sexta-feira, 30 de março de 2012

HAJA ÓCULOS

Por José Farid Zaine

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Pode parecer uma grande novidade, coisa dos anos 2000, mas o 3D (sistema de projeção tridimensional) já existe desde o século XIX, e se formos considerar as primeiras pesquisas a respeito da estereoscopia, vamos retroceder muito mais...


O primeiro filme para ser exibido em cinemas em 3D data de 1922, e é chamado “The Power of Love” ( O Poder do Amor). Mas o primeiro “boom” viria a acontecer apenas nos anos 1950, com muitos títulos e sucessos populares como “Bwana Devil”, “Veio do Espaço”, “Man in the Dark”, “A Casa de Cera” e “Dá-me um Beijo”. O advento da TV e sua rápida popularização nos Estados Unidos assustaram os produtores cinematográficos, que buscavam atrativos para o público que não queria sair de casa.


A técnica não avançou nos anos posteriores, com raras produções nos anos 1960 e depois algumas nos anos 1980, como “Tubarão 3D”.


Efeito semelhante ao da expansão da TV nos anos 1950 teve a internet nas últimas duas décadas, com uma velocidade espantosa de popularização e condições de acesso em todos os cantos do mundo. Hoje, principalmente entre os jovens, a maior parte do tempo é consumida diante do computador, nos celulares e outros aparelhos que permitem conexão instantânea com o planeta inteiro...Mais uma vez o cinema foi buscar alternativas para não perder o seu fascínio, e desta vez o efeito 3D veio para ficar. Muitas produções foram realizadas com novas tecnologias, aprimorando o efeito e ampliando seu uso.


O mega-sucesso “Avatar” pode ser considerado, no caso do 3D, um divisor de águas. James Cameron, consagrado e respeitado diretor, principalmente por suas ousadias na pesquisa da evolução das técnicas cinematográficas, marcou o ano de 2009 pelo lançamento de um filme que se tornou, imediatamente, uma das maiores bilheterias da história do cinema. O sucesso de “Avatar” causou impacto imediato nas produções, e uma avalanche de filmes em 3D obrigaram os cinemas de todo o mundo a se equiparem para poder exibi-los. As salas dotadas de equipamentos modernos se multiplicaram velozmente, e a multiplicação continua, em virtude do sucesso das produções que usam essa tecnologia.


O próprio Cameron, detentor de outro bilionário sucesso, “Titanic”, ganhador de 11 Oscar, já adaptou o filme para o 3D, com lançamento previsto para 13 de abril. “Titanic”, que já era tecnicamente espetacular, com efeitos especiais espantosamente reais, deve ampliar muito as sensações das cenas que marcaram toda uma década no cinema. E como o ingresso para salas que contam com o 3D são mais caros, é possível prever que a arrecadação desse blockbuster suba a alturas estratosféricas.


Atentos a tudo isso, cineastas de peso, com nomes respeitadíssimos, renderam-se à técnica. O irrequieto Tim Burton já nos deu sua versão tridimensional de “Alice no País das Maravilhas”. Steven Spielberg entregou ao mundo, em 2011, a animação “As aventuras de Tim-Tim”, que chegou aos cinemas com a recomendação do nome do diretor, um dos responsáveis pela renovação do cinema a partir dos anos 70 e 80. E, no Oscar deste ano, lá estava ganhando os mais importantes prêmios técnicos, principalmente pelo magnífico uso do 3D, o grande Martin Scorsese, com sua belíssima homenagem aos primórdios do cinema na aventura “A Invenção de Hugo Cabret”. Scorsese conseguiu a proeza de colocar em 3D os filmes de Georges Mèliés, um dos primeiros cineastas da história a produzir grande quantidade de filmes. Ver obras rudimentares, feitas com recursos hoje considerados pré-históricos, com a mais moderna técnica hoje existente, foi um toque de gênio.


Os próximos meses prometem muitas estreias com a tecnologia 3D. Grandes sucessos já estão sendo refeitos, como o caso recente de “Star Wars”, “A Bela e a Fera”, “O Rei Leão”, e muitos outros. As distribuidoras fazem alarde com lançamentos aguardados, e que já tem data marcada para provocar filas: “Fúria de Titãs 2” (30/03), “Titanic 3D” (13/04), “The Advengers – Os Vingadores” (27/04), “Madagascar 3” (25/05), “Prometheus”, com Michael Fassbender (15/06), “A Era do Gelo 4” (29/06)...e por aí afora, até a chegada, em 14 de dezembro, de “O Hobbit”, prelúdio de “ Senhor dos Aneis”, com direção de Peter Jackson. Haja óculos!

