Por José Farid Zaine
Twitter: @faridzaine
Facebook: Farid Zaine
Quando vi “Les Misérables” no
Teatro Abril (hoje Teatro Renault) em São Paulo, fiquei fascinado: era uma
montagem ousada para os padrões brasileiros, e praticamente inaugurava a era
dos grandes musicais no Brasil, a ponto de a Capital Paulista ser chamada de
“Broadway tupiniquim”. Voltei outras três vezes para ver o musical sobre a obra
de Victor Hugo, cada vez mais encantado com os talentosos atores e atrizes de
nosso país que chamaram a atenção de todo o mundo das artes cênicas pela
qualidade de sua formação.
Esperei com ansiedade a estreia do filme de
Tom Hooper, agora apresentado nos cinemas brasileiros com o título traduzido,
“Os Miseráveis”. Não precisava. O título original em francês é charmoso e
extremamente conhecido. Este lindo musical, baseado numa das mais famosas e lidas
obras da literatura universal, é um retorno às emoções experimentadas por quem
o viu no Teatro, e para quem não viu a peça é uma grande oportunidade de curtir
como essa história humana e comovente ficou transformada em música e belas
imagens. O filme está indicado ao Oscar em 8 categorias e vai ganhar, com
certeza, na de atriz coadjuvante para Anne Hathaway. É uma das barbadas deste
ano. Outra categoria em que é fortíssimo candidato é a de Mixagem de Som. Tom
Hooper optou pela dificílima tarefa de fazer o elenco cantar no momento da
gravação da cena, apenas com o playback instrumental nos ouvidos, quando o
comum é fazer a gravação no conforto de um estúdio, e depois deixar os atores e
atrizes dublarem a própria voz. Na maioria das cenas isso funcionou, porque o
elenco pôde dar maior carga emocional às interpretações. A sequência que
garantirá a Anne Hathaway o seu Oscar é aquela em que ela canta a canção mais
conhecida de “Os Miseráveis”, que é “I Dreamed a Dream”, a mesma que tirou
Susan Boyle do anonimato e a levou para o enorme sucesso que tem vivido em todo
o mundo.
Com sua belíssima e triste
história, com fotografia e direção de arte excelentes, música grandiosa e
momentos arrebatadores, como quando o coro entoa “Do You Hear the People Sing?”, “Os Miseráveis”
dá um sopro de vida ao gênero musical, cada vez mais escasso no cinema
contemporâneo. Tom Hooper, que ganhou o Oscar de melhor diretor por “O Discurso
do Rei”, também eleito Melhor filme em 2011, deixou um pouco o lado fleumático
comum dos britânicos, presente no seu “Discurso” e mergulhou mais na paixão que move os
franceses, apesar do filme ser em língua inglesa e com elenco de origens
diversas.
O LADO BOM DA VIDA
“Every cloud has a silver lining”! Encontrei
a frase pesquisando o significado do título original desse filme que também
estreou na semana passada. Originalmente “O Lado Bom da Vida” é chamado “Silver
Linings Playbook” , significando algo como existir sempre um lado bom nas
coisas ruins que acontecem com as pessoas, assim como um raio de luz na
tempestade...O filme, dirigido por David
O. Russel, é bom, tem ritmo e leveza,
embora seja bem previsível e nada excepcional. Mas agrada principalmente pela
força do seu elenco, onde se destacam Bradley Cooper e Jennifer Lawrence, os
dois indicados aos prêmios de interpretação principal, além de Robert de Niro e
Jacki Weaver indicados a melhores coadjuvantes. Um feito considerável e justo,
já que o elenco é realmente afinadíssimo. Se não fosse o ano em que há uma arrasadora unanimidade em torno da
interpretação de Daniel Day Lewis em “Lincoln”, o ano seria de Bradley Cooper. Jennifer
Lawrence, por sua vez, tem sido apontada como grande favorita, batendo outras
quatro concorrentes que tiveram interpretações irrepreensíveis, todas dignas de
premiação, da mais nova indicada de todos os tempos, Quvenzhané Wallis, de
apenas 9 anos (Indomável Sonhadora) à mais velha atriz indicada, Emmanuelle
Riva, que completará 86 anos na noite do Oscar, 24 de fevereiro ( Amor),
passando por Jessica Chastain ( A Hora Mais Escura) e Naomi Watts (O
Impossível).
Dois justificáveis motivos para
correr para um bom cinema: O musical “Os Miseráveis” e a comédia dramática “O
Lado Bom da Vida”. Em ambos veremos dramas, paixões, miséria, sofrimento,
alegria e superação. Com ambos aprenderemos que mesmo as mais escuras
tempestades podem ser domadas por raios
de esperança e solidariedade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário