sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

UM FILME CHAMADO “AMOR”



Por José Farid Zaine
Twitter: @faridzaine
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“Amor” (Amour) , do diretor austríaco Michael Haneke, estreia hoje nos cinemas brasileiros. Trata-se de uma coprodução entre Àustria, França e Alemanha, mas representa a Áustria no Oscar.  É um belíssimo drama sobre um casal de idosos, professores de música aposentados, e seu cotidiano tranquilo que é quebrado por grave doença da mulher. O homem, Georges, precisará colocar à prova toda sua capacidade de doação, todo seu arsenal de carinho e atenção, todo o seu tempo e paciência para minimizar o sofrimento da mulher amada, Anna.



A história, tratada com excepcional realismo e com a crueza necessária, vem conquistando a crítica do mundo inteiro:  “Amor” ganhou a Palma de Ouro em Cannes em 2012, acaba de levar o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e está indicado em cinco categorias do Oscar, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e melhor atriz para Emanuelle Riva, indicada para praticamente todos os prêmios do cinema em relação a 2012.

Com quase 86 anos, Riva tem sido festejada por sua impressionante interpretação de Anna,  mulher que sofre dois derrames e fica presa a um leito, dependendo inteiramente de outras pessoas, principalmente do marido, Georges,  vivido com intensidade ímpar por outro “monstro sagrado” do cinema francês, Jean-Louis Trintignant. Para completar, a filha do casal é interpretada por Isabelle Huppert, outro grande nome do cinema francês contemporâneo. Huppert foi a intérprete de um dos melhores filmes do ano, o drama baseado em fatos reais “Em Nome de Deus” (Captive), dirigido pelo filipino Brillante Mendoza.

Impossível falar de Emmanuelle Riva sem mencionar o clássico “Hiroshima, Meu Amor” (1959), que a projetou internacionalmente , um filme indispensável, produção franco-japonesa dirigida por Alain Resnais, com roteiro de Marguerite Duras.

Jean-Louis Trintignant , aos 82 anos, é  o par perfeito para Riva em “Amor”. A carreira dele marcou o cinema francês desde “...E Deus Criou a Mulher”, dirigido por Roger Vadim e ao lado da estrela que surgia, Brigitte Bardot! Seu maior  sucesso internacional viria com o belo “Um Homem, Uma Mulher” (1966), de Claude Lelouch, em que ele fez a parceria inesquecível com Anouk Aimée. “Um Homem, Uma Mulher” conquistou público e crítica no mundo inteiro, sendo o vencedor da Palma de Ouro em Cannes e do Oscar de Melhor Filme  estrangeiro, feito  que provavelmente será repetido por “Amor”. Para o público brasileiro “Um Homem, Uma Mulher” tem um ingrediente a mais para completar o prazer de ver o filme: na trilha sonora está o “Samba da Bênção”, de Vinícius de Moraes e Baden Powell.

Michael Haneke, o diretor austríaco mais conceituado na esfera cinematográfica atualmente, com talento reconhecido pelos críticos de todo o mundo, já nos trouxe beleza e inquietação com o magnífico “A Fita Branca”, premiado com a Palma de Ouro em Cannes em 2009 e indicado ao Oscar 2010 de Melhor Filme estrangeiro, prêmio que perdeu para “O Segredo dos Seus Olhos”, da Argentina, ótimo filme, mas muito inferior .  Em “Amor”, Haneke, além de diretor,  é  autor do roteiro, categoria também indicada ao Oscar.

É muito natural que esperemos que um filme chamado “Amor” seja romântico, doce, suave...e então nos surpreendemos com a dureza da história concebida por  Haneke e a forma com que ele a conduz colocando-nos diante da vida como ela é, diante do tempo implacável e da morte inexorável,  não nos poupando da carga pesada de acompanhar o sofrimento, tanto da mulher condenada pela doença, quanto do marido que, obstinadamente, cuida dela, sabendo que seu estado é irreversível.  Estamos, com certeza, assistindo à mais profunda declaração de amor, mesmo que esta seja sem ramalhetes de flores, violinos ao fundo ou versos inflamados. Sem  nada disso, a obra de Haneke é um filme de amor. Um duro, doloroso, mas belíssimo e extraordinário filme  de amor!

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