sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

SELTON MELLO CONTRA OS VAMPIROS

Por José Farid Zaine

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“Amanhecer – Parte 1”, o início do fim da saga “Crepúsculo”,dirigido por Bill Condon, está abarrotando os cinemas do Brasil com legiões de jovens fãs do casal Bella Swan e Edward Cullen, interpretados por Kristen Stewart e Robert Pattinson. O encanto provocado pelos livros de Stephenie Meyers em multidões de leitores por todo o mundo atingiu ainda maiores proporções nas telas. Fascinados por terror, os jovens encontraram em “Amanhecer”, mais do que nos outros filmes anteriores, elementos para se apaixonarem ainda mais: o terror persiste, as lutas entre lobos e vampiros estão lá...e , bem à mostra, os músculos de Taylor Lautner. Mas estão também agora tórridas cenas de sexo entre os dois protagonistas, um casal que na maior parte das cenas de todos os filmes da saga, não consegue química, liga. Nesta primeira parte do final da saga, entretanto, eles ficam um pouco mais interessantes, por conta do casamento – que tem cenas plasticamente lindas – e da gravidez de Bella, que faz lembrar “O Bebê de Rosemary” sem jamais, claro, ter um mínimo de seu suspense e de sua sufocante tensão.


O diretor deu ao casal uma lua de mel invejável num lugar paradisíaco, que logo se reconhece como Rio de Janeiro pelo Cristo Redentor e os arcos da Lapa. A tentativa de exibir o jeito carioca de ser, com o carnaval e a sensualidade solta pelas ruas ficou rigorosamente ridícula. Como conferir a um ignorante total a trilha sonora de um filme que tem passagem pelo Brasil, sem que o autor tivesse a mínima noção de música popular brasileira? Como chamar aquilo que ele coloca nas cenas do carnaval, um samba americano com toques latinos? Ah, claro, os caseiros do magnífico lugar para o romance de Bella e Edward são brasileiros, falam português, são feios e com cara de feiticeiros, ele quase um bruxo velho e ela uma índia com poderes sobrenaturais. Clichês horrorosos para dar uma imagem feia e distorcida da cultura brasileira. Já Robert Pattinson, o vampirinho branquelo de olhos vermelhos, fala um portunhol risível, absolutamente desastroso. Enfim, é preciso ver “Amanhecer” para entender o que buscam nossos jovens no cinema, esses mesmos que também lotam as sessões de “Pânico”, “Premonição”, “Jogos Mortais” e derivados.


Onde não falta cultura brasileira é no filme de Selton Mello, estrelado por ele, “O Palhaço”. Selton é um grande ator e o filme é muito bonito. Tem ótima fotografia, direção de arte apropriada, trilha sonora linda e um elenco correto. Paulo José faz o pai de Selton, e os dois são palhaços em um circo mambembe. Em suas andanças pelo interior de Minas Gerais, numa viagem interminável, o circo vai, aos trancos e barrancos sobrevivendo, levando arte e alegria ao povo. Mas o que faria de Pangaré, o palhaço vivido por Selton Mello, um palhaço triste? A resposta não será muito convincente. Falta uma certa consistência ao roteiro, uma verdade. Em muitos momentos o filme soa falso, forçado. Há sequências muito bonitas e bem elaboradas, claro, mas sempre parece faltar alguma coisa. No elenco o destaque é mesmo para Selton, um ator maravilhoso. Talvez tivesse faltado a ele também um olhar de fora, já que ele mesmo é o diretor, e um ator precisa de direção.


Em “O Palhaço” há um destaque para Moacyr Franco, numa sequência impagável como o delegado. É pequena mas é ótima a participação também de Fabiana Carla.


“O Palhaço” tem graça e leveza, mas é um filme triste, todo ele pintado pela melancolia de Pangaré e seus sonhados ventiladores.


“O gato bebe leite, o rato come queijo...e eu sou um palhaço”, ensina o palhaço-pai, mandando essa didática mensagem à plateia: ninguém escapa da própria natureza. Pangaré sofrerá para chegar a essa conclusão, mas chegará.


De qualquer forma, é sempre bom ver um filme nacional de qualidade roubando uma significativa fatia do público de “Amanhecer”, num corajoso lançamento simultâneo. Com muito menos cópias, “O Palhaço” tem feito bonito nas bilheterias. É a luta desigual de nosso querido Selton contra os vampirinhos crepusculares que agora chegam ao amanhecer.

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