sexta-feira, 7 de outubro de 2011

UNIVERSOS FASCINANTES

Por José Farid Zaine

farid.cultura@uol.com.br

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Uma experiência extraordinária é ver o filme “Hubble”, um documentário de 43 minutos, em 3D, no sistema IMAX, no shopping Bourbon Pompeia, em São Paulo. O filme nos coloca, literalmente, dentro da nave espacial que, em 2009, levou astronautas americanos para uma missão de consertar o telescópio Hubble. Jamais a sensação de profundidade, de mergulho dentro de uma tela, pode ser tão emocionante.


Lá, no mesmo cinema, eu vi “Avatar” e me encantei com suas qualidades técnicas, incansavelmente buscadas por James Cameron; vi também as peripécias de “Alice no País das Maravilhas”, com Johny Depp. Mas aí a sensação era de mero divertimento, pois os filmes eram obras de ficção. Navegar em 3D pelas montanhas flutuantes de “Avatar” foi algo magnífico, inédito, principalmente por acontecer como uma novidade, um avanço, na verdade uma reciclagem altamente tecnológica e bem sucedida de algo que principiou nos anos 1950.



No caso de “Hubble”, o espanto com o que se vê é que é tudo real! Não há nenhuma pirotecnia de efeitos especiais. A sensação que temos é, sim, provocada pelo sistema de lentes usado na filmagem, pelos óculos incômodos dos quais dependemos para ver e sentir as três dimensões...só que não estamos acompanhando uma história fictícia, de heróis conquistando o espaço, de naves em guerra, de explosões estelares criadas pela computação gráfica ...a viagem em que somos mergulhados é feita da paisagem real do universo, com seus bilhões de galáxias...Onde o olho humano jamais poderia chegar naturalmente, o poderoso olho do Hubble chega, vasculha, fotografa, filma, revela...Lançados à vastidão cósmica, começamos a refletir sobre nós mesmos, nossa condição humana. É inevitável. Diante da grandiosidade do que vemos, colocamo-nos frente a frente com nossas dúvidas e certezas, nossas angústias, nossas crenças.


Em “Hubble”, as impressões dos astronautas diante da beleza da Terra são tocantes, porque são as mesmas que sentimos. Dizem que a corrida espacial dos anos 1960, que culminou com a conquista da Lua, serviu sobretudo para nos revelar a Terra. “A Terra é azul”, exclamação de Yuri Gagarin ao ver nosso planeta de uma altura até então nunca atingida por um ser humano, apesar de parecer simples e ingênua, foi uma das frases com maior conteúdo revelador já ditas, porque significava uma mudança radical na História, na imagem que tínhamos do nosso lar no universo porque, apesar de já estudada, conhecida, ela agora surgia real e imponente diante dos olhos de um homem, e por extensão, da humanidade.


O documentário “Hubble” é capaz de mexer com nossos sentimentos, além de nos alimentar com imagens espetaculares. A morte de uma estrela, o nascimento de outras, a passagem por bilhões delas ao encontro com galáxias que estão a milhões de anos-luz de nós constitui-se numa viagem sem paralelo no cinema. Todos os espetáculos já mostrados pela ficção e pela tecnologia da fábrica de sonhos, ficam apenas no plano da ilusão. Ilusão eficiente, claro, cumprindo um dos papeis do cinema, que é possibilitar que vivamos com intensidade e emoção as mais delirantes fantasias.


Falei do “Hubble”, do poder dele para revelar o universo desnudado diante dos nossos olhos, o que equivale a falar do poder do próprio cinema, quando se trata de exibir o que é real. Agora, para acentuar o poder da tela grande de nos arrastar para o mundo dos sonhos, recomendo hoje uma ida ao Teatro Vitória. Lá a Secretaria da Cultura, prosseguindo com seu projeto “Cine Cultura”, fará a exibição do musical “Moulin Rouge”, a visão do diretor australiano Baz Luhrmann de uma história de amor intensa e apaixonante, vivida dentro de um cabaré parisiense em 1899 . Com suas cores fortes, sua esfuziante coreografia, sua trilha sonora atemporal e eficiente, aí temos um filme que nos faz viver outra espécie de viagem. Na pele de Nicole Kidman e Ewan McGregor viveremos uma tórrida paixão sublimada por belas canções.


“Moulin Rouge – Amor em Vermelho”, como foi chamado no Brasil, é empolgante e belo, sendo capaz de conquistar até quem não curte muito o gênero. Contribuem para essa aceitação a música conhecida, o apelo da beleza do casal de protagonistas e a edição veloz, que deixa o filme sempre ágil, como um videoclipe. Foi indicado ao Oscar de melhor filme, e ganhou nas categorias direção de arte e figurino.


Valerá a pena ir a São Paulo, pegar uma sessão às 13 h no Imax do Bourbon Pompeia para um encontro com o realismo de “Hubble”( depois das 13 h você correrá o risco de ser golpeado pela violência de “Premonição 5”), assim como ir ao Teatro Vitória hoje, às 20h, com entrada franca, para um mergulho em outro universo - fictício, mas também fascinante -, o dos belos musicais, vendo “Moulin Rouge” e descobrindo os sons e as cores do amor, esse inesgotável e eterno tema.

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