segunda-feira, 28 de novembro de 2011

EUROPA AOS PEDAÇOS



Por José Farid Zaine

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Tenho tido ótimos momentos com uma coleção de cinema que vem para as bancas de jornais e revistas todas as semanas. Eu não me contento em comprar a coleção toda de uma vez, porque para quem faz isso os filmes chegam depois...então eu vou à banca, mesmo, semanalmente, para adquirir meu exemplar. Muitos dos meus filmes favoritos estão ali, e revisitá-los tem sido uma tarefa agradável e emocionante. Lembro-me do impacto que causou em mim “Roma, Cidade Aberta”, de Roberto Rosselini, quando o vi pela primeira vez, quando muito jovem. Pensei que nunca veria nada melhor. Era apenas o princípio de uma paixão duradoura por um cinema verdadeiramente comprometido com a arte. Não que eu não curta os blockbusters, as grandes produções campeãs de bilheteria, as aventuras movimentadas e as fantasias delirantes produzidas pela alta tecnologia. Mas tenho uma enorme vontade de fazer com que jovens que vejam só esse tipo de filme, experimentem algumas dessas obras-primas imortalizadas pelas infinitas possibilidades de preservação através de novas mídias que surgem. Viva a tecnologia, quando ela se presta a salvar a arte, a dar longevidade à emoção , à beleza, à inteligência...


Seria maravilhoso se os fãs da saga “Crepúsculo” abandonassem um pouquinho o romance entre Bella e Edward, para verem o que é o amor, se é vivido por gente do tipo de Sophia Loren e Marcello Mastroianni. Com eles, sim, somos capazes de viver uma intensa história de amor, com um nó na garganta que nos carrega para dentro da tela...E “Asas do Desejo”, de Wim Wenders? Como resistir ? E porque o cinema americano continua com essa mania de refilmar obras-primas tirando-lhes toda a genialidade, para colocá-las numa linguagem rasa, fácil, que vise apenas os números nas bilheterias? Como alguém poderia refazer “Rocco e Seus Irmãos” , uma vez que foi dirigido por Luchino Visconti? Como substituir Alain Delon, Annie Girardot, Renato Salvatori, Claudia Cardinale? Como recriar aquela trágica, bela e poética fotografia em preto e branco? Pois que ninguém se atreva a destruir essas maravilhas, todas sobreviventes ao tempo, sem perder sua qualidade. É assim, originais, que elas precisam ser vistas e curtidas, agora ou daqui a décadas.


Os grandes problemas da Europa, principalmente a Segunda Guerra, inquietaram e angustiaram os mestres da sétima arte. Dessa amargurada visão nasceram maravilhas como “Roma, Cidade Aberta”, um dos marcos do neorrealismo italiano. Esse clássico pode mostrar a dimensão do talento de Anna Magnani, e apenas isso já garante ao filme um lugar na lista dos melhores de todos os tempos.


Como alguém poderia deixar de se apaixonar por “Cinema Paradiso”, uma das mais belas e comoventes homenagens ao cinema já feitas? A amizade entre o menino Totó (Salvatore Cáscio) e o projecionista vivido por Philippe Noiret entrou para a história da sétima arte. Um filme irresistível em qualquer tempo, com uma das mais lindas, criativas e poéticas sequências finais já editadas.


E como alguém poderia dizer que conhece cinema sem ter visto “A Doce Vida”, de Fellini, com a icônica cena de Anita Ekberg dentro das Fontana de Trevi? E o que dizer de Bernardo Bertolucci e seu revolucionário “Último Tango em Paris”, veículo para o maior ator que o mundo já teve, Marlon Brando? Com sua extrema inquietação europeia, Bertolucci sacudiu o mundo.


Da Suécia Ingmar Bergman nos traz seus “Morangos Silvestres”, essa viagem onírica que constitui uma experiência única e apaixonante, para aqueles que desejam mergulhar no trabalho de artistas tão completos, cuja capacidade de criar é inesgotável.


A Europa vive agora dias angustiantes, de incertezas e preocupações. O mundo vê, assustado, o velho continente vendo seus pedaços mergulhados em crises que se anunciam cada vez mais duradouras. Isso já deve estar mexendo com os sentimentos dos cineastas europeus, e não duvidem que magníficos filmes já estão sendo gerados, produtos dessa turbulência.


Palmas para a Folha de São Paulo, transformada na minha sala exibidora favorita em todos os fins de semana. Ela me oferece pedaços da Europa que eu devoro, não como tenros pescocinhos de pálidos vampiros adolescentes, mas como alimento vital para meu coração de celuloide.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Casa de Pesadelos

Por José Farid Zaine

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Um espectador desavisado, levado pelo título “A Casa dos Sonhos”, poderá pensar que se trata de uma história leve, romântica...ainda mais se souber que existe um trio que poderia sugerir um triângulo amoroso, pois no elenco estão o 007 saradão Daniel Craig e duas lindas mulheres, Rachel Weisz e Naomi Watts...uma olhada no cartaz, que ostenta duas lindas meninas, cujos corpos parecem se fundir com uma parede, pode mudar um pouco essa concepção.


No início do filme, a possibilidade de uma comédia romântica está plenamente presente: um escritor de sucesso abandona uma grande editora para se dedicar à família numa cidade do interior...o encontro com a mulher e as filhas é feito de romance, sexo, brincadeiras familiares, tudo para conferir a esses momentos um clima de harmonia naquela que seria “a casa dos sonhos” de todos. Logo as coisas vão mudar, e ninguém mais terá dúvidas de que se trata de um filme de mistério, suspense, terror. Os amantes do gênero vão ao cinema com muita expectativa, e esses poderão sair decepcionados. Até a metade o filme de Jim Sheridan vai bem, quando é revelado um grande mistério, que não vou contar aqui, obviamente. Contudo, as soluções dos enigmas são frustrantes.


A história é muito interessante: os novos moradores de uma casa descobrem que ali houve, há alguns anos, o assassinato de uma mãe e duas filhas pelo próprio marido; ele passa alguns anos numa instituição psiquiátrica, mas é liberado por falta de provas de sua culpa. Os novos moradores terão que se adaptar ao fato de a casa ser marcada por essa tragédia. As reações dos vizinhos, dos policiais, dos adolescentes da cidade, não são, contudo, normais. Aí somos envolvidos no clima do mistério e das perguntas sem respostas.


Jim Sheridan não é um cineasta qualquer, desses que faz filmes de terror para adolescentes, daqueles que só falta jorrar sangue da tela. Ele tem história, uma filmografia respeitosa. Seu talento não deixa de aparecer em “A Casa dos Sonhos” (Dream House), mas algo não agradou ao próprio diretor, pois consta que ele tivesse pedido que tirassem seu nome dos créditos do filme...O trio central, formado por Daniel Craig, Rachel Weisz e Naomi Watts vai bem, e as meninas são fofinhas, como convém a esse tipo de filme. Ver crianças baleadas, sangrando, contudo, não é uma coisa muito agradável, aliás é bem chocante. Por conter cenas dessa natureza é que a casa, dita dos sonhos, é na verdade moradia dos pesadelos mais sombrios.


Investidas de diretores em filmes que tratam de fantasmas, espíritos, já renderam obras interessantíssimas, como o magnífico “Os Outros”, de Alejandro Amenábar, com um show de Nicole Kidman. Ali o clima era construído com precisão, e o desfecho realmente assustador. Nada existia no roteiro que comprometesse a revelação final, daí o grande mérito do filme. O mesmo pode ser dito do melhor trabalho do irregular M.Night Shiamalan, o já clássico “O Sexto Sentido”. Sugiro uma revisão desses dois últimos para os fãs do gênero.


Jim Sheridan assina filmes bons, reconhecidos pela crítica e bastante premiados. Vale também uma revisão de alguns de seus melhores momentos, como “Meu Pé Esquerdo”, que valeu um merecidíssimo Oscar a Daniel Day Lewis, “Em Nome do Pai” e “Terra de Sonhos”.


Rachel Weisz, uma das atrizes favoritas de nosso diretor Fernando Meirelles, com quem fez “O Jardineiro Fiel” ( The Constant Gardener), é sempre uma ótima atriz. Por sua magnífica performance em “O Jardineiro Fiel” ela ganhou o Oscar de Melhor atriz coadjuvante, além do Globo de Ouro e do Screen Actors Guild. Para Rachel e Craig, a convivência durante o período de filmagens de “A Casa dos Sonhos” teve um final feliz, pois os dois acabaram se casando. Para os espectadores do filme, o final pode não ser o que se espera...mas é preciso ir ao cinema para conferir.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

