sexta-feira, 17 de junho de 2011

DE VOLTA AO CINE VITÓRIA


Por José Farid Zaine

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O Teatro Vitória, que foi o Cine Vitória por décadas e que, como todo “cinema de rua” teve seus dias de glória e seu declínio, experimenta agora um pouco de retorno a essa história com o Projeto Cine Cultura, iniciado no dia 19 de maio com a exibição do longa de Marcelo Laffitte “Elvis e Madona”. O público aprovou, comparecendo em massa e lotando o cinema. A experiência prossegue na próxima quarta-feira, dia 15, com um programa duplo digno dos melhores festivais de cinema: na abertura um excelente curta-metragem vencedor nessa categoria no festival de Paulínia de 2010: “Eu Não Quero Voltar Sozinho”, dirigido por Daniel Ribeiro. A história, contada com leveza ímpar, é a de três estudantes de uma mesma classe, um deficiente visual (Guilherme Lobo), a amiga que o acompanha na volta para casa (Tess Amorim), e o novo aluno que chega (Fábio Audi). O ator Fábio Audi, que esteve recentemente na Secretaria da Cultura, acertando detalhes de um curta que será realizado em Limeira, deverá estar presente.


Depois do curta, virá a exibição de “Bodas de Papel”, dirigido por André Sturm. André é conhecido nos meios culturais por ter sido até há poucos dias o Diretor da Unidade de Fomento e Difusão Cultural da Secretaria de Estado da Cultura. Ele ficou muito ligado a Limeira, por causa do Festival Paulista de Circo, cuja sede é nossa cidade desde 2008. Na semana passada André deixou a Unidade de Fomento e foi nomeado Diretor do Museu da Imagem e do Som, o MIS. Ele foi notícia recentemente, por ser o dono do Cine Belas Artes, um dos ícones da cultura paulistana, desativado após um período de negociações infrutíferas com os proprietários do prédio, para frustração de todos os cinéfilos.


André Sturm, o cineasta, produziu e dirigiu “Bodas de Papel”, um drama delicado sobre um intenso relacionamento amoroso numa pequena cidade do interior paulista. O título faz referência à comemoração, por um casal, do primeiro aniversário de união. O casal em questão é formado por Nina, uma linda mulher (Helena Ranaldi) que compra a casa onde seu avô morou e onde estão impregnadas as lembranças de sua infância, cheia de histórias que não podem terminar, para que a vida prossiga com interesse. Nina vem para Candeias, a cidade fictícia onde se passa a ação, e que seria destruída pela construção de uma Hidrelétrica. Com a desistência da construção, por parte do governo, os habitantes começam a voltar, e um processo de reconstrução e revitalização é iniciado. Para se integrar a esse trabalho chega a Candeias um arquiteto argentino, Miguel, vivido por Dario Grandinetti. Nina e Miguel se conhecem e se apaixonam. A história dos dois vai sendo contada ao longo do filme, que flui com delicadeza e simplicidade. Presente e passado vão se misturando com naturalidade, assim como fábulas seculares são narradas geração após geração. Como a vida em seu curso, o filme registra um cotidiano de amores, amizades, memórias, coisas que se constroem e se destroem, como a morte física e a ressurreição permitida pelas lembranças.


“Bodas de Papel” tem uma produção simples, como convém ao ambiente em que se desenrola a trama, cheio de casas bucólicas, com seus jardins, seus vasos de flores, seu café feito em coador de pano...Helena Ranaldi está perfeita como Nina. As presenças de Walmor Chagas e Cleyde Yaconis, ambos com mais de 80 anos, é que dão ao filme seus momentos de maior frescor. O avô contador de histórias cai muito bem para Sérgio Mamberti. A trilha sonora é perfeita, com música original de Alexandre Guerra e uso adequado de temas conhecidos como “Stabat Mater”, de Vivaldi, o Adágio, de Albinoni, além da célebre ária “Uma Furtiva Lagrima”, da Ópera de Donizetti, “O Barbeiro de Sevilha”. Como a personagem masculina principal é o argentino Miguel, a referência musical óbvia, o tango “El Dia Que Me Quieras”, com Carlos Gardel, surge apropriadamente, até como parte de uma outra história eternamente recontada.


Na próxima quarta, então, às 20 h , no Teatro Vitória, com entrada franca, teremos encontro com dois momentos marcantes do novo cinema brasileiro: um curta que revela enorme talento de seu diretor e de seu jovem elenco e um longa que nos envolve na sua atmosfera delicada temperada por amores e lembranças. Dois filmes sobre a vida como ela é, com sua alternância de encontros e despedidas, encantos e desencantos, dias de amores e paixões, tempos de solidão e tristeza...mas sempre com a certeza que nos passa o poeta H.W. Longfellow em seu célebre poema “The Rainy Day”: mesmo que os dias sejam chuvosos, lúgubres e frios, por trás das nuvens o sol continua brilhando.


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