sexta-feira, 28 de outubro de 2011

MIL MOSQUETEIROS

Por José Farid Zaine

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Athos, Porthos e Aramis, além de D´Artagnan, é claro, foram convocados para uma nova missão. Eles não tem descanso. O livro , desde seu lançamento, há mais de 150 anos, passa de mão em mão, geração após geração. E Hollywood não dá folga: volta e meia surge uma nova versão dessa aventura apaixonante, que se não encantasse e envolvesse as pessoas não seria esse sucesso tão duradouro. O cinema precisa desses romances cheios de ação e reviravoltas, heróis simpáticos e humanos, mulheres delicadas e vilãs impiedosas, traições e vinganças. Todos esses condimentos temperam a já secular aventura para a qual Alexandre Dumas deu o título de “Os Três Mosqueteiros”, mesmo que o público já soubesse que eles eram, na verdade, quatro, porque antes de se tornar livro Dumas publicou a história em forma de folhetim no jornal “Le Siècle”.


A nova investida do cinema em cima da obra de Dumas teria de ser, naturalmente, diferente das anteriores. Sim, aqui estão os mesmos heróis, o mesmo e ardiloso Cardeal de Richelieu, a bela e perversa Milady, os três beberrões, mercenários e muito, muito patriotas, acrescidos do jovem impetuoso que vem da zona rural para Paris( papel de Logan Lerman, D´Artagnan). Aqui está a necessidade de driblar as traições de Milady, e estão também as investidas do Duque de Buckingham, as tramas diabólicas do Cardeal de Richelieu, a delicadeza de uma rainha e a fraqueza de um rei. Tudo pela França é preciso ser feito...então, “um por todos e todos por um”. Tudo igual. O que mudou, então? A aventura agora nos chega com sofisticados efeitos especiais, a tecnologia muito em moda do 3D, bem utilizada aqui, diga-se, direção de arte espetacular, figurinos maravilhosos, fotografia apropriada, tudo para criar um visual perfeito, arrebatador, que tenha a tarefa de encobrir todas as outras falhas...além, claro, de conquistar o público adolescente.


“Os Três Mosqueteiros”, na versão de Paul Anderson, cumpre seu papel de ser um divertimento sem maiores pretensões. O cinema vive disso, também, e muito. As avassaladoras bilheterias das grandes aventuras embaladas por luxuosas produções estão aí para confirmar.


Grandes obras da literatura universal sempre terão muitas versões no cinema. Basta adaptá-las ao gosto das novas gerações, utilizando as conquistas tecnológicas. Por esse aspecto, não dá para reclamar das duas horas de duração de “Os Três Mosqueteiros”, personagens que não encontram aqui atores à altura de sua fama( Luke Evans, Ray Stevenson e Mattew Macfadyen, respectivamente Athos, Porthos e Aramis). Os vilões, então, deitam e rolam. Milla Jovovich, que já foi a Joana D´Arc de Luc Besson, se encaixa bem no papel de Milady, com direito a cenas que remetem a Matrix e outras aventuras modernas e futuristas. Caminho perigoso, esse escolhido por Paul Anderson, mas que não chega a comprometer, porque desde muito logo o espectador já percebe que o filme não tem qualquer compromisso com a verossimilhança. Isso se comprova mais fortemente nas cenas das batalhas aéreas, quem diria, entre dois navios que também são dirigíveis. A questão, então, é ver o que funciona como divertimento, e vale passar por cima da história e da cronologia das descobertas.


Christoph Waltz, que ganhou o Oscar de melhor ator coadjuvante no magnífico “Bastardos Inglórios”, de Quentin Tarantino, é quem dá vida ao Cardeal de Richelieu. Ele vai muito bem no papel, dosando de forma competente as marcantes nuances dessa personagem cobiçada por muitos atores.


Surpreendente é a presença de Orlando Bloom, interpretando o Duque de Buckingham, numa performance engraçada que o ator não deixou, por pouco, cair no ridículo.


