sexta-feira, 16 de março de 2012

CINEMA E DIVERSIDADE

Por José Farid Zaine

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Filme "Tomboy" será exibido no sábado


Começou ontem, no Teatro Vitória, a programação do Festival Mix de Cinema da Diversidade, com o longa “Teus Olhos Meus”, de Caio Sóh, e prossegue hoje e amanhã, com mais dois longas e 11 curtas. Uma chance única de conferir filmes que fizeram parte da última edição desse festival, em São Paulo, reunindo obras sobre o tema vindas de todas as partes do mundo.


Os ventos da liberdade de expressão hoje sopram firmemente, pelo menos na maior parte dos países, e o cinema é o claro sintoma dessa liberdade. Nem sempre foi assim na sétima arte. Falar sobre homossexualidade sempre foi um tabu, notadamente nos anos de rígida censura. Obras-primas como “De repente, no Último Verão”, baseada em peça de Tennessee Williams foram para a tela grande com sacrifícios. No caso desse filme, dirigido por Joseph L. Manckiewicz, estrelado por Elizabeth Taylor, Katherine Hepburn e Montgomery Clift, uma história dramática intrigou as plateias de todo o mundo, porque envolvia uma personagem homossexual, Sebastian, que nem rosto ou voz tinha. Liz e Katherine brilharam e foram indicadas ao Oscar. Contam que Hepburn, uma das maiores atrizes de todos os tempos, se indispôs com muita gente da produção por causa da forma com que tratavam Montgomery Clift, que era homossexual, mas não sua personagem naquele filme. O ano era 1959.


Romy Schneider, uma das mais belas e talentosas atrizes do cinema europeu, ganhou fama planetária ao interpretar a imperatriz Sissi. Romy, que era austríaca, não quis ficar marcada por personagens que representavam mocinhas ingênuas, tipo namoradinha do mundo. Logo após o estrondoso sucesso da série de filmes sobre a imperatriz Sissi, ela filmou na Alemanha “Senhoritas de Uniforme”, sobre uma aluna que se envolve sentimentalmente com sua professora. Foi um escândalo. Ela, então, foi para a França, onde fez grandes filmes e trabalhou com os mais conceituados diretores. Romy era heterossexual, mas sofreu na pele o preconceito fortíssimo existente na época, apenas porque escolheu interpretar, sem medo, uma garota lésbica.


Outro ícone do cinema, a doce, bela e carismática Audrey Hepburn, também não teve medo de manchar sua imagem de princesinha, e protagonizou, ao lado de Shirley MacLaine, um dos mais contundentes filmes abordando o lesbianismo, “Infâmia”, dirigido por William Wyler.


Mais recentemente outros astros brilhantes de Hollywood emprestaram seu talento e sua coragem para que fossem levados à tela temas que poderiam arranhar sua imagem de galãs. Ao contrário, foram elogiados e premiados por trabalhos fabulosos. Um deles foi Tom Hanks, ao interpretar um advogado gay que, vitimado pela Aids, lutava por seus direitos. O filme, “Philadelphia”, é hoje quase um documento de um período, os anos 70. Outro magnífico ator, também heterossexual como Hanks, fez um dos melhores trabalhos de criação de personagem de todos os tempos, interpretando um cowboy gay no magnífico “O Segredo de Brokeback Mountain”. Ele, Heath Ledger, morreu muito cedo, aos 28 anos, interrompendo umas das carreiras mais promissoras do cinema contemporâneo.


Fiquemos nesses exemplos, filmes todos encontrados em DVD, e coloquemos na nossa agenda uma programação imperdível sobre o cinema que fala da diversidade, da condenação ao preconceito, do olhar sobre o diferente, hoje e amanhã, no Teatro Vitória, às 20h, com entrada franca:


HOJE:

Olhe Para Mim de Novo”, de Kiko Goifman e Cláudia Pricilla, conta a história do transexual Silvyo Luccio. O filme venceu o prêmio de melhor documentário em 2011 do festival, apontado pelo júri popular. Além do filme, haverá a exibição de diversos curtas da “Mostra Competitiva Brasil 1”.


AMANHÃ:

Tomboy”, de Céline Sciamma, aborda o universo de Laure, uma garota de 10 anos diferente da maioria das meninas da sua idade. O filme venceu o prêmio de melhor longa em 2011 do festival, apontado pelo júri popular. Depois de “Tomboy”, haverá a exibição de diversos curtas da “Mostra Competitiva Brasil 2”.

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