sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

UMA SEPARAÇÃO QUE APROXIMA



Por José Farid Zaine

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O grande público não está habituado a filmes falados em línguas orientais, que causam certo estranhamento, apesar da beleza, da sonoridade que elas tem...Filmes iranianos, cuja língua é o persa (ou farsi), há um tempo, ganharam notoriedade nos festivais em todo o mundo, ganhando a crítica e um público restrito. Criou-se até um rótulo, um preconceito: ver esses filmes só seria para os frequentadores de festivais e mostras de cinema, porque o espectador comum morreria de tédio com eles...Pois quem quiser desmanchar definitivamente essa imagem precisa ver, com urgência, “A Separação”, magnífico drama iraniano dirigido por Asghar Farhadi. O filme, além de jamais ser tedioso ou lento, é um exemplo de cinema bem acabado, inteligente, ágil, com um roteiro primoroso que prende o espectador da primeira à última cena, merecidamente indicado ao Oscar nessa categoria.


A história contada em “A Separação” é a de um casal, Simin (Leila Hatami) e Nader (Peyman Moadi), que está se divorciando. As primeiras imagens já nos mostram os dois conversando com um juiz (que não aparece), num diálogo bastante esclarecedor, que não só nos coloca diante da situação familiar do casal, como nos revela o sistema judiciário iraniano, arcaico e dominador. Simin deseja viajar para fora do País, e com ela levar Termeh, a inteligente filha de onze anos, interpretada por Sarina Farhadi...sim, o diretor é pai dela; Nader, que a princípio iria junto, não quer ir mais por conta do pai, que tem Alzheimer e precisa de cuidados. Daí a proposta do divórcio, pois dessa forma a mulher poderia viajar e levar com ela a filha. Daí também o conflito, pois o pai não deseja separar-se dela. Um novo casal entra na história: Nader contrata uma empregada, mas o marido dela não sabe que ela vai trabalhar fora; grávida, ela vai cuidar do pai de Nader, mas sua forte religiosidade a impede de agir sem antes consultar alguém que a oriente. Ela é Razieh (Sareh Bayat) e seu marido é Hodjat (Shahab Hosseini), e eles tem uma filha pequena, Somayeh (Kimia Hosseini), cujo olhar é o espelho dos dramas vividos pelos adultos. A entrada de Razieh na história desencadeia uma sequência de acontecimentos que não dá para contar, para que não se perca nada do precioso roteiro, sabiamente concebido da primeira cena à desconcertante e instigante sequência final.


O que é a verdade? O que se esconde atrás de cada gesto, de cada olhar? Qual o poder da palavra, quando é bem colocada num contexto? Numa roda viva impressionante somos lançados a um remoinho de emoções e de expectativas, dentro de um cenário que, aos poucos, vai se tornando familiar, universal, apesar de todas as diferenças culturais, políticas e religiosas de um país que parece tão distante de nós...Mulheres cobertas pelo xador, desde a infância, regras religiosas rígidas, comportamentos masculinos e femininos delineados e rigorosos, tudo, enfim, o que norteia uma teocracia, está lá, no filme de Farhadi; ele foi capaz de derrubar a barreira da língua e dos costumes para nos introduzir por completo dentro de sua história e seus cenários. E o fez de forma tão magnífica, tão cinematograficamente acertada, que uma chuva de prêmios e indicações ao redor do mundo vem fazendo crescer o interesse pelo filme, a ponto dele precisar ser cauteloso até com seus discursos, para não ser alvo da censura e retaliações por parte do governo iraniano. “A Separação” se transformou num grande sucesso popular no Irã, levando mais de três milhões de espectadores aos cinemas de lá. Esse número deve aumentar muito depois que o filme ganhou o Globo de Ouro de Melhor Filme em Língua Estrangeira ,e após ter sido o grande vitorioso no Festival de Berlim, de onde saiu com o Urso de Ouro de Melhor filme, e ainda teve o elenco praticamente todo premiado (os dois casais dividiram os prêmios de melhor ator e melhor atriz). É quase certa a premiação no Oscar como melhor filme em língua estrangeira, porque dificilmente um outro filme será tão arrebatador quanto este, neste ano. E a indicação para melhor roteiro é o mais evidente sinal de que isso acontecerá.