sexta-feira, 23 de março de 2012

A ESTRELA DE MICHAEL FASSBENDER



Por José Farid Zaine

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Se há um ator que está com tudo em Hollywood, ele é Michael Fassbender, conhecido como um ator irlandês, embora tenha nascido na Alemanha. O Magneto de “X-Men – Primeira Classe”, o Quintus de “Centurião”, o Archie de “Bastardos Inglórios”, foi “adotado” pelo diretor Steve MacQueen (nada a ver com o astro homônimo de “Bullit” e “Papillon”, morto em 1980), e está em três filmes dele, incluindo “SHAME”, lançado no Brasil na semana passada.


Em “Shame”, Fassbender interpreta um executivo de trinta e poucos anos, Brandon, de vida aparentemente tranquila. Vai bem no trabalho, e não quer nada com relações afetivas duradouras. O problema é que ele é viciado em sexo. Quando não está tendo relações com as mais diversas parceiras, ele se masturba e vê pornografia (inclusive no trabalho). Seu cotidiano - que pode ser até equilibrado - sofre um revés com a chegada de sua irmã mais nova, Sissy, que vem ao apartamento dele para ficar por uns tempos. Sissy é interpretada por Carey Mulligan, a simpática estudante do filme “Educação”. Carey resolveu ousar, abraçando uma personagem completamente diferente, para escapar do perigo de virar uma das namoradinhas do cinema atual. Ela se dá muito bem na pele de Sissy, a problemática e carente irmã de Brandon. Este, ao precisar dividir o seu espaço, percebe o quão prisioneiro de suas obsessões ele é. Para dar vazão aos seus desejos, aos seus impulsos, ele agora vai até para as ruas, para os becos, e não importa que sejam mulheres ou homens os que vão saciar sua fome, em lugares limpos e luminosos ou sujos, escuros e decadentes.


“Shame” não é um filme fácil. Ele é bem incômodo, ao expor sem véus o drama de um homem viciado em sexo. Celebrado por seu trabalho, ao qual se entregou completamente, Fassbender era tido como um dos favoritos ao Oscar de melhor ator, mas sequer foi indicado. Esta é considerada uma injustiça do Oscar 2012, que os críticos gostam de dividir com a ausência de Tilda Swinton, entre as mulheres candidatas a melhor atriz, e de Ryan Gosling, como ator coadjuvante em “Drive”. Eu concordo. Michael Fassbender está completo em “Shame”, e se sai muito bem mesmo nas mais difíceis cenas de sexo que, sem a experiência de um ator corajoso e um diretor competente, poderiam facilmente ser constrangedoras. O próprio ator, em muitas entrevistas, confessou a dificuldade que teve nas cenas mais ousadas, e não apenas por estar completamente nu diante das câmeras. O erotismo, em “Shame”, não tem glamour: a plateia experimenta, sim, as sensações da escravidão a que o sexo pode conduzir, e tudo é pintado com tons fortes e dramáticos, sem chances para o lúdico, o divertido...


“Shame” está longe de ser uma obra-prima, mas é um filme bom, que se recomenda por vários motivos: o assunto pesadíssimo tratado com seriedade, sem cair no mau gosto, e as interpretações de Michael Fassbender e Carey Mulligan.


A chance de ver novamente brilhar o talento de Fassbender está próxima: no dia 30 de março estreará no país o novo filme de David Cronenberg, “Um Método Perigoso” (A Dangerous Method), em que ele interpreta o psicanalista Carl Jung. Tratando-se de Cronenberg, sabemos de antemão que por aí vem alguma coisa não tão facilmente digerível...Fassbender atua, nesse filme, ao lado de Keira Knightley e Viggo Mortensen. Algumas pre-estreias devem ocorrer na próxima semana em São Paulo.


A história de “Um Método Perigoso” mostra a conturbada relação de Jung com uma paciente e o confronto com as ideias do seu mestre, Sigmund Freud.


Enfim, um novo astro brilha no cinema, sem ser apenas um jovem bonito e saradão. Suas qualidades vão muito além disso, e as provas são as incontáveis propostas de trabalho que ele tem recebido, e que manterão sua estrela reluzindo por muitos anos, já garantidos por generosos contratos.

sexta-feira, 16 de março de 2012

CINEMA E DIVERSIDADE

Por José Farid Zaine

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Filme "Tomboy" será exibido no sábado


Começou ontem, no Teatro Vitória, a programação do Festival Mix de Cinema da Diversidade, com o longa “Teus Olhos Meus”, de Caio Sóh, e prossegue hoje e amanhã, com mais dois longas e 11 curtas. Uma chance única de conferir filmes que fizeram parte da última edição desse festival, em São Paulo, reunindo obras sobre o tema vindas de todas as partes do mundo.