UM BOM FILME RUIM



Por José Farid Zaine

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Um título paradoxal...como pode um filme ser bom e ruim? Se me perguntarem se “Poucas Cinzas – Salvador Dali” é bom, eu direi que não. Se perguntarem se eu indico o filme aos leitores e leitoras, eu digo que sim...como é isso? Eu explico. O filme de Paul Morrison foi detonado pela crítica na época do seu lançamento. Agora ele sai em DVD e podemos afirmar, sem medo, que ele dá uma boa sessão doméstica... Não se trata de nenhuma obra-prima, mas também não é o horror que pintaram. Porque eu estaria indicando um filme assim, se eu mesmo acho que não é tão bom? É que o assunto tratado é da maior relevância e, se bem colocado, daria um filme espetacular. Quem pode achar desinteressante uma história que fale de um suposto caso amoroso entre dois gênios das artes, um da literatura e outro da pintura? Pois “Poucas Cinzas” se fixa no romance entre Federico Garcia Lorca e Salvador Dali. O próprio Dali teria revelado, pouco antes de morrer, detalhes do tumultuado caso com o escritor, caso que começou nos tempos em que ambos frequentaram a mesma universidade. Por considerar que o público teria interesse mesmo nesse romance, o filme não vai fundo na obra magnífica de Lorca, principalmente nas suas consagradas peças teatrais, e passa com voo rasante sobre sua incandescente poesia, mas capta apenas fagulhas. Da mesma forma, passa também sem qualquer aprofundamento sobre a obra polêmica e a personalidade extravagante de Dali. Há ainda um terceiro gênio na história, outro contemporâneo dos dois, um terceiro e enorme talento espanhol, o do cineasta Luis Buñuel, interpretado por Matthew MacNulty. Ao mesmo tempo em que nos mostra as relações de amizade entre os três, Morrison revela um Buñuel exageradamente homofóbico, coisa difícil de engolir quando se trata de um cineasta revolucionário como foi o diretor de “O Discreto Charme da Burguesia” e outras obras-primas, entre elas “Belle de Jour”, com Catherine Deneuve.


O principal problema de “Poucas Cinzas” é o intérprete de Salvador Dali. O pintor, que misturava a extravagância com certa timidez, é com toda a certeza uma personagem muito forte, muito marcada pela quantidade de informações existentes sobre sua vida e sua obra. Para interpretar Dali, com uma performance à altura do significado do artista, seria necessário um ator de muitos recursos, muito talentoso, para dar conta de dar verossimilhança à interpretação. Quem foi o escolhido? Robert Pattinson, que não sabe fazer outra coisa a não ser o pálido e juvenil vampiro da saga “Crepúsculo”. O garoto é muito ruim, e é o principal fator do comprometimento da qualidade do filme. Há alguns momentos de certa química entre os dois protagonistas, em algumas cenas de tensão erótica, mas há outras de um romantismo cheio de clichês, como as cenas no mar escuro, sob o clarão da lua. Pattinson não tem postura para ostentar os bigodes de Salvador Dali.


Já o intérprete de Lorca, Javier Beltrán, pela semelhança com o escritor andaluz, não compromete tanto, embora esteja longe de fazer jus ao monumental autor de “Bodas de Sangue”, “A Casa de Bernarda Alba” e “Yerma”, só para citar três de suas obras-primas para o teatro.


O fato de eu recomendar o filme é justamente pela possibilidade dos amantes de Lorca conhecerem um pouco mais de sua história, do seu envolvimento com a política contrária à ditadura de Franco e do seu absurdo e covarde assassinato, calando uma das vozes mais iluminadas do século XX.


Portanto, caros leitores e leitoras, se desejarem entrar na vida de três grandes talentos espanhóis, Lorca, Dali e Buñuel, e se tiverem essa vontade quase voyeurista de saber se foi verdadeiro o romance entre Salvador e Federico, devem ver “Poucas Cinzas – Salvador Dali”. Mas se quiserem ver algo que tenha a força dos versos de Lorca, a ousadia das pinturas de Dali e a genialidade dos filmes de Buñuel, esqueçam-no... e me perdoem!

Avena volta às origens e lança 'Línguas'


Novo CD traz 12 canções. Sem perder a regionalidade, o grupo canta o amor, o sertão e o prazer de ser brasileiro, com direito até a bolero


Depois de 20 anos sem gravar um disco próprio, os “meninos” do Avena estão de volta. É verdade que, agora, eles estão mais experientes. Porém, mesmo cada um seguindo a sua vida, profissional e pessoal, o prazer de produzir a boa música os une de forma mágica e fascinante. Sorte a do público, que pode continuar sintonizando esse grupo que representa tão bem a cultura de Limeira. O cantor da noite Dalvo Vinco, o médico Marcelo Bella, o produtor Joaquim Prado e o professor Farid Zaine - formação original do Avena - lançam “Línguas”, o terceiro CD da banda que tem influência dos “meninos” de Liverpool.


Mas não é só Beatles que inspiram o Avena, não! Renato Teixeira é também uma das maiores influências na produção musical do grupo limeirense e, o homem que tão bem retrata o sertão, faz participação especial na canção “Cavalos”, antigo sucesso do Avena, única regravação de “Línguas”. Do resto, tudo é novo. E muito bom, diga-se de passagem.


“O Avena se mantém fiel aos seus propósitos, fazendo a música que marcou sua carreira: um som com características próprias, surgido das influências da música regional paulista, somadas às da música latino-americana e principalmente dos Beatles, o que resultou em faces rurais e urbanas do seu som, sem que ele perca as características do grupo”, explica Zaine, que assina a composição de todas as letras do novo CD, ao lado de Prado, compositor das músicas.
Avena - Créditos - Wagner Morente.

Logo no início do CD, a música que ganha o título do álbum retrata o amor nas suas mais diferentes línguas. Tem português, claro, mas também tem inglês, francês, espanhol, italiano, japonês e árabe. Isso só em uma canção, simples, é verdade, mas cheia de sentimentos disparados pela paixão. Nesta faixa, todo o grupo interpreta um trecho da canção e o sotaque caipira ganha força nos “erres” exagerados: uma brincadeira que dá ainda mais vida à composição. Essa boa mistura traz, na música, também o som do ukulele, um instrumento que ganha cada vez mais adeptos.


A terceira faixa, “A Dama de Azul”, é um bolero que traz, inclusive, citação de Marino Pinto e Mário Rossi em seus versos: “que será da luz difusa do abajur lilás”. A ousada composição retrata a vida de uma cantora, com uma história surpreendente. Quer saber quem é a dama de azul do Avena? Tem que ouvir a canção. “Foi especialmente emocionante escrever a letra ‘A Dama de Azul’, depois ver a música que eu achei perfeita, bem como o arranjo belíssimo”, gaba-se Zaine. É, ele tem razão!
Avena - Créditos - Wagner Morente.

Maria Bethânia ganha uma música exclusiva, chamada “A Mulher que Canta”, que homenageia um dos maiores nomes da MPB do país. O grupo levou a música para Bethânia no Teatro Abril, em 2010, ao final do show dela “Amor, Festa e Devoção”.


Catira e a vida no sertão estão presentes. E é na faixa de número seis. “Boi Laçado” mistura poesia, desejo e a vida simples, e promete não deixar ninguém parado quando o “play” for acionado.


Em “Alô Geral”, Avena revela seu enorme amor ao Brasil e traz a discussão de o quanto que o país tem melhorado de uns tempos pra cá, tornando-se referência aos países da América do Sul e um símbolo de investimento para o mundo todo. Em trechos como “alô Paris, Londres, Berlim / algum recado pra mim / acho que dessa vez eu vou ficar por aqui” ou “alô Teerã, Beirute, Bagdá / agora eu não quero voar / acho que entendi, melhor ficar por aqui” o grupo esbanja a simpatia que sente ao país em que vive.


“Línguas” traz na capa uma arte assinada pelo artista Stival Forti. O álbum mostra, no encarte, diversas imagens clicadas por Wagner Morente. O apoio é da Humaniza (Lei Rouanet), Máquinas Furlan e Centro do Professorado Paulista (CPP).


A coletiva de imprensa de lançamento do CD ocorreu na tarde desta quinta-feira, 10, no CPP. O grupo, porém, espera os amigos e os fãs na noite desta sexta-feira, 11, às 20h, no mesmo espaço da coletiva, localizado no Largo da Boa Morte, 154 – Centro – para apresentações de algumas das músicas que estão no novo CD. Na oportunidade, “Línguas” estará à venda, ao preço de R$ 20. O show de lançamento do álbum está previsto para ocorrer no próximo semestre.



