Por José Farid Zaine
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Acaba de ser lançado em DVD o novo filme de Peter Weir, “Caminho da Liberdade” (The Way Back), com duas horas de sofrimento no meio da mais inóspita paisagem da terra, a Sibéria... Imagine um campo de concentração nos confins do mundo, quando a temperatura é usualmente muitos graus abaixo de zero. Fugir de uma prisão dessas? Como? Para onde? Se escapar dos algozes humanos, como escapar da natureza ? Ela está lá, com sua neve, suas rajadas de vento, seu movimento e sua inércia, tudo acontecendo sem que a presença humana tenha a menor relevância. Pois é nesse cenário de “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, que uma dramática e intensa história sobre os limites humanos, sobre a capacidade de superação e sobre a busca pela liberdade transcorre. A paisagem é violenta, mas carrega uma beleza inquestionável. A fotografia é um dos trunfos do drama, e é inegável que ela consegue conquistar uma plasticidade impressionante. Ambientado em 1941, durante a Segunda Guerra, o filme tem no elenco Ed Harrris, Colin Farrel, Mark Strong e Saoirse Ronan, entre outros. Muitos críticos fecharam a cara para o filme.
Peter Weir é bem conhecido do grande público por vários filmes que investigam o ser humano em situações que exigem coragem, obstinação e crença no poder da fé. Para acompanhar a filmografia desse cineasta, há bons filmes que podem anteceder ou suceder a ida à locadora para tirar da prateleira o novo “Caminho da Liberdade”, e conferir se a crítica mais azeda teve alguma razão. Alguns dos filmes mais conhecidos do diretor:
- MESTRE DOS MARES – Estrelado por Russel Crowe e Paul Bettany, a aventura dramática tem um visual deslumbrante para contar uma história inteiramente transcorrida em navios sobre o mar. O filme é de 2003 e foi indicado ao Oscar em dez categorias e ganhou Fotografia e Edição de som. Concorria com “O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei”, que ganhou 11 estatuetas. Nosso “Cidade de Deus” também concorria. Ano ingrato... “Mestre dos Mares” não alcançou o sucesso esperado, mas é algo que se vê sempre com interesse.
- SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS (Dead Poet Society) – Quando se fala em filmes sobre escola, estudantes, professores, não há quem não mencione esse drama de 1989, estrelado por Robin Williams e que lançou Robert Sean Leonard. O roteiro é bom e a história agrada até hoje, ao retratar o cotidiano de uma rígida escola inglesa , nos anos 1950, os conflitos naturais entre os estudantes, seus professores, a direção, a família, tudo conforme as regras morais da época, as normas arcaicas de disciplina...Quando tudo o que é ruim e sufocante parece dominar, a luz vem de um professor (Williams) e seus métodos pouco ortodoxos que, como era de se esperar, geram amor e ódio em proporções gigantes. O filme celebrizou e popularizou a expressão “Carpe Diem” (em latim, aproveitem o dia), um dos mandamentos do professor. Levado com um certo equilíbrio entre emoção, leveza e mão pesada, o drama escolar comove e encanta, por pouco escapando do melodrama. Recebeu indicações ao Oscar , ganhou na categoria “roteiro original”e sempre foi um sucesso, desde seu lançamento nos cinemas, depois no VHS e agora no DVD e no Blu-Ray.
- O SHOW DE TRUMAN (The Truman Show) – é o meu filme favorito do diretor. Antes que o mundo inteiro fosse contaminado pelos reality shows, Weir dirigiu este filme em 1998, tendo o elenco encabeçado por Jim Carrey. O comediante, no auge do sucesso pelos seus papeis cômicos, aqui usou seu talento completo na criação de uma personagem ímpar: um homem que tem, desde o nascimento, sua vida mostrada como um grande show de TV. Tudo no mundo dele é cenário, é roteiro, as pessoas que o cercam são atores e atrizes. Um diretor , com interpretação magnífica de Ed Harris, indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante, que é como se fosse o pai da criatura, monitora cada segundo da vida de Truman, único que não sabe de sua condição. Original e chocante, principalmente para a época em que foi lançado, há 13 anos, com recursos tecnológicos avançados , “O Show de Truman” encanta e emociona. A trilha sonora é belíssima. O filme foi indicado ao Oscar em três categorias, mas não levou em nenhuma . Ganhou prêmios mundo afora, e abriu muitas portas para o diretor Peter Weir , além de colaborar de forma definitiva para o reconhecimento do talento dramático de Jim Carrey, que foi esnobado pela Academia, num ano em que era uma grande aposta dos críticos e do público.
Fiquemos na companhia de Peter Weir e conheceremos seus mares bravios, sua neve impiedosa, seus poetas, além de ficarmos imaginando como seria a nossa vida sob uma grande redoma, vista passo a passo por uma audiência sedenta de emoções, num Big Brother levado às últimas consequências.
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