Os ventos da liberdade de expressão hoje sopram firmemente, pelo menos na maior parte dos países, e o cinema é o claro sintoma dessa liberdade. Nem sempre foi assim na sétima arte. Falar sobre homossexualidade sempre foi um tabu, notadamente nos anos de rígida censura. Obras-primas como “De repente, no Último Verão”, baseada em peça de Tennessee Williams foram para a tela grande com sacrifícios. No caso desse filme, dirigido por Joseph L. Manckiewicz, estrelado por Elizabeth Taylor, Katherine Hepburn e Montgomery Clift, uma história dramática intrigou as plateias de todo o mundo, porque envolvia uma personagem homossexual, Sebastian, que nem rosto ou voz tinha. Liz e Katherine brilharam e foram indicadas ao Oscar. Contam que Hepburn, uma das maiores atrizes de todos os tempos, se indispôs com muita gente da produção por causa da forma com que tratavam Montgomery Clift, que era homossexual, mas não sua personagem naquele filme. O ano era 1959.


Romy Schneider, uma das mais belas e talentosas atrizes do cinema europeu, ganhou fama planetária ao interpretar a imperatriz Sissi. Romy, que era austríaca, não quis ficar marcada por personagens que representavam mocinhas ingênuas, tipo namoradinha do mundo. Logo após o estrondoso sucesso da série de filmes sobre a imperatriz Sissi, ela filmou na Alemanha “Senhoritas de Uniforme”, sobre uma aluna que se envolve sentimentalmente com sua professora. Foi um escândalo. Ela, então, foi para a França, onde fez grandes filmes e trabalhou com os mais conceituados diretores. Romy era heterossexual, mas sofreu na pele o preconceito fortíssimo existente na época, apenas porque escolheu interpretar, sem medo, uma garota lésbica.


Outro ícone do cinema, a doce, bela e carismática Audrey Hepburn, também não teve medo de manchar sua imagem de princesinha, e protagonizou, ao lado de Shirley MacLaine, um dos mais contundentes filmes abordando o lesbianismo, “Infâmia”, dirigido por William Wyler.


Mais recentemente outros astros brilhantes de Hollywood emprestaram seu talento e sua coragem para que fossem levados à tela temas que poderiam arranhar sua imagem de galãs. Ao contrário, foram elogiados e premiados por trabalhos fabulosos. Um deles foi Tom Hanks, ao interpretar um advogado gay que, vitimado pela Aids, lutava por seus direitos. O filme, “Philadelphia”, é hoje quase um documento de um período, os anos 70. Outro magnífico ator, também heterossexual como Hanks, fez um dos melhores trabalhos de criação de personagem de todos os tempos, interpretando um cowboy gay no magnífico “O Segredo de Brokeback Mountain”. Ele, Heath Ledger, morreu muito cedo, aos 28 anos, interrompendo umas das carreiras mais promissoras do cinema contemporâneo.


Fiquemos nesses exemplos, filmes todos encontrados em DVD, e coloquemos na nossa agenda uma programação imperdível sobre o cinema que fala da diversidade, da condenação ao preconceito, do olhar sobre o diferente, hoje e amanhã, no Teatro Vitória, às 20h, com entrada franca:


HOJE:

Olhe Para Mim de Novo”, de Kiko Goifman e Cláudia Pricilla, conta a história do transexual Silvyo Luccio. O filme venceu o prêmio de melhor documentário em 2011 do festival, apontado pelo júri popular. Além do filme, haverá a exibição de diversos curtas da “Mostra Competitiva Brasil 1”.


AMANHÃ:

Tomboy”, de Céline Sciamma, aborda o universo de Laure, uma garota de 10 anos diferente da maioria das meninas da sua idade. O filme venceu o prêmio de melhor longa em 2011 do festival, apontado pelo júri popular. Depois de “Tomboy”, haverá a exibição de diversos curtas da “Mostra Competitiva Brasil 2”.

sexta-feira, 9 de março de 2012


DOBRADINHAS



Por José Farid Zaine

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Agora que temos uma Broadway brasileira, que é São Paulo, podemos nos dar ao luxo de ver grandes musicais no palco e também as versões deles para o cinema. Neste começo de ano é possível programar deliciosos passeios na Capital, escolher um dos espetáculos que estão em cartaz, e ainda conferir, nos DVDs, as versões para a tela grande.