Se há uma separação que merece ser celebrada, é esta, porque nos permite a aproximação com um cinema que vem de longe, mas que felizmente está ficando cada vez mais perto de nós.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

SOBRE CAVALOS E ESPIÕES


Por José Farid Zaine

farid.cultura@uol.com.br

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A temporada cinematográfica que começa em janeiro é sempre muito boa. O cardápio é variado, eclético, e o mundo se agita para saborear as novidades, tudo em função da noite mágica que se repete todo ano, há 84 anos, em que se dá a entrega do Oscar. Pois bem, do Globo de Ouro, o segundo prêmio em prestígio, às dezenas de listas de melhores e premiações de todo tipo, tudo é feito para ver quem mais se aproxima do Oscar. Não há quem tire da estatueta dourada o status de maior, mais cobiçado e mais esperado filme do ano. No Brasil, as estreias acontecem bem em cima da hora, já que as indicações são anunciadas no dia 24 de janeiro e a entrega do Oscar no dia 26 de fevereiro. Neste ano, uma novidade: não será obrigatório haver dez indicados na categoria principal, a de Melhor Filme, podendo esse número variar entre 5 e 10. Invariavelmente, a crítica internacional, os sites especializados e os cinéfilos do mundo todo já se movimentam em torno dos favoritos. Na semana passada vi uma estreia e uma pre-estreia de dois filmes que devem estar, de alguma forma, entre os indicados em algumas categorias. O primeiro deles, que estreou em todo o País na sexta-feira passada é o novo filme dirigido por Steven Spielberg, “Cavalo de Guerra” (War Horse). A guerra é um tema recorrente na obra de Spielberg. Ela vem misturada com sentimentos e olhares da infância, como aconteceu em “O Império do Sol”, um dos meus favoritos do gênero, ou explosiva como em “O Resgate do Soldado Ryan”, ou ainda adulta e comovente como em “A Lista de Schindler”. Em “Cavalo de Guerra”, a amizade profunda entre um cavalo e um menino que o viu nascer é levada de forma épica, com fotografia arrebatadora, direção de arte magnífica reconstruindo as paisagens dominadas pela guerra de 1914 e a música característica de John Williams, com uma orquestração carregada de cordas para acentuar os momentos mais comoventes e provocar lágrimas. Claro, a música é linda... O cavalo em questão, chamado Joey, vive uma aventura de conquistas e sofrimentos, da salvação da fazenda do dono aos momentos de dor vividos no front. A insanidade e a crueldade da guerra são agora realçadas pelo enfoque dado aos animais, especialmente aos cavalos que puxam tanques e artefatos de guerra, quase sempre até a morte. O estreante Jeremy Irvine é o intérprete de Albert, o garoto que transforma Joey num cavalo chamado de “milagroso”. O outro destaque do elenco é a sempre magnífica Emmily Watson. “Cavalo de Guerra” não é uma obra-prima, mas um filme digno e um divertimento garantido pela assinatura de Spielberg.


Nesta sexta estreia em todo o Brasil outro filme que deve merecer a atenção da Academia, principalmente pelo espetacular elenco masculino, com os maiores nomes do cinema inglês da atualidade, incluindo Gary Oldman, John Hurt, Toby Jones e Colin Firth, que ganhou o Oscar de melhor ator no ano passado interpretando, de forma soberba, o Rei George VI, no vencedor “O Discurso do Rei”. Estou falando de “O Espião que Sabia Demais”, que tem o estranho e intrigante título original de “Tinker Tailor Soldier Spy”. O filme é dominado por Gary Oldman, numa interpretação precisa, milimetricamente construída. O roteiro é baseado no livro homônimo de John Le Carré, especialista em histórias de espionagem na Guerra Fria. “O Espião que Sabia Demais” exige uma atenção constante do espectador: aquele que se distrair demais com as pipocas poderá perder o fio da meada de uma trama complexa, intrincada, mas que faz a delícia dos cinéfilos que curtem o gênero. A ação se passa em 1973, e Gary Oldman encarna o espião aposentado George Smiley, que é novamente recrutado para desvendar um grande mistério: quem, dentre os membros que compõem a cúpula do SIS (Secret Intelligence Service), o serviço secreto britânico tratado no filme como o “Circo”. É certo que um deles é um agente duplo, a serviço também dos soviéticos. “O Espião que sabia Demais” é um ótimo filme dirigido pelo sueco Tomas Alfredson, que ganhou notoriedade pelo estranho mas também excelente “Deixa Ela Entrar”, que ganhou versão anglo-americana dirigida por Matt Reeves e exibida com o nome correto: “Deixe-me Entrar”.


Então, caros leitores e leitoras: boas dicas pra quem curte cinema, mas nas telas grandes das salas confortáveis e tecnicamente bem equipadas: A comovente história de um menino e seu cavalo, que passam por todos os tipos de percalços, incluindo uma Guerra Mundial, e as intrincadas histórias de homens envolvidos em outra guerra, suja e sem canhões, entrem nas filas para ver “Cavalo de Guerra” e “O Espião que Sabia Demais”. E comecem a anotar suas apostas...

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Na gruta da Praça Toledo Barros, El Monoloco Bar recebe público diversificado

O El Monoloco Bar, famoso “bar da gruta” de Limeira, localizado na Praça Toledo Barros, no Centro, traz novidades para a população em 2012.

O bar que, para muitos, tem nome difícil, está em funcionamento desde 2010.

Segundo Kevin Gustavo Lopez, um dos sócios do estabelecimento, a novidade para 2012 será com o cardápio. “Espetinhos, lanches, novos drinks e petiscos estreiam em nosso cardápio já neste início de ano”.

Atualmente o carro-chefe do El Monoloco Bar é o pastel acompanhado pelo suco de laranja; mais pedido pelos frequentadores. “O preço acessível e a boa qualidade dos produtos e serviços chamam a atenção de nossos clientes”, conta Lopez.

O prédio do bar chama a atenção de muitos, uma vez que a gruta continua sendo um ponto turístico da cidade, com uma arquitetura peculiar.

Música ao vivo
El Monoloco Bar tem a capacidade para receber 60 pessoas. "A casa fica lotada principalmente de quinta a domingo, quando ocorrem shows ao vivo, com repertório variado, de sertanejo à MPB. A intenção é agradar as pessoas que frequentam o local”, friza Lopez. Neste bar, segundo Lopez, não há cobrança de couvert (valor em dinheiro que se acrescenta à conta pela apresentação artística) e consumação.


O público que frequenta o bar é diversificado, são estudantes, trabalhadores, famílias e jovens. “Pela manhã, o ambiente é bem familiar. Os pais se distraem num ambiente agradável, enquanto seus filhos brincam na praça. Já à noite, o espaço tem maior concentração de jovens”, finaliza Lopez.

O funcionamento do El Monoloco Bar acontece todos os dias (de segunda a domingo), das 9h às 22h30, na Praça Toledo Barros, 164, Centro.


Natália Campos – Estagiária de Jornalismo
Secretaria Municipal de Comunicações
Prefeitura de Limeira
(19) 3404-9622

