segunda-feira, 2 de maio de 2011

DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS E UM CASO PERUANO

Por José Farid Zaine

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Estranharam o título? Mas já vai ficar claro. Hoje teremos no Teatro Vitória a segunda apresentação da peça “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, com um elenco de estrelas: a linda e ótima atriz Carol Castro, atualmente na novela “Morde e Assopra”, de Walcyr Carrasco, é Dona Flor, Marcelo Faria, astro de tantos sucessos globais, é Vadinho e Duda Ribeiro, presença constante nas novelas da Globo, é o farmacêutico Teodoro...Trata-se de uma adaptação para o palco do mais do que célebre romance de Jorge Amado, levado às telas nos anos 1970 com Sônia Braga, José Wilker e Mauro Mendonça, com direção de Bruno Barreto. Eis aí uma dica para uma sessão doméstica do recordista de bilheteria do cinema brasileiro, até a chegada de “Tropa de Elite 2”. Vale a pena ver ou rever, para uma gostosa comparação. Quem leu o livro e assistiu ao filme certamente terá interesse em ver como essa conhecida e deliciosa história ficou no teatro. Outra linguagem já foi também usada para dar vida a personagens tão maravilhosas de Jorge Amado: a da TV, na minissérie da Globo com Giulia Gam. O filme e a minissérie são fáceis de encontrar nas locadoras ou nos sites de vendas de DVDs.

Na semana passada vi um filme muito bonito, uma coprodução do Peru com a Colômbia. Alguns comentários consideraram o filme uma espécie de “Dona Flor” às avessas... Trata-se de “Contracorrente”, o filme indicado pelo Peru para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro no ano passado (Não confundir com o policial americano “Contra Corrente”, já disponível em DVD). Como no caso do Brasil, não chegou a figurar entre os cinco finalistas, mas ganhou muitos prêmios e aplausos no mundo todo. A história é a de um pescador de uma pequena vila litorânea do Peru, casado e com a mulher grávida, que se envolve num romance com um pintor que se instala no local, vindo de outra cidade. Numa reviravolta do roteiro, o pescador terá que continuar seu romance com o espírito do pintor, convivendo com ele e com a esposa, dividido entre dois amores, estando aí a semelhança com nossa Dona Flor, mergulhada na tórrida paixão por Vadinho e sustentada pelo amor seguro e tranqüilo do farmacêutico Teodoro. O diretor peruano Javier Fuentes-León realmente demonstra conhecer nosso famoso romance baiano: uma das personagens tem o nome de Dona Flor. Ele também deixa transparecer seu gosto pelas novelas brasileiras, “as melhores” na fala de uma personagem que assiste a uma reprise de “Direito de Amar”, com Lauro Corona. Como o filme trata de um caso de amor homossexual, parece clara a intenção de mostrar Corona, que morreu de AIDS enquanto fazia a novela. “Contracorrente” é uma grata surpresa de um país cuja cinematografia não é muito conhecida, e que recentemente teve uma projeção internacional através do longa “A Teta Assustada”, que chegou à indicação ao Oscar de Melhor Filme estrangeiro, e arrebatou prêmios mundo afora, incluindo o Urso de Ouro no Festival de Berlim. A estranheza de “A Teta Assustada” aqui é substituída por leveza e emoção. “Contracorrente” fala da influência da religião e dos costumes locais sobre a vida sexual das pessoas, a existência de um forte preconceito em regiões mais rudes e do dilema instalado na mente de quem questiona a própria condição. O filme é político por esse aspecto, mas está longe de ser panfletário. O romance gay é mostrado sem véus, mas não há apelação nem mau gosto. Pelo contrário, há uma beleza permeando todo o filme, também pela excelente fotografia e pelas inusitadas locações na costa peruana. A música conduz muito bem a narrativa, tornando a obra emocionante, sem ser melodramática ou piegas. O tema musical “Aunque no sea Conmigo”, interpretado por Café Tacuba y Celso Piña, é muito bom e pode ser ouvido no trailer disponível no Youtube.


"Dona Flor e Seus Dois Maridos"

Estrelado por um trio central muito bom (Cristian Mercado como o pescador Miguel, o galã colombiano Manolo Cardona como fotógrafo e pintor Santiago e Tatiana Astengo como Mariele, a esposa), o filme agrada até mesmo às plateias não muito acostumadas com o tema. No Festival Mix da Diversidade Sexual, em São Paulo, no ano passado, arrebatou o público, sendo considerado por ele o melhor da mostra.

Bom, caros leitores, dicas para todos os gostos: se preferem o tempero baiano, a brasilidade e a sensualidade tropical, basta alugar “Dona Flor”, em sua versão de longa metragem para as telonas ou minissérie para a telinha; se o caso for ousar e ver uma história de amor gay com toques de sobrenatural, é preciso ir a um cinema em São Paulo onde esteja sendo exibido “Contracorrente”.

De qualquer maneira, a principal dica de hoje é mesmo ir ao Teatro Vitória, aqui em Limeira, para ver de perto Dona Flor e Seus Dois Maridos, e assim compreender melhor porque o mundo inteiro se interessou tanto pelo seu fantástico caso de amor.



Contracorrente


Assessoria Geral de José Farid Zaine

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