sexta-feira, 1 de julho de 2011

UMA CASA SEM LUZ E BRILHO NAS PRATELEIRAS



Por José Farid Zaine

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Muitos filmes que marcaram o Oscar 2011 já estão nas prateleiras das locadoras. Cada vez mais cedo, os filmes chegam ao DVD e Blu-Ray, satisfazendo aos que preferem a sala de estar de sua casa ao compartilhamento do escurinho nos cinemas...Aliás, as salas exibidoras estão mais sofisticadas, mais bem equipadas e buscando atrativos para “fisgar” o espectador. Salas com projeção e som ruins vão ficando, com muita justiça, condenadas ao esvaziamento. É o que merecem as empresas que não investem no melhoramento de suas salas, principalmente em cidades onde não há concorrência. Bom para quem pode viajar e escolher onde ver, com a qualidade que o cinema hoje oferece, os lançamentos mais recentes. Em Limeira, infelizmente nem o 3D, que já não é mais novidade, chegou ainda. Esperava-se que isso acontecesse no início do ano, mas o incidente no Shopping, com o desabamento do teto da Praça de Alimentação, com certeza atrapalhou o andamento da chegada dessa tecnologia que ganhou notoriedade, principalmente pelo já longínquo lançamento de “Avatar”. Mas vamos às indicações da semana.


Estreou no Brasil na sexta passada o filme uruguaio “A Casa” (La Casa Muda), terror de baixíssimo orçamento, que remete – em termos de produção - ao sucesso e à fama instantânea de “A Bruxa de Blair”. “A Casa”, dirigido por Gustavo Hernandez, tem seus méritos, mas é preciso conhecer sua história: o filme foi feito em uma só locação,num só plano-sequência, numa casa abandonada, e a iluminação foi inteiramente feita com a luz da lanterna carregada pela protagonista durante os quase 80 minutos de duração. Isso posto, compreende-se a escuridão em que se desenvolve a trama, toda passada no interior de uma casa deteriorada, com janelas trancadas e lacradas, onde não entra a luz do dia, e onde a noite, logicamente, é mais escura, já que não há eletricidade. O roteiro foi baseado num fato verídico acontecido no Uruguai, nos anos 1940, em que dois homens aparecem assassinados numa casa, com os corpos mutilados e com fotos de uma Polaroide ao lado deles. No filme, a personagem Laura e seu pai chegam com o proprietário a essa casa que deverão limpar e cujos arredores deverão ser capinados. A primeira noite no lugar, entretanto, trará momentos de terror e angústia. Há sequências com certa densidade, que carregam no suspense e na dramática situação da protagonista. As reviravoltas do enredo, contudo, não satisfazem, e sempre fica no ar a sensação de que algo não foi revelado ou, melhor dizendo, não foi suficientemente mostrado. O que era para ser o grande trunfo do filme, acaba também sendo seu maior problema. De qualquer maneira, não dá para ignorar um lançamento desses. Cinéfilos, confiram, principalmente para tentar compreender como um filme desses foi parar em Cannes, na seleção oficial.


E para quem perdeu os vencedores do Oscar, eles agora estão nas prateleiras das locadoras. Boa chance para conferir porque nosso quase totalmente brasileiro “Lixo Extraordinário” perdeu para “Trabalho Interno”( Inside Job) na categoria Documentário. Os dois foram lançados. “Trabalho Interno”, dirigido por Charles Ferguson e narrado por Matt Damon, é mais pesadão, mas vai fundo na questão da crise financeira mundial de 2008, no Brasil – ainda bem – chamada de “marolinha”. O verdadeiro tsunami financeiro arrasou economias mundo afora, colocando em risco o equilíbrio universal. Não é fácil compreender os intrincados mecanismos que colocaram no mesmo saco banqueiros, políticos e acadêmicos. Ferguson teve coragem para cutucar, sem medo, todos eles. Mas “Trabalho Interno” deixa a incômoda sensação de que tudo, a qualquer momento, possa fazer com que o cenário mude novamente, e para pior...Não estaríamos vendo na Grécia e Portugal, só para citar dois países europeus, novos protagonistas de algo parecido com “A Crise – O Retorno”? Tomara que não.


Bom, a comparação é inevitável, e como fanáticos torcedores pelo que é nosso – ou quase – vamos achar que “Lixo Extraordinário”, o documentário sobre o artista plástico brasileiro Vik Muniz e seu contato com os catadores de lixo do maior aterro sanitário da América do Sul, no Rio de Janeiro, é melhor e deveria ter ganho. É só alugar os dois, curtir e tirar conclusões.


Mas as prateleiras, em termos de Oscar 2011, estão bem generosas. Quem não viu nos cinemas, pode ir correndo alugar “Cisne Negro”, o filme de Darren Aronofsky que deu o Oscar de melhor atriz para Natalie Portman, com a atormentada e maravilhosa música de Tchaikovsky e sua sequência final operística. Não, “Cisne Negro” não ganhou a estatueta de melhor filme, mas dá para comparar vendo o vencedor. Opa, na verdade há “O Vencedor”, que também não foi escolhido melhor filme, mas levou os prêmios de ator e atriz coadjuvantes ( Christian Bale e Melissa Leo). Para não fazer confusão, recomendo então, “o ganhador”, que foi o belo e britânico (com as qualidades e os defeitos que esse adjetivo prevê) “O Discurso do Rei”, que deu ao seu protagonista, Colin Firth, talvez o Oscar mais merecido de 2011.


Bom, temos lançamentos para satisfazer a todos: tanto a quem busca o terror de uma casa sem nenhuma luz, indo ao cinema, quanto os que preferem o brilho dos astros e estrelas adormecidos nas caixinhas de DVDs e Blu-Rays, para acordá-los em sua casa, iluminando a tela da TV.

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