E, para quem quiser comparar, sem saudosismos, esta versão com outras disponíveis em DVD, há o clássico espetacular de 1948, com Gene Kelly e Lana Turner, dirigido por George Sidney e a versão de 1993, dirigida por Stephen Herek, com Chris O´Donnel , Kiefer Sutherland e Rebecca de Mornay.


Estejam todos preparados, porque haverá muitas, muitas versões ainda dessa aventura inesgotável. No final desta versão de 2011, o aviso (ou a ameaça) de uma continuação nunca foi tão escancarado.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

ELVIS, MADONA E LEON CAKOFF

Por José Farid Zaine

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Hoje tem “Elvis e Madona” estreando por aqui, com duas sessões, às 19h10 e 21h10, no Arcoplex Pátio Limeira. O filme já é bem conhecido do público da cidade por causa da pre-estreia ocorrida no Teatro Vitória, no dia 19 de maio de 2011. Nessa noite inauguramos nosso Projeto “Cine Cultura”, com essa avant-première concorrida, com ótimo público. Na ocasião, esteve presente o astro do filme, o ator Igor Cotrim, intérprete do travesti Madona. Seu par é a atriz Simone Spoladore, intérprete de Elvis. O casal inusitado do filme de Marcelo Laffitte é, sim, formado por um travesti e uma lésbica... e eles se apaixonam. A história desse romance é recheada de encontros, desencontros, problemas familiares, violência, sexo e muito humor...


A pre-estreia de Elvis e Madona em Limeira foi marcante. Na mesma noite, autografou seu livro ali, na Galeria do Teatro Vitória, o jornalista e apresentador de TV, Luiz Biajoni, meu amigo escritor e cinéfilo. Bia escreveu um livro homônimo a partir do filme, do roteiro dele. O livro agradou e vem fazendo sucesso em muitas noites de autógrafos por todo o Brasil. Então existe uma ligação entre o filme e a cidade de Limeira, razão pela qual a Arcoiris Cinemas, empresa que é responsável pela programação das salas do Arcoplex Pátio Limeira, resolveu lançar o filme por aqui, apoiada pela Secretaria da Cultura e por uma campanha promocional na TV Jornal. Aproveito este espaço, em que já fiz meu comentário a respeito do filme, para convidá-los, leitores e leitoras, a prestigiarem as exibições dele por aqui. Vamos nos encontrar lá no nosso Shopping hoje, às 19h10, para um bate-papo e em seguida para curtirmos juntos esse exemplar do novo cinema brasileiro, um cinema cada vez mais em sintonia com seu público. “Elvis e Madona”, além de Igor Cotrim e Simone Spoladore, tem um maravilhoso elenco onde se destacam Maitê Proença, Buza Ferraz e José Wilker. O filme foi premiado em diversos festivais no Brasil e no exterior. Não percam.


E que relação existe entre “Elvis e Madona” e Leon Cakoff, proposta no título deste artigo? Acontece que Leon Cakoff, o criador da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, uma das maiores e mais importantes do mundo, morreu neste fim de semana, vitimado por um câncer. No ano passado “Elvis e Madona” foi exibido na Mostra, após uma noite de autógrafos do livro do Bia. Lembrei-me de Leon, com quem conversei longamente uma vez, lá na Mostra, a grande obra de sua vida. Leon era extremamente atencioso. Sua vida era integralmente dedicada a esse magnífico projeto, de importância única na cultura brasileira, e vital para a formação de cinéfilos...todos nós, que amamos o cinema, devemos muito, muito a Leon Cakoff. A Mostra de Cinema de São Paulo foi a única maneira de vermos centenas de filmes que jamais chegariam ao nosso circuito comercial...muitos filmes que vi ali nunca chegaram às salas exibidoras, nem sequer foram lançados em vídeo. Onde mais, tão perto, eu poderia ver um filme holandês e, em seguida, conversar com o diretor? Devo ao Leon poder ter feito isso e muitas outras coisas que me aproximaram ainda mais do cinema, alimentando minha mais antiga paixão.


