Vejam, abaixo, coluna CineART publicada na Gazeta de Limeira do último sábado, 8 de janeiro de 2011:
TIZUKA NÃO FAZ MILAGRE
Por José Farid Zaine
farid@limeira.com.br
Twitter: @faridzaine
No artigo da semana passada falei sobre as grandes bilheterias do ano, e entre elas estavam as de três filmes nacionais, sucessos incontestáveis e marcos de uma nova era para o cinema brasileiro que pretenda atingir grandes plateias. Pois o primeiro filme que eu vejo em 2011 no cinema é um filme brasileiro, de uma diretora que eu conheci há alguns anos, Tizuka Yamasaki. Das mãos dela, numa noite em Atibaia, na final do Festival Nacional de Música pela Paz, eu recebi o troféu dado a minha música, em parceria com Joaquim Prado, cantada pelo grupo Avena, “Nunca Mais”, que fala do período de terror das ditaduras militares no Brasil, Chile e Argentina. Foi uma emoção para ser lembrada para sempre.
Tizuka Yamasaki já nos deu Gaijin, o primeiro e o segundo. Gosto dos dois. Mas o currículo da diretora e roteirista é recheado de Xuxas e Trapalhões, daí a irregularidade de sua filmografia. Nada contra filmes infantis bem populares, claro, desde que tenham qualidade e respeitem a inteligência das crianças. O último de Xuxa, por exemplo, que Tizuka dirigiu, recebeu críticas avassaladoras. Inspirado em “O Mistério de Feiurinha”, de Pedro Bandeira, um ótimo ponto de partida, o filme foi massacrado e até provocou uma saia-justa, que resultou num pedido de desculpas do escritor, por ter dito que Sasha, a filha de Xuxa, não tinha talento.
“Aparecida – O Milagre”, apesar de ter consumido mais de R$5 milhões na produção, parece um filme tecnicamente mais pobre do que nossos atuais campeões, como se tivesse sido feito às pressas. No lançamento, 300 cópias, menos da metade que “Tropa de Elite 2”, e um público frustrante nos primeiros dias de exibição. Segundo notícias, o filme teria a intenção de atrair espectadores católicos, principalmente os devotos de Nossa Senhora Aparecida, que são milhões, no maior país católico do mundo, depois do extraordinário sucesso dos espíritas “Chico Xavier” e “Nosso Lar”, que vieram na esteira do tosco “Bezerra de Menezes”, que levou mais de meio milhão de pessoas às salas exibidoras. O filme de Tizuka tem bons momentos, alguns realmente comoventes, mas em geral esbarra num quase amadorismo, com exageros desnecessários, como na sequência final, até constrangedora.
O elenco de “Aparecida” é composto por estrelas como Murilo Rosa, Maria Fernanda Cândido, Jonatas Faro e Bete Mendes, todos em interpretações estereotipadas, que deixam a primeira parte do filme, com atores e atrizes na maioria desconhecidos, mais interessante. Mesmo Leona Cavalli, que é uma grande atriz, aqui rende pouco. A ideia de inclusão de um grupo de teatro de rua que conta a história de Nossa Senhora Aparecida é boa, mas mal aproveitada. Naquela região há ótimos grupos, alguns deles já tendo participado do Festival Nacional de Teatro de Limeira, um deles na Praça Toledo Barros, com os atores e atrizes em pernas de pau, e uma bela cena com Nossa Senhora Aparecida.
Gostaria de falar maravilhas desse filme, mas não é o caso. Apesar de tudo, acho que as pessoas devem ir vê-lo, mais como um exercício de análise da própria fé. Afinal, é sempre bom refletir sobre o que acreditamos e o que deixamos de acreditar, e o filme de Tizuka até nos fornece bom material para essa reflexão.
Filmes sobre milagres são recorrentes no cinema, e ao comentar este, lembro-me de coisas bonitas que marcaram minha infância, como os filmes de Pablito Calvo (Marcelino Pão e Vinho) e Joselito (Saeta) e suas ingênuas e comoventes histórias. Um outro, que leva o título simplesmente de “O Milagre” (The Miracle, produção de 1959, direção de Irving Rapper), foi mais marcante. Ali estava Carrol Baker, belíssima, fazendo uma noviça que fugia do convento e ia se entregar a aventuras amorosas, uma delas com o galã da época, que depois seria um dos 007, Roger Moore. Na ausência da noviça, desaparece a imagem de uma santa do convento, que tomava o lugar dela, assim ninguém notaria a falta da jovem. Romântico ao extremo, o filme fez enorme sucesso popular. Para quem gosta, então, de aventuras românticas e milagres, um desafio: quem consegue um DVD desse filme? Se alguém conseguir, estará fazendo quase um milagre. Tizuka Yamasaki, infelizmente, não fez.
Por José Farid Zaine
farid@limeira.com.br
Twitter: @faridzaine
No artigo da semana passada falei sobre as grandes bilheterias do ano, e entre elas estavam as de três filmes nacionais, sucessos incontestáveis e marcos de uma nova era para o cinema brasileiro que pretenda atingir grandes plateias. Pois o primeiro filme que eu vejo em 2011 no cinema é um filme brasileiro, de uma diretora que eu conheci há alguns anos, Tizuka Yamasaki. Das mãos dela, numa noite em Atibaia, na final do Festival Nacional de Música pela Paz, eu recebi o troféu dado a minha música, em parceria com Joaquim Prado, cantada pelo grupo Avena, “Nunca Mais”, que fala do período de terror das ditaduras militares no Brasil, Chile e Argentina. Foi uma emoção para ser lembrada para sempre.
Tizuka Yamasaki já nos deu Gaijin, o primeiro e o segundo. Gosto dos dois. Mas o currículo da diretora e roteirista é recheado de Xuxas e Trapalhões, daí a irregularidade de sua filmografia. Nada contra filmes infantis bem populares, claro, desde que tenham qualidade e respeitem a inteligência das crianças. O último de Xuxa, por exemplo, que Tizuka dirigiu, recebeu críticas avassaladoras. Inspirado em “O Mistério de Feiurinha”, de Pedro Bandeira, um ótimo ponto de partida, o filme foi massacrado e até provocou uma saia-justa, que resultou num pedido de desculpas do escritor, por ter dito que Sasha, a filha de Xuxa, não tinha talento.
“Aparecida – O Milagre”, apesar de ter consumido mais de R$5 milhões na produção, parece um filme tecnicamente mais pobre do que nossos atuais campeões, como se tivesse sido feito às pressas. No lançamento, 300 cópias, menos da metade que “Tropa de Elite 2”, e um público frustrante nos primeiros dias de exibição. Segundo notícias, o filme teria a intenção de atrair espectadores católicos, principalmente os devotos de Nossa Senhora Aparecida, que são milhões, no maior país católico do mundo, depois do extraordinário sucesso dos espíritas “Chico Xavier” e “Nosso Lar”, que vieram na esteira do tosco “Bezerra de Menezes”, que levou mais de meio milhão de pessoas às salas exibidoras. O filme de Tizuka tem bons momentos, alguns realmente comoventes, mas em geral esbarra num quase amadorismo, com exageros desnecessários, como na sequência final, até constrangedora.
O elenco de “Aparecida” é composto por estrelas como Murilo Rosa, Maria Fernanda Cândido, Jonatas Faro e Bete Mendes, todos em interpretações estereotipadas, que deixam a primeira parte do filme, com atores e atrizes na maioria desconhecidos, mais interessante. Mesmo Leona Cavalli, que é uma grande atriz, aqui rende pouco. A ideia de inclusão de um grupo de teatro de rua que conta a história de Nossa Senhora Aparecida é boa, mas mal aproveitada. Naquela região há ótimos grupos, alguns deles já tendo participado do Festival Nacional de Teatro de Limeira, um deles na Praça Toledo Barros, com os atores e atrizes em pernas de pau, e uma bela cena com Nossa Senhora Aparecida.
Gostaria de falar maravilhas desse filme, mas não é o caso. Apesar de tudo, acho que as pessoas devem ir vê-lo, mais como um exercício de análise da própria fé. Afinal, é sempre bom refletir sobre o que acreditamos e o que deixamos de acreditar, e o filme de Tizuka até nos fornece bom material para essa reflexão.
Filmes sobre milagres são recorrentes no cinema, e ao comentar este, lembro-me de coisas bonitas que marcaram minha infância, como os filmes de Pablito Calvo (Marcelino Pão e Vinho) e Joselito (Saeta) e suas ingênuas e comoventes histórias. Um outro, que leva o título simplesmente de “O Milagre” (The Miracle, produção de 1959, direção de Irving Rapper), foi mais marcante. Ali estava Carrol Baker, belíssima, fazendo uma noviça que fugia do convento e ia se entregar a aventuras amorosas, uma delas com o galã da época, que depois seria um dos 007, Roger Moore. Na ausência da noviça, desaparece a imagem de uma santa do convento, que tomava o lugar dela, assim ninguém notaria a falta da jovem. Romântico ao extremo, o filme fez enorme sucesso popular. Para quem gosta, então, de aventuras românticas e milagres, um desafio: quem consegue um DVD desse filme? Se alguém conseguir, estará fazendo quase um milagre. Tizuka Yamasaki, infelizmente, não fez.
Assessoria Parlamentar do Vereador José Farid Zaine (PDT)
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