quarta-feira, 1 de junho de 2011

TAPETE VERMELHO NA SALA DE ESTAR

Por José Farid Zaine
farid.cultura@uol.com.br
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Recentemente anunciamos aqui no Cineart alguns dos filmes aguardados de 2011. Um dos que mencionei foi “A Árvore da Vida”, de Terrence Malick, com Brad Pitt e Sean Penn. Pois o filme acaba de ganhar a Palma de Ouro de 2011, no mais prestigiado Festival de Cinema do Mundo, o Festival de Cannes. Malick é considerado um diretor arredio, avesso às badalações, e que produz pouco. Seus filmes, contudo, sempre são notícia, e invariavelmente ganham a atenção dos críticos e do público. As notícias e o trailer dão conta de que o filme é belíssimo, isso dá pra falar só pela amostra. O esmero visual dos filmes do diretor são marcas conhecidas. Um deles, inclusive, Days Of Heaven, ganhou o Oscar de Melhor Fotografia. Fiquemos, então, antenados com os lançamentos que vem por aí, porque um deles é exatamente o do filme ganhador da Palma de Ouro deste ano, “A Árvore da Vida”, com estreia prometida para 24 de junho, dia de São João.

Como o assunto que estou abordando é Cannes, sugiro aos caros leitores e leitoras que, enquanto aguardamos a estréia do laureado deste ano, façamos uma viagem pelos últimos anos para conferir os ganhadores desse glamuroso e fundamental festival. Chance para que, quem não viu nas telas grandes, veja agora, pelo menos em DVD.

O vencedor do ano passado, o polêmico filme tailandês “Tio Boonmie, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas” fez curta carreira nos nossos cinemas (quando digo “nossos”, refiro-me às capitais), e ainda não saiu em DVD. Esperemos.

O vencedor de 2009 também já indiquei aqui, mas nunca é demais reforçar: trata-se do belo e enigmático “A Fita Branca”, filme alemão dirigido pelo austríaco Michael Haneke. Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, perdeu para “O Segredo de Seus Olhos”, da Argentina. Injustiça. Não que o filme argentino seja ruim; pelo contrário, é ótimo. É que “A Fita Branca” é instigante e provocativo ao tocar numa ferida da história alemã, o nazismo, e buscar – de forma paradoxalmente poética – as origens embrionárias desse câncer do nosso tempo. Um filme a ver e rever, estudar, comentar.

Em 2008, tivemos a França vencedora com o magnífico “Entre Os Muros da Escola” (Entre Les Murs), bastante visto por aqui, e até já exibido em nossas escolas. Num tempo em que a educação está “bombando” na internet, por conta do sucesso do depoimento da Profa. Amanda Gurgel, do Rio Grande do Norte, vale a pena dedicar um tempo a esse digno exemplar sobre o tema, apesar do enfoque diferente.

“Quatro Meses, Três Semanas e Dois dias”, o filme romeno ganhador da Palma de Ouro em 2007, pode causar estranheza por causa do título. Mas é só começar ver a densa história para logo compreendermos de que se trata esse período de tempo. O filme é forte e contundente, e não se presta a amenizar fatos pesados ou dolorosos, daí a ser indigesto para um público mais acomodado.

Voltemos um pouco mais no tempo, para 2003, e busquemos o estupendo “Elefante”, de Gus Van Sant. Após a tragédia brasileira do massacre dos estudantes em Realengo, no Rio de Janeiro, esse filme perturbador ganha outra dimensão. Não é para nenhuma sessão da tarde, mas é indispensável para quem deseja conhecer os filmes que marcarão a década passada para sempre.

O vencedor de 2002 é outro exemplar maravilhoso dos filmes sobre os horrores da Segunda Guerra. Aqui estamos em Varsóvia, Polônia, na verdade nos escombros da cidade, onde se esconde um pianista judeu vivido por Adrien Brody de forma espetacular, tanto que ganhou o Oscar de melhor ator, junto com Roman Polanski, o diretor também premiado. Conduzido com maestria, o drama se desenrola num clima de tensão, suspense e emoção constantes.

Em 2001 vimos a Palma ir para a Itália, com merecimento e louvor. O filme vencedor foi “O Quarto do Filho” (La Stanza Del Figlio), de Nanni Moretti. Um psicanalista e sua família são destroçados por um trágico acontecimento, a morte por afogamento do filho adolescente. O espectador é lançado para dentro desse drama envolvente, que não poupa ninguém ao mostrar a crueza da morte e de como somos obrigados a encará-la. Belíssimo e comovente.

Cannes tem cumprido, como se vê pelos exemplos citados e que podemos achar facilmente nas locadoras, seu papel de grande revelador de obras e autores de vital importância para a história do cinema.

E o Brasil? Voltemos a 1962 para ver a obra-prima de Anselmo Duarte, “O Pagador de Promessas”, nosso único detentor do prêmio máximo do festival. Quem não viu, não tem perdão.

Estendamos o tapete vermelho em nossa sala de estar. A todos, uma ótima viagem ao fascinante mundo de Cannes.

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