Leon Cakoff nos deixa uma semana antes de ser iniciada a 35ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Ficou para sua esposa, a cineasta Renata de Almeida, que já vinha dirigindo com ele o evento, a tarefa de mantê-lo. Ela fará isso, com toda a certeza, pela competência própria e pelo aprendizado com Leon Cakoff, e ainda por ser a melhor forma de reverenciar sua memória.


Leon Cakoff morreu dia 14 de outubro, aos 63 anos. Iniciou a Mostra em 1977, com 16 longas e 7 curtas. Com o sucesso do Projeto, a Mostra chegou a exibir mais de 400 filmes em uma única edição, como aconteceu em 2010. Cakoff lutou bravamente contra a censura, no pior período da ditadura militar e foi vitorioso, contribuindo enormemente para manter viva a expressão artística e o crescimento cultural no País. Perdeu a luta contra o câncer, que derrotou seu corpo. Seu espírito guerreiro, contudo, estará presente nos milhares de filmes de todo o mundo que continuarão chegando até nós por causa dele...

terça-feira, 18 de outubro de 2011

NAMORADOS

Por José Farid Zaine

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Chega às locadoras o último filme de Ferzan Ozpetek, cineasta nascido na Turquia e radicado na Itália, “O Primeiro Que Disse” (Mine Vaganti). Trata-se de uma comédia dramática ambientada na cidade de Lecce, ao sul da Itália. Não será preciso dizer que a paisagem é belíssima, retratada por uma fotografia competente. Mas o filme está longe de ser uma daquelas comédias tipo “cartão postal” ou road movie turístico. A história é sobre uma família tradicional italiana, os Cantone, dona de uma fábrica de massas. O filho mais novo, Tommaso, interpretado por Riccardo Scamarcio, que deseja ser escritor e estuda em Roma, onde mantém um namoro com Marco, estudante de medicina, vem para Lecce decidido a revelar sua condição ao pai, num jantar em que o irmão mais velho, Antonio (Alessandro Preziosi), será anunciado como presidente da empresa. Acontece que Antonio, antecipando-se a Tommaso, resolve confessar que é gay. O pai, enfurecido, expulsa Antonio de casa, sofre um infarto, o que obriga Tommaso a deixar sua revelação para depois, uma vez que recai sobre ele a responsabilidade de tocar a fábrica. A partir daí, surgem fatos inesperados que vão revelando ao espectador a natureza das pessoas, suas paixões secretas, seus vícios...O jovem ator Riccardo Scamarcio, em ascensão na cena italiana principalmente por causa de sua beleza, abraçou sem medo o papel do protagonista, e é um dos trunfos do filme. “O Primeiro que Disse” nos devolve a comédia italiana agradável ao penetrar no universo familiar com as peculiaridades do povo desse país. Ozpetek não é nenhum Moniccelli, nem tampouco um Nanni Moretti, um Ettore Scola, mas se dá muito bem ao conduzir uma história cheia de nuances cômicas e dramáticas, sem cair no pastelão nem no melodrama. A intervenção mais descontraída, mais cômica, fica por conta dos amigos de Tommaso e de seu namorado que chegam à mansão dos Cantone de surpresa. Eles farão de tudo para não “entregarem” sua homossexualidade, tema explorado no já clássico “A Gaiola das Loucas”. Tudo, enfim, gira em torno de amores, namoros...a história da avó e seu romance com o cunhado (“só os amores impossíveis são eternos”, diz ela), o namoro do pai com sua amante, Tommaso e Marco, Antonio e Michele...a roda da vida movida pelo amor.

É assim em “Namorados para Sempre” (Blue Valentine), de 2010, dirigido por Derek Cianfrance, um belo e forte drama sentimental sobre um namoro que poderia ser eterno...aqui vamos ao encontro de um homem que, ao ver uma garota pela primeira vez, decide que ela será a mulher de sua vida. Ela vem de um relacionamento complicado, está sozinha e grávida...eles se acertarão e passarão a viver um romance cheio de emoções, reviravoltas, tensões...até que ponto o namoro continua poético e suave como nas primeiras promessas, nos primeiros encontros? Onde termina o amor e começa o sentimento de posse? Até onde o passado pode caminhar junto, sem destroçar uma relação?