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

AS SETE MARAVILHAS DE 2011 – PARTE II

Por José Farid Zaine

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Quem pensava que o irrequieto cineasta espanhol Pedro Almodóvar iria sossegar, ou cair na mesmice, depois de seus últimos filmes, foi sacudido por uma grata surpresa. Em 2011 ele nos deu mais uma prova de seu talento, de sua capacidade de surpreender o público. Com seus temperos habituais que incluem muito sexo, histórias mirabolantes, reviravoltas e revelações bombásticas, relações familiares pra lá de complicadas, Almodóvar nos brindou no ano que passou com “A Pele Que Habito”, incursão ao gênero terror misturado com ficção científica, mas com sua marca inconfundível . Seu astro predileto Antonio Banderas vem confirmar essa parceria brilhante como o médico Robert Ledgard, que pesquisa a produção de uma nova pele humana, em experiências nada ortodoxas sob o ponto de vista da ética científica. Sabe-se que o médico, cirurgião plástico conceituado, perdeu a mulher precocemente: ela teria sofrido um acidente de carro, teria tido o corpo inteiro mutilado por brutais queimaduras. Contar mais será estragar o prazer de ver essa história desvendada, bem ao estilo já mostrado em tantas obras do diretor, principalmente “Fale com Ela” e “Tudo Sobre Minha Mãe”.

“A Pele que Habito” é um dos melhores lançamentos nos cinemas em 2011, e fará sucesso nas locadoras, com certeza, dada a legião de fãs que Almodóvar tem no Brasil. Um filme fascinante, irresistível.

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Outro cineasta que nunca decepciona é Clint Eastwood. E apesar de alguns críticos terem torcido o nariz para “Além da Vida” (Hereafter), o filme é um achado, e apenas confirma o talento do diretor. Ele não se repete e não tem medo de ousar. O tema, perigosíssimo, que é a busca da explicação da vida após a morte, é tratado com sutileza e inteligência. A história de um homem com poderes mediúnicos, e que não deseja mais carregar o peso de seu dom, é mostrada sem que haja uma tendência para pregar religiões ou opções de crença. O filme é muito neutro nesse quesito. Mas as histórias que se cruzam são dramáticas e comoventes, e é impossível não refletir sobre o tema após o fim do filme. Ele permanece na mente das pessoas, como um convite à reflexão. Matt Damon e Cècile de France são grandes presenças no elenco, marcado também pelos ótimos garotos gêmeos, Frankie e George MacLaren.

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Bem, se Lars Von Trier, o cinema Argentino, Almodóvar e Clint Eastwood marcaram pontos em 2011, Woody Allen marcou muitos, muitos pontos com seu apaixonante “Meia-Noite em Paris”. Ele achou a fórmula perfeita para combinar romance, comédia e fantasia nessa história encantadora, rodada num dos mais belos cenários naturais do mundo, Paris. Mas os cenários, fundamentais, com direção de arte impecável, nada valeriam sem um roteiro genial, recheado de diálogos inteligentes e situações inusitadas. Owen Wilson está perfeito como o escritor em busca de sua obra, e que sempre acha que tempos bons são os que já foram vividos...Quem o ajudará a revisar essas impressões é nada mais, nada menos que Marion Cotillard, linda e talentosa. Para ver e rever muitas vezes, essa delícia criada por Woody Allen vai marcar as listas de todos os cinéfilos em 2011.

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Terrence Malick nos deu, em 2011, seu enigmático, belo e poético “A Árvore da Vida”, cujas semelhanças formais com o belíssimo “Melancolia” já mencionei no artigo da semana passada. Neste espaço já comentei também sobre essa obra perturbadora, marcada pelas presenças de Brad Pitt, Sean Penn e a maravilhosa Jessica Chastain. ”A Árvore da Vida” será lembrado no Oscar, com certeza, pelo menos por algumas indicações inevitáveis.

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Veio através da Folha de São Paulo uma boa surpresa cinematográfica em 2011: o jornal paulista lançou uma coleção magnífica de filmes europeus, que colocaram obras-primas inquestionáveis ao alcance de um público enorme. Muita gente pode conhecer filmes que marcaram a história do cinema e serão eternas referências de qualidade, de arte cinematográfica sólida e duradoura. Dentre tantos filmes inesquecíveis e importantes da coleção, cito alguns da minha lista de sempre dos melhores de todos os tempos: “Rocco e Seus Irmãos”, “Roma, Cidade Aberta”, “Mamma Roma”, “Cinema Paradiso”, “A Doce Vida” e “Hiroshima, Meu Amor”, só para citar algumas preciosidades.

Que 2012 nos traga outras tantas maravilhas, caros leitores e leitoras, e que elas nos mantenham unidos através da magia do cinema.