terça-feira, 10 de maio de 2011

ÁGUA PARA UM MORTO-VIVO

Por José Farid Zaine

farid@limeira.com.br

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Como havíamos anunciado, estreou na sexta passada o filme “Água Para Elefantes” (Water for Elephants, EUA, 2011), dirigido por Francis Lawrence. O diretor, conhecido pelos filmes de ficção científica “Constantine”, de 2005, e “Eu sou a Lenda”, de 2007, resolveu adaptar para as telas o romance homônimo de Sara Gruen, um grande sucesso de vendas. Para compor o trio central da trama, Lawrence recrutou o vampirinho Robert Pattinson, da saga “Crepúsculo”, a loura vencedora do Oscar Reese Whiterspoon, e o carrasco nazista de “Bastardos Inglórios”, também ganhador da estatueta, Cristoph Waltz. A história é narrada em flash-back por um senhor de 94 anos (o ótimo Hal Holbrook, de 86 anos, indicado ao Oscar por “Na Natureza Selvagem”) que sai de um “lar” para idosos e vai ao encontro de um circo; lá ele contará toda a sua história para um dos donos desse circo. Quando jovem, universitário quase formado em Veterinária, ele vê sua vida mudar radicalmente quando perde os pais num acidente de carro; quase acidentalmente também, mas por força do destino, segundo ele acredita, ele vai parar no trem de um circo , aí fica trabalhando e conhece uma linda loura, encantadora de cavalos, que sofre sob o poder do dono, um homem destemperado e violento. O triângulo se forma, inevitavelmente. Haverá muito sofrimento, muitas dores, num tempo em que os EUA viviam o auge da depressão, o ano de 1931. O circo, refúgio das pessoas assoladas pelo desemprego, pela fome, pela miséria, é a ilusão onde todos tentam se segurar. Para salvação desse onde se passa nossa aventura, quase falindo após a perda de seu grande astro, um cavalo branco, quem surge é uma simpática elefanta, de nome Rosie. Ela conhecerá o amor do mocinho e da mocinha e, claro, os maus tratos abomináveis do vilão. Rosie é um grande achado do filme, e dá a ele momentos de graça e emoção verdadeiros.

Agora chega de contar a história, embora não haja tantos acontecimentos a mais que justifiquem guardar segredos. Enfim, é um filme que se vê com facilidade. O roteiro é bom, garante interesse. A fotografia, a direção de arte, os figurinos e a trilha sonora são plenamente satisfatórios. Um filme de época feito com capricho é sempre gostoso de ver. O problema de “Água Para Elefantes”, é que ele é muito linear, muito previsível e muito água com açúcar. Robert Pattinson disse numa entrevista que estava adorando interpretar um ser humano de verdade, depois de tantas vezes ter ficado preso na pele de um vampiro. O diretor se esqueceu de dizer a ele que, agora, sua personagem precisava realmente “parecer” gente. Pattinson mantém aquele olhar glacial e a expressão de um poste para compor sua personagem, o quase veterinário Jacob Jankowski. Ele passa todo o filme mais parecendo um morto-vivo, precisando do choque de um balde de água gelada para acordar e dar um pouco de vida ao seu sonolento Jacob. Reese Whiterspoon está linda, claro, mas ela também não é nenhuma Jean Harlow, apesar do penteado e dos figurinos remeterem à Vênus Platinada. Até no caso de Cristoph Waltz, aqui repetindo o tipo “mau e asqueroso” que viveu em “Bastardos Inglórios”, de Quentin Tarantino, parece faltar um pouco de tempero...Quem acaba se salvando é mesmo o velhinho Hal Holbrook, a personagem vivida por Pattinson quando jovem. Ele tem um olhar expressivo e uma interpretação bem convincente, que dá pra perguntar: como poderia ter sido tão sonso na juventude?

Com tantas críticas, pode parecer que saí do cinema odiando o filme. Nem tanto. Até gostei. São duas horas que passam rapidamente, não há tédio. O que faltam são saltos de emoção, interpretações mais consistentes e um pouco de pimenta no açucarado romance e nas relações do triângulo amoroso. A história é interessante e o espectador deseja ver o desfecho. Isto somado às qualidades técnicas inegáveis do filme, faz com que seja possível recomendá-lo, e numa avaliação por estrelas, situá-lo numa posição um pouco desconfortável entre duas e três.

Interessante também em “Água Para Elefantes” é o que se mostra do cotidiano de um circo às voltas com a necessidade de público para a sobrevivência dos trabalhadores... e a triste presença de animais, explorados e mal tratados, coisa muito comum nos circos antigos, e que hoje é tão condenada. Lembrei-me do Festival Paulista de Circo, há quatro anos realizado em Limeira: lá não há animais infelizes e subjugados, mas apenas o talento e a garra de artistas que conseguem unir, de forma primorosa, o circo mais tradicional ao mais moderno, sem que precisemos nos deparar a todo momento com aqueles tristíssimos olhares dos bichos adestrados.

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