Por
José Farid Zaine
Twitter:
@faridzaine
Facebook: Farid Zaine
“Lincoln”, de Steven
Spielberg, chegou ao Brasil na semana passada embalado pelas 12 indicações ao
Oscar anunciadas no dia 10 de janeiro. É o recorde deste ano para os prêmios da
Academia, com entrega marcada para o dia 24 de fevereiro. Até lá, ou mais
precisamente até o último dia para a votação, dia 19, os membros da Academia
estarão atentos às diversas premiações que antecedem o Oscar e são, via de
regra, termômetros que podem influenciar nas decisões. Em pelo menos três das
doze indicações “Lincoln” pode ser considerado quase imbatível: melhor ator para Daniel Day Lewis, melhor
ator coadjuvante para Tommy Lee Jones e melhor roteiro adaptado para Tony
Kushner, que já fez para Spielberg o roteiro do ótimo “Munique”, pelo qual
Kushner foi indicado ao Oscar, mas perdeu para “O Segredo de Brokeback
Mountain”. Ele é também autor do celebrado texto de “Angels in America”.
Como é comum em sua carreira
brilhante, Daniel Day Lewis se entregou completamente para a criação de seu
Lincoln, e o resultado não poderia ser melhor. Lewis nos dá vida completa à
imagem que temos do grande Presidente americano, o 16º , amado por gerações
desde seu assassinato, poucos dias após o término da guerra civil americana,
que opôs o Norte ao Sul e deixou
milhares de mortos, e poucos meses após a aprovação da 13ª Emenda à
Constituição, que aboliu a escravatura nos EUA. Cada gesto, cada olhar, cada
silêncio, cada palavra - e são muitas –
tudo foi meticulosamente estudado pelo ator que já tem 2 Oscar no currículo (
“Meu Pé Esquerdo” e “Sangue Negro”) e está a caminho do terceiro, sempre
merecidamente. Sinais de seu favoritismo foram confirmados pelo Globo de Ouro
como Melhor Ator Dramático, entregue no dia 13 de janeiro, e pelo SAG (Screen
Actors Guild) de Melhor Ator, que ele venceu no domingo passado.
Tommy Lee Jones é outra
força de “Lincoln”. Ele está magnífico como o abolicionista Thadeus Stevens, e
sua presença ilumina todas as cenas de que participa, principalmente as dos
debates no Congresso, quando republicanos e democratas se enfrentam em
inflamados duelos verbais na discussão da aprovação da 13ª Emenda. Jones, em
1994, ganhou o Globo de Ouro e o Oscar de melhor ator coadjuvante por “O
Fugitivo”. Na semana passada, junto com Lewis, ganhou o SAG de ator coadjuvante
por “Lincoln”.
Para compor a problemática e
depressiva esposa de Abraham Lincoln, Mary Todd Lincoln, Spielberg fez outra
escolha acertada, a de Sally Field, também já premiada como melhor atriz, tanto
no Globo de Ouro como no Oscar, em “Norma Rae”, de 1979, e “Um Lugar no
Coração” , de 1984.
“Lincoln”, com certeza, não
agradará tanto às grandes plateias quanto os filmes mais amenos e de grande
popularidade do diretor de “Tubarão”, “ET” e “Indiana Jones”. Aqui estamos
diante de uma obra sóbria, construída sobre um roteiro que privilegia os
diálogos, as discussões, as ideias em detrimento do espetáculo. Tudo é muito
discreto, para que não se fuja à proposta. Contudo, o filme é também grandioso
em sua forma, com excelente direção de arte, figurinos, fotografia, trilha
sonora, tudo o que dá a “cara” de superprodução a um filme. Não se podia
esperar outra coisa de Spielberg e aí ele não decepciona. Um dos mais aclamados
diretores americanos agora também espera pelo seu terceiro Oscar. Ele o levou
para casa duas vezes, assim como o Globo de Ouro, em dois grandes dramas de
guerra, “A Lista de Schindler”, em 1994, e “O Resgate do Soldado Ryan”, em
1999.
O grande trunfo de “Lincoln”
é mostrar os bastidores de uma das maiores conquistas do povo americano, a
votação da emenda que colocou fim à escravidão no País. Tudo é revelado com a
solidez de um roteiro magnificamente construído e com o trabalho minucioso e
bem dirigido de um elenco talentosíssimo. Aliás, nesse quesito, “Lincoln”
perdeu o SAG para o elenco de “Argo”, dirigido por Ben Affleck e que concorre ao
Oscar em sete categorias, incluindo a de melhor filme, mas com Affleck fora das
indicações para melhor direção. Um grande passo de “Argo”, com certeza.
Raras vezes o cinema nos deu
mergulhos tão profundos de seus intérpretes em suas personagens como Daniel Day
Lewis faz em “Lincoln”. Recentemente Marion Cotillard deu vida transbordante a
Edith Piaf em “Piaf – Um Hino ao Amor” e
Meryl Streep recompôs, com assombrosa perfeição, a Primeira-Ministra Britânica
Margaret Thatcher em “A Dama de Ferro”. As duas levaram o Oscar. Não é exagero
dizer que Lewis, com sua impressionante criação de Lincoln, faz com que o
presidente fale agora com todo o mundo,
através deste filme. E é como se fosse ao vivo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário