SOBRE NERDS, CISNES E REIS GAGOS
Por José Farid Zaine
farid@limeira.com.br
twitter: @faridzaine
É perigoso usar muitos adjetivos para qualificar um filme de que se gosta muito. Pode parecer exagero, e as pessoas, ao conferirem a indicação, poderão dizer que o filme não era “tudo aquilo”. Isso é pouco provável que aconteça no caso de “Cisne Negro” (Black Swan), dirigido por Darren Aronofsky e indicado ao Oscar em 5 categorias, uma delas a maior barbada deste ano, o prêmio de melhor atriz para Natalie Portman. Ela está simplesmente espetacular como a bailarina obcecada com a perfeição, buscando desesperadamente o papel de sua vida no balé dos balés, O Lago dos Cisnes. Ela consegue alcançar seu objetivo, mas o preço acaba ficando muito alto. O processo de autodestruição de Nina, a personagem, é encarnado por Natalie Portman com tal precisão, que é impossível não imaginar um “cisne negro” invadindo a alma de um doce cisne branco, transformando-o num ser atormentado que se dilacera ao ignorar os seus limites. O próprio autor da obra-prima que é “O Lago dos Cisnes”, Tchaikovsky, teve sua alma dominada por dilemas que o sufocaram quase toda a vida. Esse tormento não deixa de aparecer na belíssima e sempre admirada cena da morte do cisne, milhares de vezes coreografada no mundo inteiro, e sempre fascinante desde sua estreia em 1877, portanto há 134 anos.
Darren Aronosfky comprova seu brilhantismo de diretor já visto em grandes filmes recentes, como o “ O Lutador” e “Réquiem Para Um Sonho”. Ele não dispensa coragem e ousadia ao fazer sua leitura bem particular de uma obra tão conhecida como “O Lago dos Cisnes”, imprimindo-lhe beleza plástica e um clima de crescente tensão e terror. A grandiosa música de Tchaikovsky confere ao filme, principalmente em seus minutos finais, um grau de dramaticidade operística. A câmera, de movimentos nervosos, “dança” com Natalie Portman, valorizando sua soberba interpretação. O elenco todo, aliás, está afinadíssimo, com participações mais do que notáveis de Mila Kunis, como a amiga em quem Nina projeta seus temores e angústias, Barbara Hershey como a mãe que acompanha a obsessão da filha e Vincent Cassel, como o diretor do balé, conduzindo a frágil bailarina a um autoconhecimento que inclui a descoberta do sexo. Ainda no elenco a aparição de Winona Ryder, como a estrela que sai de cena para dar lugar à nova. Ela, como sempre, sensacional, engrandecendo uma pequena participação.
“Cisne Negro”, para mim, por enquanto, é o melhor filme do ano. Mas para a Academia de Cinema de Hollywood talvez seja muito pesado, muito indigesto. Até há algumas semanas, o franco favorito para levar o Oscar de Melhor Filme era “A Rede Social”, de David Fincher, cotadíssimo para ganhar como melhor diretor, ele que nos deu o belo e original “O Curioso Caso de Benjamin Button”. Acontece que, em virtude das vitórias de “O Discurso do Rei” nas premiações dos sindicatos dos atores e diretores, o cenário está mudando. Se “Cisne Negro” é muito pesado, “A Rede Social” é muito moderno, muito internet, por falar da história do nascimento do Facebook. Sobraria então para “O Discurso do Rei” (The king´s Speech) , de Tom Hooper, receber as premiações mais significativas, incluindo a de melhor filme, por ser um típico “filme de Oscar”: é de época, fala de uma superação de um problema físico (o da gagueira do Rei George VI, da Inglaterra), tem ótima direção de arte, bela trilha sonora e interpretações maravilhosas de Colin Firth, como o rei gago, Geoffrey Rush, como o “professor” que o orienta e se torna seu grande amigo, e Helena Bonham Carter, sempre magnífica, como a rainha-mãe. Colin Firth, aliás, é outra barbada no Oscar deste ano. Se ele não levar o prêmio de melhor ator, que já havia merecido por sua brilhante interpretação de um professor gay em “Direito de Amar” (A Single Man), de Tom Ford, será uma tremenda injustiça.
“O Discurso do Rei” é belo, suave, e o drama da gagueira do Rei George VI flui sempre com discreta dramaticidade, diálogos inteligentes e muita elegância, como convém a um filme genuinamente britânico. Filmes que contém histórias edificantes, principalmente a de grandes amizades, sempre caem no gosto dos votantes da Academia.
“Cisne Negro” estreou no dia 4 de fevereiro, “A Rede Social” está prestes a sair em DVD e Blu-Ray, e “O Discurso do Rei” estreou ontem em todo o Brasil, junto com “Bravura Indômita” (True Grit), dirigido pelos Irmãos Cohen, de “Onde Os Fracos Não tem Vez”, vencedor em 2009. Como os cinéfilos estão mobilizados pela proximidade da entrega do Oscar, que será no dia 27 de fevereiro, vamos continuar falando dele na próxima semana. Por enquanto, caros leitores, podem ir escolhendo entre um nerd que se tornou bilionário, um cisne atormentado e um rei gago...Acreditem, essas personagens renderam ótimos filmes!
