a história se
desenrola, de onde sempre saímos com uma sensação de nostálgica melancolia.
Joaquin Phoenix, quase
irreconhecível com sua magreza, nos dá uma das melhores interpretações
masculinas dos últimos anos ao compor o
complexo ex-marinheiro que se envolve com a seita “A Causa”. Tenho dito
que este é, mais uma vez, o ano de Daniel Day Lewis, que está soberbo como
“Lincoln”. Mas perder o Oscar para Lewis não será, com certeza, uma derrota
para Phoenix. Aliás, magro como ficou, Phoenix está muito parecido com Lewis. Para
lembrar de alguns dos bons momentos de
Joaquin Phoenix, basta rever o drama “Amantes”, em que está brilhante ao lado
de Gwyneth Paltrow , ou sua participação no épico “Gladiador”, de Ridley Scott,
em que viveu o complicado Commodus, papel que lhe deu uma indicação ao Oscar de
melhor ator coadjuvante. Foi após “Amantes” (Two Lovers), que Phoenix anunciou,
numa famosa entrevista no programa de David Letterman, que estava deixando o
cinema para se tornar um rapper. Como se viu, não foi isso o que aconteceu,
e a suposta “aposentadoria” de Phoenix
fazia parte de um esquema envolvendo a produção de um filme em parceria com
Casey Affleck, irmão de Ben. Melhor para o cinema.
O grande parceiro de Phoenix em “O
Mestre”, Philip Seymour Hoffman , não é
nenhuma surpresa, pois mais uma vez mostra seu excepcional talento e sua
inesgotável capacidade de compor tipos diferentes, sem jamais se repetir, e
sempre com a mesma competência. Amy Adams está perfeitamente à altura das
interpretações de Phoenix e Hoffman.
Lançado no Brasil há duas
semanas, “O Mestre” deverá figurar como um dos melhores filmes de 2013 nas
listas de todos os críticos e cinéfilos. E, para ficar mais antenado com a obra
do diretor, o público poderá rever
grandes momentos de Paul Thomas Anderson em filmes excepcionais disponíveis em
DVD e Blu-Ray, como “Magnólia”, obra-prima estrelada por Tom Cruise, e “Sangue
Negro”, que deu o segundo Oscar de melhor ator justamente a Daniel Day Lewis.
Recomendo, sem restrições, este
novo filme de Paul Thomas Anderson. O título deste meu artigo pode remeter a
outras injustiças contra os mestres, que nada tem a ver com indicações ao
Oscar. Os professores brasileiros sabem muito bem disso.