sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O OSCAR GOSTA MUITO DO IRÃ

Por José Farid Zaine
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No ano passado o Irã foi notícia no meio cinematográfico pelo Oscar conquistado por “A Separação”, belíssimo filme que ganhou ainda muitos outros prêmios pelo mundo, revelando aspectos do cotidiano naquele país, através de uma história apresentada em um roteiro magnífico, com incríveis interpretações de todo o elenco.



Em 2012 o Irã volta ao foco em “ARGO”, dirigido e estrelado por Ben Affleck, com estreia prevista para hoje nos cinemas brasileiros. A história, baseada em espantosos fatos reais, acontece em 1979, no meio da chamada “crise dos reféns no Irã”: militantes iranianos, a maioria estudantes, invadem a embaixada americana em Teerã e fazem mais de 50 reféns, para uma negociação com o governo americano em que exigiam a extradição do Xá Reza Pahlevi, abrigado nos Estados Unidos. O Irã, comandado pelo aiatolá Khomeini, com o desejo de fazer justiça contra Pahlevi, radicalizou o discurso que culminou na invasão da embaixada. Acontece que seis funcionários conseguiram fugir pelos fundos do prédio e foram abrigados na Embaixada do Canadá. Trazer de volta para casa esses seis americanos exigia um plano especial da CIA. Dentre as malucas e perigosíssimas opções venceu a que parecia a mais desvairada ficção: um agente da CIA (vivido por Affleck) iria a Teerã como se estivesse buscando locações para um filme de ficção científica, estilo “Star Wars”, chamado “Argo”. Um filme de mentira, mas uma operação de verdade.

A condução de uma história dessas, sem o risco de que se tornasse panfletária, unilateral, ou defendesse despudoradamente os EUA, ou demonizasse o Irã, precisava muito de um arrojado e experiente diretor. Ben Affleck provou que esse diretor era ele. O ator, premiado com o Oscar pelo roteiro de “Gênio Indomável” em 1998, amadureceu profundamente após dirigir dois filmes, sendo este terceiro seu melhor trabalho.

“Argo” é feito com qualidade em todos os quesitos: seu roteiro é excelente, o elenco é bastante competente (com destaque para o próprio Affleck e os sempre ótimos John Goodman e Alan Arkin), a fotografia, a direção de arte, os figurinos e a trilha sonora são muito adequados. Não bastasse isso, o filme tem um clima permanente de tensão da primeira à última cena, prendendo o espectador desde a sequência inicial atordoante, a invasão da embaixada americana pelos iranianos, até o desfecho emocionante.

O grande feito de Ben Affleck foi contar uma história conhecida, mas com elementos pouco revelados de um episódio crucial nas relações entre EUA e Irã. A construção do plano que faria a CIA chegar à embaixada canadense em Teerã é perfeita e envolvente.

O clima sufocante de permanente e crescente tensão é amenizado pelas críticas à própria indústria cinematográfica de Hollywood, e nesse aspecto se destacam as presenças marcantes de John Goodman e Alan Arkin.

Numa época em que começam a surgir os prováveis indicados ao Oscar 2013, “Argo” aparece com certa força: ainda há muito por ver até janeiro, mas é pouco provável que o filme não esteja entre os indicados a melhor filme, melhor roteiro adaptado, melhor ator, ator coadjuvante e melhor diretor, havendo grandes possibilidades também para a espetacular edição. Além de tudo, o thriller político de Ben Affleck vai muito bem nas bilheterias, tendo já desbancado blockbusters como “Cloud Atlas” (A Viagem), com Tom Hanks e Halle Berry , em suas primeiras semanas nos cinemas americanos.

A partir de hoje os brasileiros podem conferir o progresso do ator Ben Affleck, firmando-se como um dos melhores de sua geração no drama “Argo”, em que a metalinguagem surge como uma personagem de grande peso.

“Argo” é um filme baseado em fatos reais, mas está longe de ser um documentário. Tem credibilidade, sim, mas foi feito como se fazem os dramas de suspense mais envolventes, acrescentando-se o inegável fascínio exercido pelo Irã e sua conturbada história, tanto sobre os espectadores quanto sobre os membros da Academia. Com certeza, alguma estatueta vai brilhar na estante de Ben Affleck em fevereiro de 2013.

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