farid.cultura@uol.com.br
Twitter: @faridzaine
Facebook: Farid Zaine
Está em cartaz nos cinemas brasileiros desde a semana passada (embora tenha estreado em São Paulo no dia 9 de novembro), o novo filme do diretor filipino Brillante Mendoza, “Em Nome de Deus” (Captive). O título em português até cabe, mas poderia ser outro, mais próximo do título original, principalmente porque já existem outros filmes com o mesmo nome no Brasil. Pelo menos dois. Falo deles mais à frente.
“Em nome de Deus”(Captive) narra a história de 20 estrangeiros tomados como reféns em 2001, num resort chamado “Dos Palmas”, por terroristas islâmicos nas Filipinas. Baseado em fatos reais, o filme introduz o espectador a uma angustiante peregrinação de mais de um ano pela selva, onde vivem os reféns conduzidos e vigiados por seus sequestradores. A excelente atriz francesa Isabelle Huppert interpreta a missionária Thérèse Bourgoine, personagem ficcional que se prende ao fio condutor da narrativa.
Brillante Mendoza conduz a câmera como se ela fosse o espectador. Sempre temos a sensação de estarmos dentro da selva, como um dos reféns, sofrendo toda sorte de privações e sofrimentos, sempre com a mesma roupa, comendo restos de comida, dormindo ao relento e ainda correndo risco permanente de morte nas desastradas tentativas de resgate feitas por militares filipinos.
“Em Nome de Deus” tem uma tensão crescente desde a primeira cena. Há pouco espaço para amenidades, como a cena de uma refeição recebida de aldeões ou na aproximação de Thérèse com um menino que integra o grupo de terroristas.
Há algumas semanas comentei aqui o excelente “Argo”, de Ben Affleck, sobre a invasão da embaixada americana em Teerã por iranianos que exigiam a extradição do Xá Reza Pahlevi pelo governo americano, o que desencadeou a chamada “crise dos reféns”. Affleck conseguiu, filmando uma história também real, realizar um dos mais emocionantes e surpreendentes filmes do ano, que ninguém pode perder. Nessa linha está “Em Nome de Deus” (Captive), muito menos espetacular, mas ainda assim um ótimo filme.
Já que o título “Em nome de Deus” gera certa confusão, porque as pessoas acham que já viram o filme filipino que estreou, a melhor coisa, enquanto se espera que ele venha aos cinemas da cidade (o que é bem difícil) ou que chegue ao DVD ou Blu-Ray, é revisitar os outros filmes homônimos disponíveis nas locadoras.
O primeiro a ser visto ou revisto é o irlandês “Em Nome de Deus”, outra tradução brasileira que nada tem a ver com o título original, “The Magdalene Sisters”, dirigido por Peter Mullan, sobre um reformatório católico dirigido por freiras, as “Madalenas”, destinado a receber jovens rejeitadas por suas famílias, por sua conduta digamos, mais liberal. As jovens sofrem duplamente: quando a família resolve desfazer-se delas, obrigando-as a serem trancadas no tal reformatório, e depois no próprio confinamento, quando precisam suportar as piores humilhações. O filme foi premiado em Veneza, gerou protestos do Vaticano, mas recebeu o aplauso da crítica em todo o mundo. É fortíssimo. Abalou o público, principalmente o católico, ao expor situações embaraçosas e até grotescas, inimagináveis para o século XX, mais precisamente os anos 1960, e que vieram à tona com a coragem do diretor e com um elenco primoroso.
O outro filme que também foi batizado de “Em Nome de Deus” no Brasil é uma produção de 1988, originalmente chamado “Stealing Heaven”, narrando o romance proibido e secularmente famoso de Abelardo e Heloísa. Trata-se de uma coprodução entre Reino Unido e a então Iugoslávia, que ainda hoje faz muito sucesso, principalmente entre as mulheres. A tragédia dos amantes que nunca podem viver livremente a sua paixão é sempre um tema que exerce muito fascínio sobre o público. Clive Donner, o diretor, fez aqui uma versão livre da conhecida história de amor medieval que emociona gerações.
Bem, temos aí então, três filmes chamados “Em Nome de Deus” no Brasil. Nenhum deles leva, originalmente, esse nome; os nomes originais são “Captive” (palavra francesa para refém), o filipino de 2012 que está nos cinemas, “The Magdalene Sisters”, o irlandês de Peter Mullan de 2002 e “Stealing Heaven”, a coprodução entre Inglaterra e Iugoslávia ,de 1988, esses dois últimos disponíveis nas locadoras. Três filmes para vermos em nome de Deus, segundo nossos atentos e criativos tradutores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário