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É
certo que a velhice é realmente assustadora, que todos pensam como um dia
lidarão com isso na vida. Claro, se a pessoa tiver bastante sorte, ela
envelhecerá, pois não envelhecer significa morrer jovem. Portanto, fica claro
que a esmagadora maioria da humanidade não deseja morrer cedo...Os avanços da
medicina já se fazem notar numa população que fica cada vez mais velha, e a
idade avançada pode ser curtida com mais
qualidade. Muito se fala sobre a chamada “melhor idade”, título que muitos
adotam e muitos odeiam. O cinema tem se debruçado bastante sobre o tema ultimamente,
com bons resultados, que vão da obra-prima “Amor”, de Michael Haneke, um drama
contundente, às amenidades de “O Exótico Hotel Marigold”, “E se vivêssemos
todos juntos” e a recente comédia romântica “O Quarteto”, dirigida por Dustin
Hoffman, em cartaz em várias cidades, só
para citar filmes bem recentes.
Para
muitas profissões a chegada da velhice, com a aposentadoria, pode significar um
prêmio, a possibilidade de descanso pode vir como uma bênção, e aí podemos
citar trabalhadores braçais, operários de diversos ramos de atividades,
professores...Mas para os artistas a chegada da velhice é sempre mais
complicada. “Deixem-me sozinha”, teria dito Greta Garbo, uma das divas do
cinema, recolhendo-se ao seu claustro voluntário para não exibir publicamente a
decadência física. No terrível “O Que terá acontecido a Baby Jane?” a coisa é a
mais dramática e cruel, pois a personagem vivida por Bette Davis ainda se liga,
mesmo com a idade avançada, a um período de sucesso vivido na infância. Como
aceitar a passagem do tempo inexorável, que deixa suas marcas impiedosas
principalmente no rosto das mulheres que foram lindas? Tentativas desesperadas
de preservação da fase áurea da vida podem criar,via cirurgias plásticas,
verdadeiros monstros. É certo que a forma com que as pessoas encaram o ocaso da
existência varia muito. Muitos atletas poderosos, exemplos de perfeição física,
acabam seus dias como instrutores, treinadores, e não se sentem infelizes com a
consciência das limitações que o tempo traz à prática do esporte que os
consagrou durante a vida.
Pensando
nessas questões, o ator Dustin Hoffman, já com 75 anos, produziu e dirigiu “O
Quarteto”, sobre um grupo de músicos aposentados que vivem juntos numa “Casa de
Repouso” luxuosa, embora prestes a fechar as portas. Eles são representantes
principalmente da música erudita, instrumentistas e cantores de ópera. Para
eles o envelhecimento é muito mais complicado: As vozes já não alcançam as
notas, o fôlego já não é o mesmo, e muitas vezes a audição diminuída pode ser
uma perversa contribuição para a piora do quadro geral... “O Quarteto” leva
essas questões com leveza e bom humor. A história é ótima, embora completamente
inverossímel. Um ótimo elenco se encarrega de garantir o interesse do começo ao
fim, e isso é feito na dose certa, pois o filme é enxuto, com cerca de 90 min
de duração.
O
saboroso desenrolar da trama não nos prepara sustos, nem reviravoltas. O
espectador aguarda, naturalmente, que a reunião do quarteto de cantores, com
todas as limitações possíveis advindas da idade, com a guerra de egos que nunca
tem fim, com um romance requentado, chegue a bom termo. A forma com que Hoffman
conduz a trama, ocultando delicadamente as vozes dos quatro cantores quando
rolam os ensaios do Rigoletto, de Verdi, é envolvente e chega a comover. O que
veremos? Um fiasco provocado pela perda natural do potencial vocal do quarteto?
Um sucesso retumbante que coloque velhos e conhecidos astros e estrelas da
música lírica sob os holofotes da mídia e aplausos da crítica? A solução é mais
do que original e apropriada.
Apesar
de todo o elenco ser muito competente, Maggie Smith, naturalmente, rouba a
cena. A grande dama do cinema inglês mais uma vez impõe sua figura extraordinária para compor uma
cantora lírica de ego inflado, cheia de recordações dolorosas, e que precisará
reavaliar seu comportamento diante dos outros, da velhice e da arte. Smith é
muito bem acompanhada por Tom Courteney, Pauline Collins e Billy Connolly.
“O
Quarteto” não é uma obra-prima, nem sequer um grande filme. Mas pode ser visto
com muito prazer e com muita ternura. Não há amargura no desenrolar da
história, e mais uma vez vemos, pelos olhos de um cineasta, que na vida do
artista sempre haverá espaço para o brilho antes que se fechem as cortinas!
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