História
O Avena começou no Trajano Camargo, no final dos anos de 1970. Mas seu início verdadeiro pode ser dado com a vitória em 1979, no Festival Livre da Canção de Taubaté, onde Renato Teixeira era presidente do júri. Lá, “Cavalos” conquistou os jurados e levou o principal prêmio.Avena em momento de descontração. Créditos - Divulgação.

“Línguas” é o terceiro álbum do grupo. O primeiro, lançado em 1985, tem o título “Avena”. “Festa do Peão” é o segundo, lançado em 1991. O show de lançamento do segundo disco aconteceu no Palácio Nacional da Cultura, em Sófia, capital da Bulgária. O grupo, quando esteve na Bulgária, cantou também na casa do Embaixador do Brasil, em jantar oferecido ao Avena, com a presença do Ministro da Cultura da Bulgária da época, país dos ancestrais da Presidente Dilma Rousseff.

“Estar na Bulgária foi um dos momentos mais inesquecíveis que passamos juntos. Foi a coroação de um trabalho contínuo que estávamos fazendo para a defesa da boa música brasileira”, afirma Prado.

O grupo passou por várias formações, sempre tendo Farid, Marcelo, Joaquim e Dalvo nelas. Na formação original estavam ainda Clodoaldo e Agnaldo Minetto, Marco Barbieri, Claudemir Toledo e Reynaldo Bella. No total, Avena ganhou mais de 200 prêmios em festivais por todo o Brasil, incluindo dois do SBT, o Festival Rímula. O grupo apresentou-se mais de 11 vezes no “Som Brasil”, da Rede Globo, participou do “Empório Brasileiro” (Band), “Empório Brasil” (SBT), “Viola, Minha Viola” (TV Cultura). A música “Cavalos” foi tema da novela “Bicho do Mato”, da Rede Record.

Para Prado, o novo CD reflete as escolhas atuais do grupo, com algumas composições que estavam engavetadas e ganharam vida novamente, com a preocupação da sociedade contemporânea, que desperdiça tempo com situações irrelevantes e esquecem do que realmente vale a pena. “A amizade e o prazer em viver são elementos que queremos resgatar, seja no universo urbano ou no caipira”.

Dalvo é o “arquivo vivo” do grupo. “Das minhas gavetas saiu a maior parte do repertório atual: às vezes eu cantava pro Joaquim e Farid músicas que nem eles lembravam que eram deles”, brinca.

Segundo Bella, o diferencial desse disco é “a união da mais moderna tecnologia à poesia das composições”.

“’Línguas’ é um disco que o Avena sempre quis fazer, que nasceu da vontade de compartilharmos com os amigos as músicas que curtíamos mas não tínhamos gravado, além de outras novas que surgiram. Ele carrega o desejo de que as pessoas entendam que estamos dizendo, através da música, o quanto elas são queridas, de todas as formas e em todas as línguas”, conclui Zaine.

Ficha Técnica
Avena: Joaquim Prado, Farid Zaine, Dalvo Vinco e Marcelo Bella
Violão: Joaquim Pradro, Dalvo Vinco e Marcelo Bella
Contrabaixo, baixo fretless e baixo acústico: Ricardo Finazzi
Bateria e percussão: Emílio Martins
Acordeon e bandoneon: Tadeu Romano de Almeida
Bandolim: Marcelo Bella
Ukulele e berimbau: Joaquim Prado
Zabumba e Triângulo: Jorjão Borrão
Guitarra acústica e guitarra: Edson Ferreira
Piano e Arranjos de Cordas e de Metais: Luciano Barbosa Filho
Violinos: Henrique Buenro, Mariana Dutra Berbert, Mariana Mantovani, Elizandra dos Santos e Renan Nery Gomes
Violas: Mitchel Assis, José Clovis Forte e Winnie Leite
Violoncelos: Gabriela Pacheco Barbosa e Leandro Pereira
Flauta Transversal: Marco Antonio Barbieri
Trompetes: Islan dos Santos e Elton Ricardo de Lima
Trompa: Felipe Furlanetti
Trombone: Paulo Pires de Moura
Maestro: Fernando Barreto

As 12 músicas
1 - Línguas
2 - Anjo Violeiro
3 - A Dama de Azul
4 - A Mulher que Canta
5 - Na Orelha
6 - Boi Laçado
7 - Cavalos, participação de Renato Teixeira
8 - Tiroteio
9 - Baú de História
10 - Ponte Morena
11 - Valente
12 - Alô Geral


Release enviado por Ronald Gonçales (Estudante de Comunicação Social - Jornalismo).

