segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O PLANETA DE CHARLTON HESTON

Por José Farid Zaine

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Em 1968, o mundo conheceria uma versão chocante e fascinante de sua história, do seu passado e do seu futuro. Estreava nos cinemas o primeiro filme de uma longa série, mas que marcou definitivamente o gênero ficção científica. Naquele ano, o mundo vivia em turbulência, numa febre de mudanças e de criatividade artística num período de efervescência cultural jamais igualado. Há quem diga que é o ano mais emblemático da história. Pois surgiu nesse ano o filme de Franklin Shaffner, com a espantosa maquiagem que criava macacos falantes com absoluta perfeição, até hoje copiados. A plateia vibrava com a história do comandante George Taylor, que chega a um planeta misterioso dominado por macacos. Eles falam, comandam tudo, há entre eles políticos, historiadores e cientistas que estudam...humanos! Esses são escravizados e desprovidos de fala. Que planeta seria esse, em tudo semelhante à Terra, não fosse por seus habitantes, tanto os dominadores quando os dominados? Taylor teria que passar por muitas provações, até chegar ao final aterrador de suas indagações. Uma das mais inteligentes, magníficas e dramáticas sequencias finais da história do cinema estava ali, nos últimos minutos de “O Planeta dos Macacos”, com Charlton Heston. As sequências que viriam depois jamais igualariam o impacto desse primeiro filme, nem mesmo sua refilmagem por Tim Burton, no ano de 2001, contando com uma participação especial do próprio Heston.


Estreou na semana passada em todo o Brasil um novo filme sobre o tema para ganhar novas gerações e conquistar ou não a simpatia dos milhões de fãs da saga em todo o mundo. Trata-se do sucesso imediato de público “O Planeta dos Macacos – A Origem”, dirigido por Rupert Wyatt, estrelado por James Franco. Já não há Charlton Heston. O grande heroi do cinema , o poderoso e viril salvador do mundo em todas as situações possíveis, morreu em 2008, aos 84 anos de idade, com o corpo deteriorado pela velhice e por uma doença degenerativa...coisas da vida, do tempo implacável. Ficaram, contudo, eternizadas pelo poder do cinema, as imagens desse ator marcado por personagens ligadas à força, ao heroísmo, ao destemor...


Nos anos 1950 e início dos 60, Charlton Heston estrelou seus maiores e mais significativos filmes, dentro de uma enorme filmografia. Qualquer estudioso da sétima arte jamais poderá deixar de conhecer os monumentais filmes em que atuou, fixando sua imagem de força, colada a personagens com imenso poder de liderança, sempre ligadas a histórias relevantes de fé e de busca pela igualdade social e pela justiça. Em 1956 ele foi Moisés, guiando seu povo através do deserto, em busca da terra prometida numa das mais espetaculares superproduções até então já realizadas, com o gosto duvidoso do seu diretor, Cecil B. DeMille. Não há como negar, contudo, o encanto desse filme cheio de efeitos especiais espantosos para a época (ganhou o Oscar nessa categoria), como a cena em que o mar vermelho se abre para a passagem da multidão que foge do Faraó Ramsés, e depois se fecha sobre os soldados do tirano.


Em 1961 chega às telas a história de Rodrigo Dias de Bivar, herói espanhol que comanda uma batalha mesmo depois de morto...quem poderia encarná-lo? Heston, claro, e assim ele o fez no belíssimo épico “El Cid”, dirigido por Anthony Mann, contracenando com Sophia Loren no auge da beleza...mas o maior de todos os valentes herois de Charlton Heston foi mesmo a personagem título de “Ben-Hur”, de 1959, dirigido por William Wyler, em que ele ganha o Oscar de melhor ator, um dos onze prêmios da Academia arrebatados pelo filme, record absoluto até então, só igualado quase meio século depois por “Titanic” em 1997, e por “O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei”, em 2003. Os três recordistas são filmes grandiosos, tecnicamente perfeitos, mas “Ben-Hur” é inigualável, por sua história humana e comovente, por sua trilha sonora magnífica, e sobretudo pela corrida de bigas, uma das sequências mais espetaculares e bem feitas de todos os tempos. Mas seria injusto não mencionar, na filmografia de Charlton Heston, o clássico “A Marca da Maldade”, do gênio Orson Welles, obra que revelou suas qualidades de ator dramático, através de personagem desvinculada das figuras históricas.


Fiquemos com essa estreia nos cinemas, digna e tecnicamente irrepreensível, como manda o figurino dos nossos tempos de alta tecnologia, mas sem negar um olhar para o verdadeiro início de tudo, o filme de 1968. Todos já sabem o que vão encontrar vendo esse DVD, mas vale a pena vê-lo antes de assistir a essa nova aventura que acabou de estrear, para revelar o que aconteceu no Planeta até o momento em que a Estátua da Liberdade, soterrada até a altura do peito, escancara o que o homem fez com seu próprio lar. Aí, até a montanha vigorosa de músculos de Charlton Heston precisou se curvar e urrar de indignação.

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