“Namorados para Sempre” tem sua grande força na interpretação do casal de protagonistas. Ela é Michelle Williams, um talento já consolidado no poderoso drama “O Segredo de Brokeback Mountain”, em que fazia a esposa de Ennis Del Mar, personagem de Heath Ledger, enorme talento perdido numa morte precoce. Michelle, na vida real, foi esposa de Ledger, eles tiveram uma filha, mas estavam separados na ocasião da morte do ator. O parceiro de Michelle em “Namorados para Sempre” é Ryan Gosling, em uma interpretação perfeita, tocante. Em 2011 os dois foram indicados ao Globo de Ouro, e ela foi indicada ao Oscar de melhor atriz.

Dois bons motivos para ficar em casa curtindo um DVD: a comédia dramática italiana “O Primeiro que Disse” e o drama americano “Namorados para Sempre”. Em ambos conheceremos grandes emoções que só namorados experimentam, e veremos como elas chegam até nós pela ótica de bons diretores.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

UNIVERSOS FASCINANTES

Por José Farid Zaine

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Uma experiência extraordinária é ver o filme “Hubble”, um documentário de 43 minutos, em 3D, no sistema IMAX, no shopping Bourbon Pompeia, em São Paulo. O filme nos coloca, literalmente, dentro da nave espacial que, em 2009, levou astronautas americanos para uma missão de consertar o telescópio Hubble. Jamais a sensação de profundidade, de mergulho dentro de uma tela, pode ser tão emocionante.


Lá, no mesmo cinema, eu vi “Avatar” e me encantei com suas qualidades técnicas, incansavelmente buscadas por James Cameron; vi também as peripécias de “Alice no País das Maravilhas”, com Johny Depp. Mas aí a sensação era de mero divertimento, pois os filmes eram obras de ficção. Navegar em 3D pelas montanhas flutuantes de “Avatar” foi algo magnífico, inédito, principalmente por acontecer como uma novidade, um avanço, na verdade uma reciclagem altamente tecnológica e bem sucedida de algo que principiou nos anos 1950.



No caso de “Hubble”, o espanto com o que se vê é que é tudo real! Não há nenhuma pirotecnia de efeitos especiais. A sensação que temos é, sim, provocada pelo sistema de lentes usado na filmagem, pelos óculos incômodos dos quais dependemos para ver e sentir as três dimensões...só que não estamos acompanhando uma história fictícia, de heróis conquistando o espaço, de naves em guerra, de explosões estelares criadas pela computação gráfica ...a viagem em que somos mergulhados é feita da paisagem real do universo, com seus bilhões de galáxias...Onde o olho humano jamais poderia chegar naturalmente, o poderoso olho do Hubble chega, vasculha, fotografa, filma, revela...Lançados à vastidão cósmica, começamos a refletir sobre nós mesmos, nossa condição humana. É inevitável. Diante da grandiosidade do que vemos, colocamo-nos frente a frente com nossas dúvidas e certezas, nossas angústias, nossas crenças.


Em “Hubble”, as impressões dos astronautas diante da beleza da Terra são tocantes, porque são as mesmas que sentimos. Dizem que a corrida espacial dos anos 1960, que culminou com a conquista da Lua, serviu sobretudo para nos revelar a Terra. “A Terra é azul”, exclamação de Yuri Gagarin ao ver nosso planeta de uma altura até então nunca atingida por um ser humano, apesar de parecer simples e ingênua, foi uma das frases com maior conteúdo revelador já ditas, porque significava uma mudança radical na História, na imagem que tínhamos do nosso lar no universo porque, apesar de já estudada, conhecida, ela agora surgia real e imponente diante dos olhos de um homem, e por extensão, da humanidade.


