sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A FRANÇA ESTÁ PERDOADA


Por José Farid Zaine
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Não sei quantas vezes vi “O Pagador de Promessas”, dirigido por Anselmo Duarte e baseado na obra de Dias Gomes, nem quantas eu o mostrei para alunos. A cada revisão o filme fica melhor e acho mais merecida a Palma de Ouro que levou em Cannes em 1962. Quando a obra, já famosa internacionalmente por conta do prêmio do mais badalado festival de cinema do mundo foi indicada ao Oscar em 1963, o país viveu uma euforia como se uma Copa do Mundo de cinema fosse trazer ao povo a cobiçada estatueta. Mas a França tirou do colo do Brasil o homenzinho dourado com sua espada sobre o celuloide. Implacável. Odiei o cinema francês por muito tempo, por causa dessa enorme injustiça, que eu conhecia pela repercussão. Mas eu nunca havia visto o vencedor, até que um dia, num cinema de São Paulo, eu topei com ele: “Sempre aos Domingos”, o título nacional para “Les Dimanches de Ville D´Avrey”, dirigido por Serge Bourguignon. Eu adorei o filme. É lindo. Não que eu ache que tinha de ganhar de nosso “Pagador” no Oscar, que um certo bairrismo me impede de admitir, mas o filme é realmente maravilhoso.






O cinema francês foi sempre um dos mais destacados no Oscar na categoria de melhor filme estrangeiro. Em 2012, contudo, a coroação foi total. “O Artista” foi indicado em nada mais, nada menos que 10 categorias, e ganhou nas principais. Belíssimo e original, é de uma simplicidade tocante. Merece ser visto e revisto, como eu já o fiz, sempre com o mesmo deleite.



E como vai a produção atual na França? Na semana passada chegou ao Brasil o maior êxito comercial francês dos últimos tempos, que levou mais de 20 milhões de pessoas ao cinema, transformando-se na segunda maior bilheteria daquele país. Trata-se de “INTOCÁVEIS” (Intouchables), baseado na história real de um ricaço autoritário que sofre um acidente e fica tetraplégico e sua inusitada relação com um negro senegalês que, sem qualquer preparo, é contratado para cuidar dele. A dupla é vivida com muita propriedade por François Cluzet, o branco rico, e Omar Sy, o imigrante senegalês negro. Um tanto previsível, o filme ganha pela simpatia dos atores e pelas situações que decorrem do aprendizado que dois homens completamente diferentes acabam tendo um com o outro. Programa imperdível no cinema, mas quem não conseguir ver “Intocáveis” na tela grande, é do tipo de filme que chega rapidamente às locadoras. Ainda bem.



O SABOR DA FRANÇA DENTRO DE CASA

Não me refiro à célebre culinária francesa, cujos famosos pratos sempre são capazes de despertar e aguçar o imaginário das pessoas em todo o mundo, pelo grau de sofisticação das criações de grandes chefs. Refiro-me a filmes que encantaram gerações, empolgaram a crítica e colocaram a cinematografia francesa entre as melhores do mundo.



Para quem tem fome de arte, as prateleiras das locadoras – felizmente – guardam tesouros que não podem ficar dormindo nos estojos. Quem está ávido por ver verdadeiras obras-primas da sétima arte vai pagar muito pouco por isso, apenas o valor da locação de um DVD. Então, aqui vão alguns dos filmes franceses que não dá pra perder:



“A BELA DA TARDE “(Belle de Jour), que celebrizou Catherine Deneuve, e “O DISCRETO CHARME DA BURGUESIA”, de Luis Buñuel, um dos maiores diretores de todos os tempos, nascido na Espanha, amigo de Federico Garcia Lorca, mas que filmou na França alguns de seus filmes mais famosos;



“A NOITE AMERICANA” (La nuit americaine), um grande filme de François Truffaut, criador dos clássicos “Os Incompreendidos”, “Jules e Jim – Uma Mulher para Dois” e “A Noiva Estava de Preto”, só para citar alguns.



E ainda “Indochina”, “Viver por Viver”, “A Verdade”, “O Boulevard do Crime”, “Adeus, Meninos”, e muitos, muitos outros, com um destaque para o popular “Um Homem, Uma Mulher”, de Claude Lelouch (que fez também “Retratos da Vida”), uma delícia de romance embalado pelo nosso “Samba da Bênção”, de Vinícius de Moraes e Baden Powell.



Com tanta coisa boa que o cinema francês pode oferecer, ele fica devidamente perdoado por nos tirar o Oscar, como já fizeram nossos algozes italianos, quando “A Vida é Bela” ganhou de “Central do Brasil”.



Podem ir buscar a França nas locadoras, caros leitores, e levá-la sem culpa para dentro de sua casa. Bon voyage!

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