Por
José Farid Zaine
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Farid Zaine
“Amor”
(Amour) , do diretor austríaco Michael Haneke, estreia hoje nos cinemas
brasileiros. Trata-se de uma coprodução entre Àustria, França e Alemanha, mas
representa a Áustria no Oscar. É um
belíssimo drama sobre um casal de idosos, professores de música aposentados, e seu
cotidiano tranquilo que é quebrado por grave doença da mulher. O homem,
Georges, precisará colocar à prova toda sua capacidade de doação, todo seu
arsenal de carinho e atenção, todo o seu tempo e paciência para minimizar o
sofrimento da mulher amada, Anna.
A
história, tratada com excepcional realismo e com a crueza necessária, vem
conquistando a crítica do mundo inteiro:
“Amor” ganhou a Palma de Ouro em Cannes em 2012, acaba de levar o Globo
de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e está indicado em cinco categorias do
Oscar, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e melhor atriz para Emanuelle
Riva, indicada para praticamente todos os prêmios do cinema em relação a 2012.
Com
quase 86 anos, Riva tem sido festejada por sua impressionante interpretação de
Anna, mulher que sofre dois derrames e
fica presa a um leito, dependendo inteiramente de outras pessoas,
principalmente do marido, Georges, vivido com intensidade ímpar por outro
“monstro sagrado” do cinema francês, Jean-Louis Trintignant. Para completar, a
filha do casal é interpretada por Isabelle Huppert, outro grande nome do cinema
francês contemporâneo. Huppert foi a intérprete de um dos melhores filmes do
ano, o drama baseado em fatos reais “Em Nome de Deus” (Captive), dirigido pelo
filipino Brillante Mendoza.
Impossível
falar de Emmanuelle Riva sem mencionar o clássico “Hiroshima, Meu Amor” (1959),
que a projetou internacionalmente , um filme indispensável, produção
franco-japonesa dirigida por Alain Resnais, com roteiro de Marguerite Duras.
Jean-Louis
Trintignant , aos 82 anos, é o par
perfeito para Riva em “Amor”. A carreira dele marcou o cinema francês desde
“...E Deus Criou a Mulher”, dirigido por Roger Vadim e ao lado da estrela que
surgia, Brigitte Bardot! Seu maior
sucesso internacional viria com o belo “Um Homem, Uma Mulher” (1966), de
Claude Lelouch, em que ele fez a parceria inesquecível com Anouk Aimée. “Um
Homem, Uma Mulher” conquistou público e crítica no mundo inteiro, sendo o
vencedor da Palma de Ouro em Cannes e do Oscar de Melhor Filme estrangeiro, feito que provavelmente será repetido por “Amor”.
Para o público brasileiro “Um Homem, Uma Mulher” tem um ingrediente a mais para
completar o prazer de ver o filme: na trilha sonora está o “Samba da Bênção”,
de Vinícius de Moraes e Baden Powell.
Michael
Haneke, o diretor austríaco mais conceituado na esfera cinematográfica
atualmente, com talento reconhecido pelos críticos de todo o mundo, já nos
trouxe beleza e inquietação com o magnífico “A Fita Branca”, premiado com a
Palma de Ouro em Cannes em 2009 e indicado ao Oscar 2010 de Melhor Filme estrangeiro,
prêmio que perdeu para “O Segredo dos Seus Olhos”, da Argentina, ótimo filme,
mas muito inferior . Em “Amor”, Haneke,
além de diretor, é autor do roteiro, categoria também indicada
ao Oscar.
É
muito natural que esperemos que um filme chamado “Amor” seja romântico, doce,
suave...e então nos surpreendemos com a dureza da história concebida por Haneke e a forma com que ele a conduz
colocando-nos diante da vida como ela é, diante do tempo implacável e da morte
inexorável, não nos poupando da carga
pesada de acompanhar o sofrimento, tanto da mulher condenada pela doença,
quanto do marido que, obstinadamente, cuida dela, sabendo que seu estado é
irreversível. Estamos, com certeza,
assistindo à mais profunda declaração de amor, mesmo que esta seja sem
ramalhetes de flores, violinos ao fundo ou versos inflamados. Sem nada disso, a obra de Haneke é um filme de
amor. Um duro, doloroso, mas belíssimo e extraordinário filme de amor!