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A NOVA PELE DE ALMODÓVAR


Por José Farid Zaine
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As viagens de Almodóvar pelos porões das mentes e dos corações das pessoas carregam sempre os mesmos passageiros: mães e filhos com relacionamentos estranhos e conturbados, mulheres fortes e determinadas, homens trágicos, sombras do passado... e o sexo, onipresente, e da maneira menos ortodoxa possível. Ao mexer com sonhos, fantasias e desejos ocultos das pessoas, Almodóvar sempre revela um universo familiar em desalinho, daí a composição de suas personagens tão peculiares. Ele se daria muito bem filmando uma das peças de Nelson Rodrigues.

“A Pele que Habito”, novo filme do diretor espanhol, estreia nesta semana em todo o Brasil, e teve várias pré-estreias na semana passada. Um novo filme de Pedro Almodóvar sempre vira um acontecimento no meio cinematográfico. Ele tem uma legião de fãs por aqui, país com o qual ele tem fortes laços afetivos, muito pela amizade com Caetano Veloso.

As histórias estranhas, dramáticas e cheias de enredos mirabolantes são marcas de Almodóvar, assim como as cores fortes que ele usa, que sempre dão um caráter pictórico a seus filmes, as famosas “cores de Almodóvar”. Em “A Pele Que Habito”, elas estão presentes, mas um pouco mais discretas para combinar com o jeitão “noir” do novo trabalho. Ele busca aqui o ser humano refeito, recomposto, talvez para reforçar o quão imperfeito ele é. A história é a de um cirurgião plástico vivido por Antonio Banderas, o Dr. Robert Ledgard , cuja esposa sofre um acidente e tem o corpo todo queimado. Robert buscará, por meio de todos os recursos que conhece, lícitos e ilícitos, pesquisar a produção de uma nova pela humana, resistente às mais terríveis queimaduras. O cinéfilo atento verá aí inevitáveis comparações com os clássicos de terror que Almodóvar deve conhecer a fundo: Frankenstein, principalmente, e seus derivados, como A Noiva de Frankenstein. Modificar um ser humano, praticamente criando outro, sem prever as consequências que isso pode ocasionar tem sido um dilema tratado com imensa cautela pela Ciência. Leis rígidas deixam claros os propósitos de impedir o uso do ser humano como cobaia de novas experiências na era do código genético desvendado. A Bioética está aí para direcionar tudo. Mas como em Almodóvar o que menos importa são regras, o Dr. Robert tratará de quebrar todas elas. Antonio Banderas e Marisa Paredes estão entre os preferidos do diretor. E eles sempre se dão muito bem sob a batuta de seu mestre. Banderas protagonizou um dos mais cultuados filmes de Almodóvar, “A Lei do Desejo”, além de outros sucessos como “Ata-me”, ”O Matador”, “Labirinto de Paixões” e “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos”. Marisa Paredes, grande nome do cinema espanhol, está presente na obra-prima “Tudo Sobre Minha Mãe”, que deve ser visto e revisto sempre que se deseja analisar a obra de Almodóvar. Ela, diva do diretor, está também em “De Salto Alto”, “Maus Hábitos” e “A Flor do Meu Segredo”. Ela veio ao Brasil divulgar o lançamento de “A Pele que Habito” e contou, no Programa do Jô, a história de seu longo relacionamento profissional e de amizade com Almodóvar.

Todos os filmes estrelados por Antonio Banderas e todos os por Marisa Paredes, dirigidos por Pedro Almodóvar, devem ser vistos. Claro, os outros do diretor também, especialmente “Fale com Ela”, “Carne Trêmula”, “Má Educação” e “Volver”. Tarefa divertida e apaixonante é esta, a de revisitar os sucessos do diretor.

E para quem tem chance de viajar um pouco, o negócio é procurar um cinema de São Paulo ou de Campinas onde esteja sendo exibido “A Pele Que Habito”. Vale a pena conferir a nova investida do irrequieto Pedro Almodóvar ao universo dos estranhos desejos que habitam o íntimo dos seres humanos. É ele, Pedro Almodóvar, que vamos encontrar habitando uma nova pele, a de um diretor que se renova permanentemente sem perder as características de sua verdadeira face.