sexta-feira, 19 de julho de 2013

DE ALAN PARKER A WALCYR CARRASCO

Por José Farid Zaine
Twitter: @faridzaine
Facebook: Farid Zaine

Há algumas semanas, vendo os primeiros capítulos de “Amor à Vida”, de Walcyr Carrasco, a atual novela das 9 da Globo, eu me deparei com uma sequência rigorosamente igual a uma que está no filme “O Expresso da Meia-Noite”(Midnight Express), de Alan Parker. Gosto demais desse filme de 1978. A cena a que eu me refiro é aquela em que Billy Hayes, personagem de Brad Davis, tenta sair da Turquia com pacotes de haxixe na cintura. Ele está com a namorada, e ao perceber a grande quantidade de policiais  prestes a revistarem os passageiros, pede que ela entre no avião e vá embora de qualquer maneira. Na novela “Amor à Vida”,logo no primeiro capítulo, a personagem de Juliano Cazarré, Ninho, namorado de Paloma (Paola Oliveira) faz a mesma coisa. Até a respiração de Brad Davis, numa cena no banheiro do aeroporto de Istambul, é copiada por Cazarré.



Ao ver a cena pensei que o autor estivesse fazendo uma homenagem ao filme, pois a cópia era explícita demais.Qualquer pessoa que tenha visto a obra de Parker, tanto no cinema quanto no DVD, pois tornou-se um clássico e é sempre muito lembrado, percebe imediatamente a semelhança. Há alguns dias, no entanto, matéria da Folha de São Paulo registra esse fato, assim como revela muitas outras “coincidências” da trama de Walcyr com filmes, outras novelas e seriados. Até a bengala do Dr.House foi parar nas mãos de Mateus Solano, o sensacional Félix. 
Tenho certeza de que Walcyr Carrasco, como todos os outros autores, fazem sim referências a filmes de que gostam muito, a seriados, novelas, e até mesmo copiem seus próprios textos. Escrever para uma novela das 9 passou a ser um peso demasiadamente grande para um autor só, e hoje há uma equipe de “colaboradores” que mergulham na hercúlea tarefa de criar longos capítulos diários que sejam interessantes, mantenham sempre um alto grau de suspense, tenham drama misturado com muita ação e comédia, tenham alta qualidade técnica e ainda passem pelo crivo de telespectadoras que apontam o que vai bem e o que não vai, pela ótica de donas de casa, as principais consumidoras do produto. Não é fácil, mas seria ético e justo copiar sem dar créditos aos autores originais?
Quando tudo está engrenado, gravações em dia, elenco satisfeito e produção tranquila,  mas a audiência não corresponde à expectativa da emissora, é exigida uma remexida na trama, que às vezes pode chegar a drásticos cortes no elenco e até mesmo encurtamento da novela. Como sobreviver a tanta pressão criando somente coisas originais, sem recorrer a fórmulas já testadas, cópias conscientes ou não, e até a personagens e histórias paralelas que parecem se repetir indefinidamente?
Lembrei-me de citar o filme “O Expresso Da Meia-Noite”, de 1978,  para que os leitores possam fazer uma revisão dele, principalmente os que se lembrem da cena da novela que citei. Sempre vale a pena rever esse grande sucesso de Alan Parker, que projetou Brad Davis no cinema, e pelo qual ele ganhou um Globo de Ouro. Ele teve uma carreira curta, pois morreu de Aids em 1991, pouco antes de completar 42 anos. Depois de “O Expresso”, pela bela cena que  em que Billy Hayes e seu companheiro de cela se beijam durante um banho na prisão  – o que era muito incomum para a época – especulava-se muito sobre a sexualidade dele. Quando se noticiou sua morte por AIDS (ele era casado e tinha uma filha), acentuou-se essa discussão. A AIDS de Davis parecia estar mais ligada ao consumo de drogas.  De qualquer forma,outro grande momento de sua carreira também o colocava na pele de uma personagem homossexual, o marinheiro  Querelle, do filme do mesmo nome dirigido por Rainer Werner Fassbinder. Excelente exemplar da obra do diretor alemão, “Querelle” também é facilmente encontrado nas locadoras e lojas virtuais.

Vejamos então os filmes de Brad Davis, tocados pela lembrança provocada pela novela “Amor à Vida”. Depois do fiasco de “Salve Jorge”, a incrível miscelânea de Glória Perez, a Globo precisava de um socorro para o seu principal horário, em que o Brasil para diante da TV. Os sucessos anteriores de Carrasco garantiram que ele alçasse voo a um dos postos mais cobiçados da televisão brasileira, e ele lá está com sua colcha de retalhos muito bem costurada para servir pratos diários, requentados ou não, ao faminto público das novelas. Por muitos meses ainda, vamos nos divertir com as sensacionais Elizabeth Savalla e Tatá Werneck, Tetê e Valdirene, respectivamente, com as perversidades cômicas e os “bofes” de Félix (Mateus Solano),  e com as inacreditáveis histórias que acontecem dentro de um Hospital! Não, não é nada fácil fazer o equivalente a um filme por dia. As “homenagens” – para não dizer os plágios – estão perdoadas.

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