Por José Farid Zaine
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A LÁGRIMA
No final dos anos 1960, um escritor
que tentava há tempos o sucesso, alcançou-o de uma forma que talvez nem ele
esperasse...”Rosinha, Minha Canoa”, lançado em 1962, foi uma febre e abriu-lhe as portas para a
vitória no difícil mercado editorial brasileiro. Falo de José Mauro de
Vasconcelos, que já havia publicado antes”Banana Brava”, “Barro Blanco”, “Arara
Vermelha”, “Doidão” e “Confissões de Frei Abóbora”, entre outros . Se “Rosinha”
foi bem nas vendas, o estouro veio com “O Meu Pé de Laranja Lima”, em 1968, sucesso
instantâneo e que se transformou num dos livros brasileiros mais lidos e
traduzidos de todos os tempos.
A história da infância de um menino,
Zezé, que tinha “o diabo no corpo”, por conta de suas incansáveis travessuras,
que apanhava do pai bêbado a quem tentava ajudar, que fez amizade com um homem bem
adulto, a quem chamava “Portuga”, que conversava com um pé de laranja-lima no
quintal de sua casa pobre, comoveu milhares de leitores e, como não poderia
deixar de ser,no caso de ter se transformado num best-seller, foi logo adaptado
para o cinema e para a TV. Em 1970 surgiu a primeira versão para o cinema,
dirigida por Aurélio Teixeira. Virou novela na extinta TV Tupi, também em 1970,
e recebeu novas adaptações para folhetins da Bandeirantes em 1980 e 1998. A
novela da Tupi , escrita por Ivani Ribeiro, tinha Eva Wilma e Nicette Bruno no
elenco. Dionísio Azevedo estava na versão de 1980 da Bandeirantes, e
Gianfrancesco Guarnieri na de 1998, adaptada por Ana Maria Moretzsohn.
A nova versão para a tela grande concluída em 2012 e que chegou aos cinemas neste abril
de 2013 gerou muitas expectativas positivas. Não era para menos: o roteiro foi
escrito por Marcos Bernstein, que dirige o filme e que fez o roteiro do maravilhoso “Central do
Brasil”; o elenco contou com José de Abreu, experiente ator vindo do recente
megasucesso da TV “Avenida Brasil”, e que aqui aparece com um estranho sotaque
que vai e volta; a figura principal do
romance, o menino Zezé, foi interpretado pelo filho do cantor Leonardo, o
talentoso e simpático garoto João Guilherme Ávila; o popular ator da novela “Salve Jorge” e
outros sucessos da Globo, Caco Ciocler, fez Zezé adulto...some-se a isso tudo
uma ótima fotografia, uma linda trilha sonora, e teremos um excelente filme,
certo? Errado. O atual “Meu Pé de Laranja Lima” é como aqueles bolos com ótimos
ingredientes, mas que “desanda” ao se preparar a receita, na linguagem das
donas de casa. Dá pra comer esse bolo, mas falta um recheio mais saboroso.
Adoraria dizer que a obra de Marcos Bernstein faz jus ao seu talento, é um filme maravilhoso, que fará bonito no
mercado interno e internacional, mas não dá para tanto. Mas quem sabe caia no
gosto do público e arraste multidões ao cinema, o que parece atualmente
acontecer apenas com comédias do tipo “Vai que Dá Certo”...
O ESQUECIMENTO
Não foi só o cinema brasileiro que nos
deu um daqueles filmes cheios de boas intenções, como este “Meu Pé de Laranja
Lima”, nas últimas semanas. Veio dos EUA mais um blockbuster estrelado por Tom
Cruise e Olga Kurylenko , dirigido por Joseph Kosinski, o longa de ficção
científica “OBLIVION”, outro exemplar de um gênero difícil e que jamais parece
esgotar o tema da Terra destruída e dominada por alienígenas. “OBLIVION”, que
significa “esquecimento”, no sentido de apagamento total da memória original de
um indivíduo, tem as qualidades do gênero: direção de arte inovadora e
competente, música apropriada, fotografia perfeita, efeitos visuais e sonoros
de ótima qualidade, o onipresente Morgan Freeman no elenco... entretanto um
roteiro com surpresas e reviravoltas nem sempre interessantes conduz o
espectador até o final, mas só até aí. Depois é o esquecimento.
Fiquemos assim: num período de fracos
lançamentos no cinema dá para gastar uma lágrima com “Meu Pé de Laranja Lima” e
tentar acreditar que Tom Cruise é o salvador do Planeta.