Pertinho de nós, aqui em Paulínia, no Theatro Municipal, neste fim de semana acontecem apresentações de “Cabaret”, excelente oportunidade para ver uma montagem muito boa de um dos mais aclamados musicais da Broadway. Nossa estrela Cláudia Raia dá conta do recado ao encarnar a cantora decadente Sally Bowles, atração de um cabaré na Berlim que está vendo o nascimento do nazismo...A personagem foi imortalizada no filme de Bob Fosse, um dos melhores de todos os tempos, por Liza Minnelli. Ela ganhou o Oscar de melhor atriz, merecidíssimo, o filme ganhou 8 no total, incluindo um para Joel Grey, o fabuloso mestre de cerimônias. O filme tem cenas antológicas que já entraram para a história dos musicais. As músicas são extraordinárias, e um dos grandes momentos, tanto na tela grande quanto no palco é “Maybe this time”. Liza teve uma interpretação inigualável dessa música, e Cláudia até que segura bem na versão em português.


No caso de “A Família Addams”, que acabou de estrear no Teatro Abril, o musical chegou aos palcos inspirado nas histórias tão conhecidas da terrível família, que nos deu ótimos filmes, mas não musicais. Marisa Orth e Daniel Boaventura estão no elenco. Então é possível curtir os filmes já lançados, reviver a fantástica Anjelica Huston e matar a saudade de Raul Julia, além de curtir as peripécias dessa turma impagável num espetáculo cheio de surpresas e sofisticados efeitos especiais. Bom, para ver “A Família Addams”, o musical, no cinema, vai demorar um pouco...e ainda resta esperar como será a versão a ser dirigida por Tim Burton!


Nesta semana, também, outro musical aterrissa no palco do Teatro Alfa em pre-estreias. Trata-se do consagrado “Um Violinista no Telhado”, que fez sucesso no Rio e agora chega a São Paulo, embalado pela grande audiência de Fina Estampa, já que José Mayer, que está na novela, é o astro do musical, razão do visual dele no folhetim das 9. Da Broadway, “Um Violinista no Telhado” foi para o cinema pelas mãos de Norman Jewison que, entre outras coisas, dirigiu outro enorme sucesso, a ópera-rock “Jesus Cristo Superstar”. No filme “Um Violinista no Telhado” (Fiddler on the Roof), facilmente encontrado em DVD e Blu-Ray, o intérprete é o ator Topol. Está aí uma ótima chance para curtir uma dobradinha das melhores.


Outro espetáculo que estreará na próxima semana é “Priscilla, a Rainha do Deserto”, no Teatro Bradesco. Muito interessante será ver a versão do musical em DVD do filme de Stephan Elliot, com nada mais, nada menos que Terence Stamp, Hugo Weaving e Guy Pearce no elento. Os grandes hits “It´s raining Men” e “ I will survive” já garantem a trilha Sonora. “Priscilla” ganhou o Oscar de melhor figurino em 1994, e a versão para os palcos paulistas promete qualidade artística e glamour, temperos cada vez mais frequentes nas nossas produções.


Outra oportunidade de sensacional dobradinha – palco e dvd – é o musical “Hair”, em cartaz até fim de abril no Teatro Frei Caneca, em São Paulo. Trazido pelos “papas” dos musicais no país, os diretores e produtores Charles Möeller e Cláudio Botelho, a peça tem encantado o público, tanto o mais velho que curtiu o surgimento de Woodstock nos anos 60, quanto os jovens que se encantam com a história que não envelheceu, bem como as canções. No DVD está a possibilidade de ver e rever a versão dirigida por Milos Forman, o grande diretor tcheco que fez grandes filmes nos Estados Unidos, incluindo “Amadeus”, vencedor de 8 Oscar. Tanto o “Hair” de Milos Forman quanto esse que alegra o palco do Frei Caneca, são ótimas opções de um divertimento de alta qualidade, com as músicas que marcaram gerações e permanecem com seu poder de envolvimento. Não há quem não cante junto a linda “Aquarius”, nem se emocione até as lágrimas quando o afinado elenco repete “Let the Sunshine in”, convidando as pessoas a subirem ao palco.


Grandes musicais chegam ao País, e vemos com orgulho nossos atores e atrizes, cantores e cantoras, bailarinos e bailarinas revelando que já estamos entre os melhores do mundo. Então a dobradinha é a seguinte: a gente vê o que o cinema fez com esses musicais e vamos ao teatro para, ao vivo, aplaudirmos o talento de uma nova geração de artistas que encantam o Brasil.