O documentário “Hubble” é capaz de mexer com nossos sentimentos, além de nos alimentar com imagens espetaculares. A morte de uma estrela, o nascimento de outras, a passagem por bilhões delas ao encontro com galáxias que estão a milhões de anos-luz de nós constitui-se numa viagem sem paralelo no cinema. Todos os espetáculos já mostrados pela ficção e pela tecnologia da fábrica de sonhos, ficam apenas no plano da ilusão. Ilusão eficiente, claro, cumprindo um dos papeis do cinema, que é possibilitar que vivamos com intensidade e emoção as mais delirantes fantasias.


Falei do “Hubble”, do poder dele para revelar o universo desnudado diante dos nossos olhos, o que equivale a falar do poder do próprio cinema, quando se trata de exibir o que é real. Agora, para acentuar o poder da tela grande de nos arrastar para o mundo dos sonhos, recomendo hoje uma ida ao Teatro Vitória. Lá a Secretaria da Cultura, prosseguindo com seu projeto “Cine Cultura”, fará a exibição do musical “Moulin Rouge”, a visão do diretor australiano Baz Luhrmann de uma história de amor intensa e apaixonante, vivida dentro de um cabaré parisiense em 1899 . Com suas cores fortes, sua esfuziante coreografia, sua trilha sonora atemporal e eficiente, aí temos um filme que nos faz viver outra espécie de viagem. Na pele de Nicole Kidman e Ewan McGregor viveremos uma tórrida paixão sublimada por belas canções.


“Moulin Rouge – Amor em Vermelho”, como foi chamado no Brasil, é empolgante e belo, sendo capaz de conquistar até quem não curte muito o gênero. Contribuem para essa aceitação a música conhecida, o apelo da beleza do casal de protagonistas e a edição veloz, que deixa o filme sempre ágil, como um videoclipe. Foi indicado ao Oscar de melhor filme, e ganhou nas categorias direção de arte e figurino.


Valerá a pena ir a São Paulo, pegar uma sessão às 13 h no Imax do Bourbon Pompeia para um encontro com o realismo de “Hubble”( depois das 13 h você correrá o risco de ser golpeado pela violência de “Premonição 5”), assim como ir ao Teatro Vitória hoje, às 20h, com entrada franca, para um mergulho em outro universo - fictício, mas também fascinante -, o dos belos musicais, vendo “Moulin Rouge” e descobrindo os sons e as cores do amor, esse inesgotável e eterno tema.

terça-feira, 4 de outubro de 2011



A TROPA DE ELITE...EM UM MUNDO MELHOR!

Por José Farid Zaine

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A Comissão que escolhe o representante do Brasil para disputar uma das vagas para concorrer ao Oscar de Melhor Filme estrangeiro acertou. A escolha recaiu sobre o maior recordista brasileiro de bilheteria de todos os tempos, “Tropa de Elite 2”, de José Padilha, visto por mais de 11 milhões de espectadores nos cinemas, e outros milhões no DVD, além da TV paga. O primeiro filme, também muito bem sucedido e campeoníssimo em pirataria, não só arrebatou as plateias brasileiras, como a crítica internacional, vencendo um dos principais festivais de cinema do mundo, o de Berlim, de onde nos trouxe um reluzente Urso de Ouro. No ano passado, nosso representante “Lula, o Filho do Brasil” não chegou lá, apesar do apelo da história de um político poderoso, nosso ex-presidente, principalmente por ser o relato de uma vida cheia de superações, bem ao gosto da Academia. Haverá alguma relação entre o brasileiro “Tropa de Elite 2” e o vencedor do prêmio entregue no início de 2011, o dinamarquês “Em Um Mundo Melhor”? Por alguns aspectos, sim. Em “Tropa de Elite 2” temos um policial que deseja o fim da corrupção na polícia e na política. Ele quer um mundo melhor para o filho. O filme é violento, cheio de ação, com uma dinâmica rara no cinema nacional, uma montagem ágil que envolve o espectador do começo ao fim. Pode ser uma ótima pedida no Oscar. Wagner Moura consolidou sua carreira de grande ator nos dois filmes, e em todos os trabalhos que tem realizado na TV e no teatro. Ao construir o Capitão Nascimento, ele criou uma personagem que chegou facilmente aos corações dos brasileiros. O povo precisava dele, tanto que seus bordões ficaram populares, coisa difícil de acontecer através de um filme nacional atualmente, embora fosse comum nos tempos das chanchadas. Mas nem só da atuação de Wagner Moura vive Tropa 2. “O inimigo agora é outro”, diz o subtítulo , referindo-se ao fato de que, ao combater o tráfico de drogas, o Capitão Nascimento entenderá que precisará combater muitas outras coisas, talvez mais perigosas. Um ótimo elenco traz Irandhir Santos, André Ramiro, Milhem Cortaz, Sandro Rocha, André Mattos, Maria Ribeiro e Tainá Muller. Não será tarefa fácil o filme chegar aos 5 finalistas da categoria melhor filme estrangeiro no Oscar, sempre onde estão as maiores surpresas. Será preciso que o filme seja visto por todos os votantes, e isso também demanda um grande trabalho. Tomara que seja bem recebido pelo público e pela crítica dos EUA, para que chame a atenção dos membros.

