Por
José Farid Zaine
Twitter:
@faridzaine
Facebook:
Farid Zaine
Acesse
www.faridzaine.com
Quando
anunciaram que o novo Papa era o Cardeal
Jorge Mario Bergoglio, um argentino, muitos brasileiros ficaram desapontados,
porque torciam e tinham esperança de que , desta vez, teríamos um Papa
brasileiro, no caso o Cardeal Dom Odilo Scherer... “Justo um argentino?”,
gritaram alguns, levando para a questão religiosa de maior relevância para o
mundo inteiro, uma rivalidade baseada, sobretudo, no futebol, quesito em que o
Brasil ganha, pela história de conquistas de Copas do Mundo...embora haja
Maradona e Messi! Mas e se o caso for o Prêmio Nobel? A Argentina ganhou 5 vezes...já o Brasil...é lógico que merecia,
mas nunca ganhou. E no cinema? Duas vezes Oscar de “melhor filme estrangeiro”, enquanto que nós
... E agora o Papa? Humilhação demais, disseram muitos, num ímpeto momentâneo
de furor nacionalista. Mas foi só Francisco aparecer no balcão, com seu amplo e
iluminado sorriso, com seus gestos transbordantes de humildade, com seu nome revelador das intenções de um
verdadeiro santo, que imediatamente desapareceu sua nacionalidade para que
todos o aceitassem como um grande Pai,o que faltava, o que agora tem o mundo
como Pátria...
O
que teria sentido esse Jesuíta avesso ao luxo e à ostentação, nos momentos
cruciais das votações na Capela Sistina? O que teriam sentido, no fundo da
alma, cada um de seus companheiros? Impossível avaliar,mas uma ajuda
substancial pode vir da revisão de um ótimo filme do italiano Nanni Moretti,que
há algum tempo recomendei aos caros leitores e leitoras: “Habemus Papam”,
título que diz tudo sobre o assunto do roteiro...É extremamente oportuno ver ou
rever o filme de Moretti agora, principalmente quando sabemos que sobre os
ombros de Francisco pesa uma tarefa
monumental, a de enfrentar os escândalos da Igreja, financeiros, políticos e
sexuais. A ideia do artigo era indicar apenas filmes argentinos, mas não podia
deixar de mencionar esse original e atualíssimo exemplar da nova safra do
cinema italiano.
E o
cinema argentino? Até como homenagem à terra natal do Papa Francisco, vou
indicar um novo sucesso de nossos talentosos vizinhos e duas revisões
necessárias.
ELEFANTE
BRANCO
Ainda
em exibição nos cinemas, mas já com breve lançamento em DVD e Blu-Ray, podemos
ver a mais recente obra do diretor Pablo Trapero, “Elefante Branco”, com o onipresente – mas sempre ótimo – Ricardo
Darín. O Filme foi lançado no Brasil no final de 2012, portanto o momento é
mais do que apropriado para apreciá-lo, por muitos motivos: é argentino, e
estamos indicando filmes da terra do novo Papa, tem um grande diretor, um ator
magnífico e carismático, quase um símbolo do novo cinema argentino de
repercussão internacional, e seu tema é justamente a Igreja Católica em Buenos
Aires, mais precisamente numa favela
chamada Villa Virgen, onde atuam dois padres.
Os protagonistas de “Elefante Branco” são
esses padres bem intencionados que lutam por seus ideais e sua crença, que vão
além da função pastoral para cuidarem de questões sociais, intransigência da
polícia, omissão da política e da própria Igreja, sendo que esses são apenas alguns
dos ingredientes que conferem realismo e incrível atualidade ao longa. Não
haveria uma semelhança com um certo cardeal portenho, conhecido por seus
hábitos de extrema simplicidade e por sua coragem de enfrentar abertamente o
Poder Executivo da Argentina? Não dá pra não ver esse novo exemplar da rica
filmografia dos nossos vizinhos oscarizados... E, por falar em Oscar, vale uma
revisão dos dois que levaram a estatueta para a Argentina: “A História
Oficial”, de 1985 , e “O Segredo de Seus Olhos”,de 2010.
“A
História Oficial” é um contundente drama político ambientado na época da
ditadura militar, com a grande atriz Norma Aleandro, vencedora do prêmio de
Melhor Atriz em Cannes. Já “O Segredo de Seus Olhos”, com Ricardo Darín, história de um oficial de justiça aposentado
que passa a investigar o caso de estupro e assassinato de uma jovem, arrebatou
o Oscar desbancando a obra-prima “A Fita Branca”, de Michael Haneke, na época
representando a Alemanha.
Há
muito para recomendar dentre filmes argentinos de grande qualidade. Mas nestes
dias de grandes e promissoras mudanças, fiquemos com esses, para que o cinema
nos ajude a compreender melhor a Terra de Francisco!