sexta-feira, 6 de julho de 2012

BARRA-PESADA E AMENIDADES


Por José Farid Zaine
Twitter: @faridzaine
Facebook: Farid Zaine


Quando um filme chega direto às locadoras, sem passar pelos cinemas, sabe-se que os distribuidores imaginaram que não iria bem nas bilheterias. É um temor que procede, do ponto de vista mercadológico. Mas é difícil entender que um filme como “O Abrigo” (Take Shelter) não tenha tido espaço nas salas exibidoras. Não é um filme fácil, feito um blockbuster rapidamente esquecível, mas está longe de ser chato. Pelo contrário, é instigante e provocador, e causa no espectador aquela sensação de incômodo que ele nem sempre gosta de sentir, mas que o leva a uma reflexão duradoura, o que só filmes especiais conseguem permitir.

“O Abrigo” está disponível em DVD, e é obrigatório para quem curte cinema de alta qualidade. Dirigido por Jeff Nichols, trata-se da história de Curtis (Michael Shannon), cuja vida “normal” e feliz é até invejada pelos amigos. Ele é casado com Samantha (Jessica Chastain), mulher batalhadora que luta para completar o orçamento doméstico. Eles têm uma filha, Hannah, que é surda. Curtis passa a ter uma série de visões apocalípticas sobre a vinda de uma tempestade que trará a destruição de tudo o que ele ama, levando-o à obsessão de ampliar e equipar um abrigo que a família tem em seu quintal. Sua determinação passa a ser vista com desconfiança e medo até pela própria família, mas ele leva adiante seu projeto, à custa de endividamentos, perda do emprego e da credibilidade.



Feito de passagens perturbadoras, como as dos pesadelos de Curtis sobre a iminência da chegada de uma grande tempestade, “O Abrigo” envolve e emociona. Não vou falar mais sobre a história para não fazer revelações inconvenientes.

Formalmente o filme é simples, mas extremamente eficaz, com suas imagens de árvores ao vento, nuvens ameaçadoras e paisagens inquietantes. Na pele de Curtis, Michael Shannon mais uma vez dá seu show de talento e competência, acompanhado pela magnífica Jessica Chastain, que brilhou em “A Árvore da Vida” e “Histórias Cruzadas”, que também podem ser revistos. E ótima chance para confirmar o talento de Shannon é rever “Foi Apenas Um Sonho” (Revolutionary Road), pelo qual ele foi indicado ao Oscar de ator coadjuvante.

AMENIDADES
Para quem quer fugir um pouco do estilo “barra-pesada” de “O Abrigo”, um drama romântico está em cartaz nos cinemas, o interessante “Apenas Uma Noite”(Last Night), da diretora Massy Tadjedin, sobre o relacionamento de um casal feliz que, de repente, fica exposto a situações de infidelidade conjugal. Os dois, ao mesmo tempo, estarão pondo à prova seu amor e seu compromisso, diante da possibilidade de traição criada por circunstâncias surgidas. Até que ponto render-se a uma aventura passageira poderia comprometer um relacionamento sólido e duradouro? A resposta vem através de um filme bonito, charmoso, e que tem na sua forma narrativa o trunfo para diferenciá-lo de outros dramas sobre o mesmo tema. O elenco é muito bom, com a sempre bela e talentosa Keira Knightley (Joanna), fazendo par com Sam Worthington (Michael), que o mundo passou a conhecer através de “Avatar”. Keira é uma atriz de muitos recursos e teve reconhecimento internacional pelos papéis mais sérios que interpretou em filmes como o recente “Um Método Perigoso” e no belíssimo “Desejo e Reparação” (Atonnement), só para citar dois ótimos filmes que podem ser vistos no DVD. Ela é a mocinha da saga “Piratas do Caribe”, cinessérie de estrondoso sucesso mundial, que ela estrelou ao lado de Johnny Depp. A química entre Keira e Sam rola perfeitamente, tanto quanto entre Keira e Guillaume Canet, que interpreta Alex, amor antigo de Joanna, e entre Sam e a exuberante Eva Mendes, intérprete de Laura.



Então ficamos assim: primeiro vamos levar para casa um filme barra-pesada, mas magnífico e necessário, “O Abrigo”. Depois vamos ao cinema para ver “Apenas Uma Noite”, porque ninguém é de ferro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário