Por José Farid Zaine
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Esse Padre de que falo é o do filme homônimo em cartaz nos cinemas do Brasil, e que tem o título original de “Priest”, o mesmo de um ótimo drama de 1994, aqui chamado “O Padre”. Não é apenas o artigo no nome que faz a diferença, que é muito, muito grande. Primeiro que o filme de 1994, dirigido por Antonia Bird, é um exemplar digno do melhor cinema britânico, com uma história arrojada e corajosa. Nela, um padre vive em conflito com a descoberta de sua homossexualidade, as dúvidas que enchem seu coração e o que deve fazer com um segredo de confissão, em que fica sabendo de um caso de abuso sexual. Forte, tenso.
Esse “Padre” de 2011, dirigido por Scott Charles Stewart, é apenas mais um filme de terror juvenil, inspirado em história em quadrinhos. O visual é, como sempre, carregado, dark. Os atores falam sussurrando. A história é sobre um Padre que, num futuro onde o mundo foi destroçado por guerras constantes entre humanos e vampiros, numa cidade inteiramente dominada pela Igreja, ousa desafiar o poder de seus superiores para procurar e salvar a sobrinha raptada pelos monstrengos... Tudo é overdose, da fotografia à trilha sonora, até bonita, mas presente com sua pompa durante o filme inteirinho, havendo lugar até para o Réquiem, de Mozart, que não merecia esta, digamos, homenagem. Paul Bettany vive esse Padre estranho. Aliás, ele já tem um padre bem estranho em sua filmografia, o monge mais do que bizarro chamado Silas no filme de Ron Howard “O Código da Vinci”, baseado no Best-seller mundial de Dan Brown. Christopher Plummer, grande ator, está presente num papel quase constrangedor (ele foi o Capitão Trapp, em “A Noviça Rebelde”).
As adaptações de histórias em quadrinhos tem dado ótimos filmes, como o caso de Watchmen, alguns exemplares de Batman e outros super-herois. Aqui o desastre é semelhante ao de outro também em cartaz, o “Thor” dirigido pelo shakespeareano Kenneth Branagh, quem diria. “Thor” é igualmente ruim, com uma overdose de efeitos especiais e uma tenebrosa e brega direção de arte. O ator australiano Chris Hemsworth, convenientemente saradão, contracena com nada mais, nada menos que a vencedora do Oscar por “Cisne Negro”, Natalie Portman. O par não funciona ao ponto de Natalie parecer a tia de Chris...
No final de ambos os filmes, “Padre” e “Thor”, fica clara a ameaça de que novos exemplares virão.
Então, o que fazer para fugir dessas coisas que estão dominando nossas salas exibidoras? Correr para dentro de um caixão, quer dizer, de uma locadora, e de lá sair com a caixinha de DVD ou Blu-Ray de “Enterrado Vivo”. Se a procura é por emoção, suspense, adrenalina, está aí uma boa dica. “Enterrado Vivo” (Buried), filmado nos EUA pelo diretor espanhol estreante, Rodrigo Cortés, tem a ousadia de ter seus quase 90 minutos em um único cenário, aliás mínimo: o interior de um caixão! A filmagem demorou 17 dias e foram utilizados 7 caixões diferentes para compor o espaço diminuto em que se passa a densa história: um caminhoneiro de uma empresa americana contratada para a tal “reconstrução” do Iraque, acorda dentro de um caixão enterrado no solo. Com ele, um isqueiro e um celular que logo toca, avisando que, se não houver pagamento de um resgate, ele morrerá em poucas horas. O ator Ryan Reynolds despiu toda sua vaidade para compor a personagem, e se saiu muito bem. Conhecido pelos dotes físicos, que o colocaram como um dos homens mais atraentes do mundo, segundo pesquisas de revistas femininas, ele dá credibilidade às cenas, deixando verossímeis todos os momentos de angústia, de terror claustrofóbico e da desesperada luta pela sobrevivência. Mas “Enterrado Vivo” não se presta apenas a contar um história inusitada, num único cenário. O propósito do diretor vai mais além: somos mergulhados no drama de uma pessoa comum que vê sua vida destroçada por interesses comerciais e políticos que tornam seres humanos objetos descartáveis.
Quem não se lembra do recente e ótimo “127 horas”, do diretor Danny Boyle, premiado com o Oscar por “Quem Quer ser um Milionário”? A semelhança fica na ousadia de um único ator manter o interesse permanente e o suspense crescente, praticamente num único cenário. Nesse aspecto, “Enterrado Vivo” radicaliza muito mais.
Então, caros leitores e leitoras, para fugir desse Padre caçador de monstrengos pegajosos e da Thor...tura, entrem nesse caixão com Ryan Reynolds. Podem crer, será muito mais emocionante.