Por José Farid Zaine
farid@limeira.com.br
twitter: @faridzaine
É perigoso usar muitos adjetivos para qualificar um filme de que se gosta muito. Pode parecer exagero, e as pessoas, ao conferirem a indicação, poderão dizer que o filme não era “tudo aquilo”. Isso é pouco provável que aconteça no caso de “Cisne Negro” (Black Swan), dirigido por Darren Aronofsky e indicado ao Oscar em 5 categorias, uma delas a maior barbada deste ano, o prêmio de melhor atriz para Natalie Portman. Ela está simplesmente espetacular como a bailarina obcecada com a perfeição, buscando desesperadamente o papel de sua vida no balé dos balés, O Lago dos Cisnes. Ela consegue alcançar seu objetivo, mas o preço acaba ficando muito alto. O processo de autodestruição de Nina, a personagem, é encarnado por Natalie Portman com tal precisão, que é impossível não imaginar um “cisne negro” invadindo a alma de um doce cisne branco, transformando-o num ser atormentado que se dilacera ao ignorar os seus limites. O próprio autor da obra-prima que é “O Lago dos Cisnes”, Tchaikovsky, teve sua alma dominada por dilemas que o sufocaram quase toda a vida. Esse tormento não deixa de aparecer na belíssima e sempre admirada cena da morte do cisne, milhares de vezes coreografada no mundo inteiro, e sempre fascinante desde sua estreia em 1877, portanto há 134 anos.
Darren Aronosfky comprova seu brilhantismo de diretor já visto em grandes filmes recentes, como o “ O Lutador” e “Réquiem Para Um Sonho”. Ele não dispensa coragem e ousadia ao fazer sua leitura bem particular de uma obra tão conhecida como “O Lago dos Cisnes”, imprimindo-lhe beleza plástica e um clima de crescente tensão e terror. A grandiosa música de Tchaikovsky confere ao filme, principalmente em seus minutos finais, um grau de dramaticidade operística. A câmera, de movimentos nervosos, “dança” com Natalie Portman, valorizando sua soberba interpretação. O elenco todo, aliás, está afinadíssimo, com participações mais do que notáveis de Mila Kunis, como a amiga em quem Nina projeta seus temores e angústias, Barbara Hershey como a mãe que acompanha a obsessão da filha e Vincent Cassel, como o diretor do balé, conduzindo a frágil bailarina a um autoconhecimento que inclui a descoberta do sexo. Ainda no elenco a aparição de Winona Ryder, como a estrela que sai de cena para dar lugar à nova. Ela, como sempre, sensacional, engrandecendo uma pequena participação.
“Cisne Negro”, para mim, por enquanto, é o melhor filme do ano. Mas para a Academia de Cinema de Hollywood talvez seja muito pesado, muito indigesto. Até há algumas semanas, o franco favorito para levar o Oscar de Melhor Filme era “A Rede Social”, de David Fincher, cotadíssimo para ganhar como melhor diretor, ele que nos deu o belo e original “O Curioso Caso de Benjamin Button”. Acontece que, em virtude das vitórias de “O Discurso do Rei” nas premiações dos sindicatos dos atores e diretores, o cenário está mudando. Se “Cisne Negro” é muito pesado, “A Rede Social” é muito moderno, muito internet, por falar da história do nascimento do Facebook. Sobraria então para “O Discurso do Rei” (The king´s Speech) , de Tom Hooper, receber as premiações mais significativas, incluindo a de melhor filme, por ser um típico “filme de Oscar”: é de época, fala de uma superação de um problema físico (o da gagueira do Rei George VI, da Inglaterra), tem ótima direção de arte, bela trilha sonora e interpretações maravilhosas de Colin Firth, como o rei gago, Geoffrey Rush, como o “professor” que o orienta e se torna seu grande amigo, e Helena Bonham Carter, sempre magnífica, como a rainha-mãe. Colin Firth, aliás, é outra barbada no Oscar deste ano. Se ele não levar o prêmio de melhor ator, que já havia merecido por sua brilhante interpretação de um professor gay em “Direito de Amar” (A Single Man), de Tom Ford, será uma tremenda injustiça.
“O Discurso do Rei” é belo, suave, e o drama da gagueira do Rei George VI flui sempre com discreta dramaticidade, diálogos inteligentes e muita elegância, como convém a um filme genuinamente britânico. Filmes que contém histórias edificantes, principalmente a de grandes amizades, sempre caem no gosto dos votantes da Academia.
“Cisne Negro” estreou no dia 4 de fevereiro, “A Rede Social” está prestes a sair em DVD e Blu-Ray, e “O Discurso do Rei” estreou ontem em todo o Brasil, junto com “Bravura Indômita” (True Grit), dirigido pelos Irmãos Cohen, de “Onde Os Fracos Não tem Vez”, vencedor em 2009. Como os cinéfilos estão mobilizados pela proximidade da entrega do Oscar, que será no dia 27 de fevereiro, vamos continuar falando dele na próxima semana. Por enquanto, caros leitores, podem ir escolhendo entre um nerd que se tornou bilionário, um cisne atormentado e um rei gago...Acreditem, essas personagens renderam ótimos filmes!
Assessoria Parlamentar do Vereador José Farid Zaine (PDT)
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