terça-feira, 19 de julho de 2011

O GRANDE DIRK BOGARDE

Por José Farid Zaine

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Boa notícia para os cinéfilos: em setembro deve chegar às locadoras o DVD do filme “Meu Passado Me Condena” (Victim), de 1961, com Dirk Bogarde. Ele foi exibido em junho no TCM, canal pago que exibe clássicos do cinema, numa semana dedicada à diversidade sexual, aliás o que o GNT também fez. No TCM, a programação especial foi colocada num programa chamado “Orgulho e Preconceito”. O espaço dado a um filme como “Meu Passado Me Condena” é louvável, pois além de ser uma obra forte, vigorosa, é também um exemplo de coragem: na Inglaterra do início dos anos 1960 o homossexualismo era considerado crime. Tratar, portanto, do tema, pela primeira vez explicitamente, indicava alto grau de ousadia, um tapa na cara da hipocrisia. Somente seis anos mais tarde, em 67, seria abolida a retrógrada lei britânica, num tempo em que começava a explodir a filosofia “paz, amor e música”, universalizada por Woodstock pouco depois, consagrada pela liberação dos costumes e pelo amor livre cantado pelos hippies, principalmente nos EUA.


Quem não viu ainda “Meu Passado Me Condena”, filmado em branco e preto, terá a chance de conferir um dos momentos mais importantes da carreira do grande ator inglês Dirk Bogarde, ele próprio muito corajoso na época, por conta de sua homossexualidade, não se importando de se expor num papel assim, nem de ameaçar uma carreira que poderia, confortavelmente, ser a de um belo galã hollywoodiano. Bogarde preferiu manter suas convicções, fortalecendo, com muitos de seus filmes, uma filmografia invejável, pelo alto grau de qualidade das obras que estrelou. Entre elas está um dos mais belos, profundos e apaixonantes filmes de todos os tempos, a obra-prima “Morte em Veneza”, de Luchino Visconti, baseada em outra obra-prima da literatura universal, o romance homônimo de Thomas Mann. Impossível uma pessoa dizer que conhece cinema, se não viu “Morte em Veneza”. Aqui, Bogarde dá vida ao músico Gustav Von Aschenbach (no livro um escritor), numa Veneza assolada pela peste, atormentado por suas lembranças e pelos sentimentos despertados pela beleza de um adolescente. A interpretação de Dirk Bogarde é um marco no cinema. Mas há outros grandes momentos seus que merecem ser vistos e revistos. Que tal, da mesma forma que sugeri uma “Mostra Hitchcock” ou uma “Semana Woody Allen” em sua casa, montar agora uma “Mostra Dirk Bogarde”?


Podem começar, então, a prestar atenção à programação do TCM, e esperar a reprise de “Meu Passado Me Condena”, ou aguardar seu lançamento em breve nas locadoras e sites de vendas. “Victim”, como é chamado no original, tem Sylvia Syms no elenco e é dirigido por Basil Dearden.


Além de “Morte em Veneza”, outro ponto alto da filmografia de Visconti é “Os Deus Malditos”, também estrelado por Bogarde, com Ingrid Thulin e outro preferido do diretor, o ator Helmut Berger, astro de “Ludwig”, o terceiro da mais célebre trilogia do genial cineasta italiano.


Somente essas grandes obras-primas justificariam toda uma carreira. Mas Dirk Bogarde estrelaria ainda um magnífico suspense, “Todas as Noites às Nove” (Our Mother´s house”, de 1977), um dos meus favoritos do gênero, dirigido por Jack Clayton, que já havia dado ao mundo uma outra obra-prima inquestionável, “Os Inocentes”, com Deborah Kerr, em 1961, baseado no livro “A Outra Volta do Parafuso”, de Henry James.


Um filme que eu adoraria ver na TV aberta ou paga, em DVD ou qualquer mídia, é outro estrelado por Bogarde: “O Vento Não Sabe Ler” (The Wind Cannot Reed), melodrama de Ralph Thomas, em que ele vive um romance com Yoko Tani, a atriz japonesa que ficou famosa internacionalmente. Quem tiver notícia desse filme, avise-me, por favor...ele não pode faltar à minha “Mostra Dirk Bogarde”. Nessa mostra outro filme que deve estar presente é “Sonho de Amor” (Song without End), a biografia do grande pianista e compositor húngaro Franz Lizst, concentrada na sua tumultuada relação amorosa com duas mulheres, interpretadas por Genevieve Page e Capucine.


E há ainda “Darling – A Que Amou Demais”, “Uma Ponte Longe Demais” e “Na Glória, a Amargura” (I Could Go On Singing), de 1963, dirigido por Ronald Neame e em que ele contracena com Judy Garland! Este filme marcaria a história do cinema para sempre, por ser um reflexo da atormentada vida de Judy e seu último trabalho no cinema.


Dirk Bogarde nasceu em Londres em 1921 e aí morreu em 1999, deixando sua marca numa memorável filmografia, que hoje temos a feliz chance de ver e rever, a partir do lançamento de “Meu Passado Me Condena”, ótimo por si só, mas também por chamar a atenção para a carreira de um dos maiores atores do cinema inglês de todos os tempos.

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