terça-feira, 28 de junho de 2011

MEIA-NOITE EM PARIS

Por José Farid Zaine

farid.cultura@uol.com.br

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Imagine que vocês estão em Paris, andando por todos aqueles cenários que habitam os sonhos de todos os românticos do mundo...Imagine também que irão, quando soarem as badaladas da meia-noite, aos lugares freqüentados por Scott Fitzgerald e sua mulher, Zelda, Ernest Hemingway, Gertrude Stein, Pablo Picasso, Salvador Dali, Luis Buñuel, Toulouse Lautrec, Cole Porter, e o mais incrível: eles estarão lá, e vocês conversarão e conviverão com eles...Se acham que isso é loucura, que é impossível, estão errados. Basta verem o novo filme de Woody Allen, “Meia-Noite em Paris”, e entrarem nessa viagem fantástica, deliciosa, conduzidos por um diretor que já demonstrou sua paixão por Nova York, sua cidade, de tantas formas, sendo a mais bela delas em “Manhattan”... Qual seria o amor mais bem retratado por Allen a um outro lugar, fora de sua cidade natal? A Barcelona de “Vicky Cristina Barcelona”? Londres de “Match Point”? Não, não. Paris ganha de todas elas. Ganha a mais bela homenagem que um cineasta poderia fazer a uma cidade. Neste seu mais recente filme, a abertura já nos conduz a um passeio absolutamente maravilhoso por Paris, pelos mais conhecidos cartões postais da cidade-luz, mas de uma forma totalmente nova...andamos pelas ruas da cidade, passamos por seus mais célebres monumentos, como a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo, vemos seus famosos telhados, frequentamos o Maxim´s e o Moulin Rouge, Versailles, o Louvre, o Sena...Desse jeito parece que estou falando de um documentário, ou de uma daquelas comédias românticas que servem para fomentar o turismo de certa região... Sim, ficamos apaixonados por Paris ao ver o filme de Woody Allen, mas o envolvimento com o cenário desta vez não vem em forma de propaganda de uma agência de viagens. Esse envolvimento vem através de uma história encantadora, colocada num roteiro perfeito.


Owen Wilson , ótimo, dá vida a Gil,um roteirista de Hollywood, conceituado e bem-sucedido, mas que se sente frustrado por não ser o escritor que deseja. As circunstâncias o levam, junto com sua noiva,Inez (Rachel McAdams) a fazer uma viagem a Paris, onde os pais dela (Kurt Fuller e Mimi Kennedy) cuidarão de negócios...Gil é daqueles que acham que o passado é sempre melhor que o presente, que outras épocas são melhores. Veremos que essa discussão interessante, ganha corpo no filme, sendo responsável por momentos divertidos e inteligentes, com os costumeiros diálogos afiados de Woody Allen. Importante nesse aspecto da história é a presença da personagem Adriana, que teria sido um dos amores de Picasso e modelo de uma de suas obras. Adriana é interpretada por Marion Cotillard, hoje uma das mais conceituadas e requisitadas atrizes francesas, cuja carreira foi impulsionada internacionalmente com o Oscar que ela ganhou, merecidamente, por “Piaf”.


A graça e a beleza de “Meia-Noite em Paris” são acentuadas pela forma com que o fantástico é mostrado, como se a magia da noite parisiense permitisse tudo, e nada parecesse surreal. O mágico e o fantástico já habitaram outros filmes de Allen, e um deles também ostentava uma beleza e uma poesia inigualáveis: “A Rosa Púrpura do Cairo”, em que a personagem vivida por Mia Farrow, para fugir de uma realidade dura e triste, literalmente entrava dentro de um filme. Gil, o escritor de “Meia-Noite em Paris”, quer entrar no passado, fugindo de um presente que não gosta de encarar.


As escolhas de Owen Wilson e Marion Cotillard foram acertadíssimas, mas não as únicas. Kathy Bates está perfeita como Gertrude Stein, e Adrien Brody, que ganhou o Oscar por sua estupenda atuação em “O Pianista”, está impagável como Salvador Dali. E outro toque esperto no elenco: Carla Bruni , a linda primeira-dama francesa, faz o papel de guia de um museu, e parece muito à vontade nessa tarefa...


Tudo funciona em “Meia-Noite em Paris”, do roteiro magnífico à fotografia que realça as decantadas belezas de Paris, seja à luz da manhã, do entardecer, da noite iluminada, ou da madrugada chuvosa. Claro, a trilha sonora é mais do que perfeita.


“Meia-Noite em Paris” é o maior lançamento de um filme de Woody Allen no Brasil, e teve a maior bilheteria de estréia dentre seus filmes, levando cerca de 126 mil espectadores aos 98 cinemas das 24 cidades em que foi lançado. Nos EUA o filme também vai muito bem nas bilheterias, e pode se transformar no maior sucesso do diretor em seu país.


Estamos no inverno brasileiro, quase entrando nas férias de julho. Pensem numa viagem magnífica e barata para a capital francesa, amigos leitores e leitoras. Ela pode ser feita comprando um ingresso para ver a nova joia de Woody Allen...e lembrem-se: não durmam cedo em Paris, pois são as badaladas da meia-noite que anunciam os momentos mais saborosos...

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