Agora vamos ao filme que venceu nessa categoria neste ano, “Em Um Mundo Melhor”. Veio da Dinamarca e é um poderoso drama sobre estar dividido entre o desejo de vingança e o perdão, sobre cultivar a paz ou promover uma guerra por sentir que ela é necessária para continuar a viver com dignidade...um tema bem complexo, mas em que vejo a ligação com nossa Tropa 2. Tanto em um como em outro, os pais querem um mundo melhor para seus filhos. O filme dinamarquês conta a história do médico Anton, dividido no trabalho em um campo de refugiados na África, e sua vida na Dinamarca, a tentativa de reconciliação com a mulher e a relação com o filho que sofre bullying na escola; o envolvimento do filho com outro adolescente problemático trará à cena angustiantes discussões.

“Em Um Mundo Melhor” é dirigido por Susanne Bier, e está disponível em DVD e Blu-Ray. Em 2011 concorreu com o grego “Dentes Caninos”, o canadense “Incêndios”, o argelino “Fora da Lei” e o Mexicano filmado em Barcelona, “Biutiful”, ótimo momento do cineasta Alejandro Gonzalez Inárritu.

Vejamos outra vez “Tropa de Elite 2” para, distante do lançamento e do frisson que causou, analisarmos suas reais possibilidades de entrar na reta final do Oscar. Sim, isso vai ser muito importante para os brasileiros. Não ter ganho o Oscar sempre foi uma frustração do meio cinematográfico brasileiro, principalmente por termos engolido duas vezes a Argentina levando o prêmio...e, naturalmente, com dois ótimos filmes, “A História Oficial”, em 1986, e “O Segredo de Seus Olhos” no ano passado.

É também uma tarefa bem agradável fazer uma revisão ou conhecer os vencedores dos últimos anos, principalmente para aqueles “torcedores” fanáticos que procuram descobrir, pelos vencedores, o gosto dos acadêmicos. Em 2009 venceu “A Partida”, belíssimo e original drama japonês, tratando com delicadeza e poesia do áspero tema da morte, ou de como lidar com os mortos na hora da despedida. Veio da Áustria o vencedor de 2008, “Os Falsários”, inusitada incursão por um campo de concentração em que talentosos falsificadores judeus lutam por se manterem vivos diante da opressão e da violência dos alemães. Foi o representante da Alemanha o vitorioso em 2007, o magnífico “A Vida dos Outros”, drama desenrolado nos tempos de uma Berlim dividida. “Mar Adentro”, da Espanha, de 2005, e “As Invasões Bárbaras”, de 2004,do Canadá, estão entre meus favoritos vencedores da última década. Não há quem não possa ver, em todos eles, a busca de um mundo melhor. Então, mais do que nunca, fiquemos na torcida por nosso “Tropa de Elite 2”. Que o capitão Nascimento celebre a chegada de um mundo melhor... com a estatueta na mão!