sexta-feira, 5 de julho de 2013

ANTES QUE SE FECHEM AS CORTINAS

Por José Farid Zaine
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É certo que a velhice é realmente assustadora, que todos pensam como um dia lidarão com isso na vida. Claro, se a pessoa tiver bastante sorte, ela envelhecerá, pois não envelhecer significa morrer jovem. Portanto, fica claro que a esmagadora maioria da humanidade não deseja morrer cedo...Os avanços da medicina já se fazem notar numa população que fica cada vez mais velha, e a idade avançada pode ser curtida com  mais qualidade. Muito se fala sobre a chamada “melhor idade”, título que muitos adotam e muitos odeiam. O cinema tem se debruçado bastante sobre o tema ultimamente, com bons resultados, que vão da obra-prima “Amor”, de Michael Haneke, um drama contundente, às amenidades de “O Exótico Hotel Marigold”, “E se vivêssemos todos juntos” e a recente comédia romântica “O Quarteto”, dirigida por Dustin Hoffman, em cartaz em várias cidades,  só para citar filmes bem recentes.




Para muitas profissões a chegada da velhice, com a aposentadoria, pode significar um prêmio, a possibilidade de descanso pode vir como uma bênção, e aí podemos citar trabalhadores braçais, operários de diversos ramos de atividades, professores...Mas para os artistas a chegada da velhice é sempre mais complicada. “Deixem-me sozinha”, teria dito Greta Garbo, uma das divas do cinema, recolhendo-se ao seu claustro voluntário para não exibir publicamente a decadência física. No terrível “O Que terá acontecido a Baby Jane?” a coisa é a mais dramática e cruel, pois a personagem vivida por Bette Davis ainda se liga, mesmo com a idade avançada, a um período de sucesso vivido na infância. Como aceitar a passagem do tempo inexorável, que deixa suas marcas impiedosas principalmente no rosto das mulheres que foram lindas? Tentativas desesperadas de preservação da fase áurea da vida podem criar,via cirurgias plásticas, verdadeiros monstros. É certo que a forma com que as pessoas encaram o ocaso da existência varia muito. Muitos atletas poderosos, exemplos de perfeição física, acabam seus dias como instrutores, treinadores, e não se sentem infelizes com a consciência das limitações que o tempo traz à prática do esporte que os consagrou durante a vida.
Pensando nessas questões, o ator Dustin Hoffman, já com 75 anos, produziu e dirigiu “O Quarteto”, sobre um grupo de músicos aposentados que vivem juntos numa “Casa de Repouso” luxuosa, embora prestes a fechar as portas. Eles são representantes principalmente da música erudita, instrumentistas e cantores de ópera. Para eles o envelhecimento é muito mais complicado: As vozes já não alcançam as notas, o fôlego já não é o mesmo, e muitas vezes a audição diminuída pode ser uma perversa contribuição para a piora do quadro geral... “O Quarteto” leva essas questões com leveza e bom humor. A história é ótima, embora completamente inverossímel. Um ótimo elenco se encarrega de garantir o interesse do começo ao fim, e isso é feito na dose certa, pois o filme é enxuto, com cerca de 90 min de duração.
O saboroso desenrolar da trama não nos prepara sustos, nem reviravoltas. O espectador aguarda, naturalmente, que a reunião do quarteto de cantores, com todas as limitações possíveis advindas da idade, com a guerra de egos que nunca tem fim, com um romance requentado, chegue a bom termo. A forma com que Hoffman conduz a trama, ocultando delicadamente as vozes dos quatro cantores quando rolam os ensaios do Rigoletto, de Verdi, é envolvente e chega a comover. O que veremos? Um fiasco provocado pela perda natural do potencial vocal do quarteto? Um sucesso retumbante que coloque velhos e conhecidos astros e estrelas da música lírica sob os holofotes da mídia e aplausos da crítica? A solução é mais do que original e apropriada.
Apesar de todo o elenco ser muito competente, Maggie Smith, naturalmente, rouba a cena. A grande dama do cinema inglês mais uma vez impõe  sua figura extraordinária para compor uma cantora lírica de ego inflado, cheia de recordações dolorosas, e que precisará reavaliar seu comportamento diante dos outros, da velhice e da arte. Smith é muito bem acompanhada por Tom Courteney, Pauline Collins e Billy Connolly.

“O Quarteto” não é uma obra-prima, nem sequer um grande filme. Mas pode ser visto com muito prazer e com muita ternura. Não há amargura no desenrolar da história, e mais uma vez vemos, pelos olhos de um cineasta, que na vida do artista sempre haverá espaço para o brilho antes que se fechem as cortinas!

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