Por José Farid Zaine
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Se há um ator que está com tudo em Hollywood, ele é Michael Fassbender, conhecido como um ator irlandês, embora tenha nascido na Alemanha. O Magneto de “X-Men – Primeira Classe”, o Quintus de “Centurião”, o Archie de “Bastardos Inglórios”, foi “adotado” pelo diretor Steve MacQueen (nada a ver com o astro homônimo de “Bullit” e “Papillon”, morto em 1980), e está em três filmes dele, incluindo “SHAME”, lançado no Brasil na semana passada.
Em “Shame”, Fassbender interpreta um executivo de trinta e poucos anos, Brandon, de vida aparentemente tranquila. Vai bem no trabalho, e não quer nada com relações afetivas duradouras. O problema é que ele é viciado em sexo. Quando não está tendo relações com as mais diversas parceiras, ele se masturba e vê pornografia (inclusive no trabalho). Seu cotidiano - que pode ser até equilibrado - sofre um revés com a chegada de sua irmã mais nova, Sissy, que vem ao apartamento dele para ficar por uns tempos. Sissy é interpretada por Carey Mulligan, a simpática estudante do filme “Educação”. Carey resolveu ousar, abraçando uma personagem completamente diferente, para escapar do perigo de virar uma das namoradinhas do cinema atual. Ela se dá muito bem na pele de Sissy, a problemática e carente irmã de Brandon. Este, ao precisar dividir o seu espaço, percebe o quão prisioneiro de suas obsessões ele é. Para dar vazão aos seus desejos, aos seus impulsos, ele agora vai até para as ruas, para os becos, e não importa que sejam mulheres ou homens os que vão saciar sua fome, em lugares limpos e luminosos ou sujos, escuros e decadentes.
“Shame” não é um filme fácil. Ele é bem incômodo, ao expor sem véus o drama de um homem viciado em sexo. Celebrado por seu trabalho, ao qual se entregou completamente, Fassbender era tido como um dos favoritos ao Oscar de melhor ator, mas sequer foi indicado. Esta é considerada uma injustiça do Oscar 2012, que os críticos gostam de dividir com a ausência de Tilda Swinton, entre as mulheres candidatas a melhor atriz, e de Ryan Gosling, como ator coadjuvante em “Drive”. Eu concordo. Michael Fassbender está completo em “Shame”, e se sai muito bem mesmo nas mais difíceis cenas de sexo que, sem a experiência de um ator corajoso e um diretor competente, poderiam facilmente ser constrangedoras. O próprio ator, em muitas entrevistas, confessou a dificuldade que teve nas cenas mais ousadas, e não apenas por estar completamente nu diante das câmeras. O erotismo, em “Shame”, não tem glamour: a plateia experimenta, sim, as sensações da escravidão a que o sexo pode conduzir, e tudo é pintado com tons fortes e dramáticos, sem chances para o lúdico, o divertido...
“Shame” está longe de ser uma obra-prima, mas é um filme bom, que se recomenda por vários motivos: o assunto pesadíssimo tratado com seriedade, sem cair no mau gosto, e as interpretações de Michael Fassbender e Carey Mulligan.
A chance de ver novamente brilhar o talento de Fassbender está próxima: no dia 30 de março estreará no país o novo filme de David Cronenberg, “Um Método Perigoso” (A Dangerous Method), em que ele interpreta o psicanalista Carl Jung. Tratando-se de Cronenberg, sabemos de antemão que por aí vem alguma coisa não tão facilmente digerível...Fassbender atua, nesse filme, ao lado de Keira Knightley e Viggo Mortensen. Algumas pre-estreias devem ocorrer na próxima semana em São Paulo.
A história de “Um Método Perigoso” mostra a conturbada relação de Jung com uma paciente e o confronto com as ideias do seu mestre, Sigmund Freud.
Enfim, um novo astro brilha no cinema, sem ser apenas um jovem bonito e saradão. Suas qualidades vão muito além disso, e as provas são as incontáveis propostas de trabalho que ele tem recebido, e que manterão sua estrela reluzindo por muitos anos, já garantidos por generosos contratos.
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