terça-feira, 4 de outubro de 2011



A TROPA DE ELITE...EM UM MUNDO MELHOR!

Por José Farid Zaine

farid.cultura@uol.com.br

Twitter: @faridzaine

Facebook: Farid Zaine

A Comissão que escolhe o representante do Brasil para disputar uma das vagas para concorrer ao Oscar de Melhor Filme estrangeiro acertou. A escolha recaiu sobre o maior recordista brasileiro de bilheteria de todos os tempos, “Tropa de Elite 2”, de José Padilha, visto por mais de 11 milhões de espectadores nos cinemas, e outros milhões no DVD, além da TV paga. O primeiro filme, também muito bem sucedido e campeoníssimo em pirataria, não só arrebatou as plateias brasileiras, como a crítica internacional, vencendo um dos principais festivais de cinema do mundo, o de Berlim, de onde nos trouxe um reluzente Urso de Ouro. No ano passado, nosso representante “Lula, o Filho do Brasil” não chegou lá, apesar do apelo da história de um político poderoso, nosso ex-presidente, principalmente por ser o relato de uma vida cheia de superações, bem ao gosto da Academia. Haverá alguma relação entre o brasileiro “Tropa de Elite 2” e o vencedor do prêmio entregue no início de 2011, o dinamarquês “Em Um Mundo Melhor”? Por alguns aspectos, sim. Em “Tropa de Elite 2” temos um policial que deseja o fim da corrupção na polícia e na política. Ele quer um mundo melhor para o filho. O filme é violento, cheio de ação, com uma dinâmica rara no cinema nacional, uma montagem ágil que envolve o espectador do começo ao fim. Pode ser uma ótima pedida no Oscar. Wagner Moura consolidou sua carreira de grande ator nos dois filmes, e em todos os trabalhos que tem realizado na TV e no teatro. Ao construir o Capitão Nascimento, ele criou uma personagem que chegou facilmente aos corações dos brasileiros. O povo precisava dele, tanto que seus bordões ficaram populares, coisa difícil de acontecer através de um filme nacional atualmente, embora fosse comum nos tempos das chanchadas. Mas nem só da atuação de Wagner Moura vive Tropa 2. “O inimigo agora é outro”, diz o subtítulo , referindo-se ao fato de que, ao combater o tráfico de drogas, o Capitão Nascimento entenderá que precisará combater muitas outras coisas, talvez mais perigosas. Um ótimo elenco traz Irandhir Santos, André Ramiro, Milhem Cortaz, Sandro Rocha, André Mattos, Maria Ribeiro e Tainá Muller. Não será tarefa fácil o filme chegar aos 5 finalistas da categoria melhor filme estrangeiro no Oscar, sempre onde estão as maiores surpresas. Será preciso que o filme seja visto por todos os votantes, e isso também demanda um grande trabalho. Tomara que seja bem recebido pelo público e pela crítica dos EUA, para que chame a atenção dos membros.

Agora vamos ao filme que venceu nessa categoria neste ano, “Em Um Mundo Melhor”. Veio da Dinamarca e é um poderoso drama sobre estar dividido entre o desejo de vingança e o perdão, sobre cultivar a paz ou promover uma guerra por sentir que ela é necessária para continuar a viver com dignidade...um tema bem complexo, mas em que vejo a ligação com nossa Tropa 2. Tanto em um como em outro, os pais querem um mundo melhor para seus filhos. O filme dinamarquês conta a história do médico Anton, dividido no trabalho em um campo de refugiados na África, e sua vida na Dinamarca, a tentativa de reconciliação com a mulher e a relação com o filho que sofre bullying na escola; o envolvimento do filho com outro adolescente problemático trará à cena angustiantes discussões.

“Em Um Mundo Melhor” é dirigido por Susanne Bier, e está disponível em DVD e Blu-Ray. Em 2011 concorreu com o grego “Dentes Caninos”, o canadense “Incêndios”, o argelino “Fora da Lei” e o Mexicano filmado em Barcelona, “Biutiful”, ótimo momento do cineasta Alejandro Gonzalez Inárritu.

Vejamos outra vez “Tropa de Elite 2” para, distante do lançamento e do frisson que causou, analisarmos suas reais possibilidades de entrar na reta final do Oscar. Sim, isso vai ser muito importante para os brasileiros. Não ter ganho o Oscar sempre foi uma frustração do meio cinematográfico brasileiro, principalmente por termos engolido duas vezes a Argentina levando o prêmio...e, naturalmente, com dois ótimos filmes, “A História Oficial”, em 1986, e “O Segredo de Seus Olhos” no ano passado.

É também uma tarefa bem agradável fazer uma revisão ou conhecer os vencedores dos últimos anos, principalmente para aqueles “torcedores” fanáticos que procuram descobrir, pelos vencedores, o gosto dos acadêmicos. Em 2009 venceu “A Partida”, belíssimo e original drama japonês, tratando com delicadeza e poesia do áspero tema da morte, ou de como lidar com os mortos na hora da despedida. Veio da Áustria o vencedor de 2008, “Os Falsários”, inusitada incursão por um campo de concentração em que talentosos falsificadores judeus lutam por se manterem vivos diante da opressão e da violência dos alemães. Foi o representante da Alemanha o vitorioso em 2007, o magnífico “A Vida dos Outros”, drama desenrolado nos tempos de uma Berlim dividida. “Mar Adentro”, da Espanha, de 2005, e “As Invasões Bárbaras”, de 2004,do Canadá, estão entre meus favoritos vencedores da última década. Não há quem não possa ver, em todos eles, a busca de um mundo melhor. Então, mais do que nunca, fiquemos na torcida por nosso “Tropa de Elite 2”. Que o capitão Nascimento celebre a chegada de um mundo melhor... com a estatueta na mão!

Um comentário:

  1. Otima Observação.
    Só queria dizer que, Tropa de Elite 2 foi o melhor filme nacional que ja assisti.
    Como voce disse no texto acima, ele tem um enredo que nos prende e nos envolve do inicio ao fim.
    @HarrisonMorales

    ResponderExcluir