Por José Farid Zaine
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Em 1974 estreava no Brasil aquele que viria a ser o mais espetacular filme de terror de todos os tempos, “O Exorcista”, dirigido por William Friedkin e com roteiro de William Peter Blatty, autor do livro homônimo. Blatty vinha de extraordinário sucesso de vendas do livro no mundo inteiro, daí a enorme expectativa em torno do filme.
O livro já era aterrorizante, conquistou uma legião de fãs que passaram a ser estudiosos do assunto, e imaginar aquele clima na tela deixou multidões ansiosas para conferir em que se transformara o best-seller.
Público e crítica aprovaram o resultado, e o filme, cujo orçamento era de 12 milhões de dólares, arrecadou mais de 440 milhões. Tudo na adaptação cinematográfica cativou e emocionou as plateias, do elenco afinadíssimo encabeçado por Ellen Burstyn ( a mãe) e Linda Blair (a menina possuída), à parte técnica irrepreensível (fotografia, som, direção de arte, efeitos visuais). “O Exorcista” foi um marco do terror explícito e também psicológico, e ainda com excepcional carga de mistério e angústia. Ganhou muitos prêmios, incluindo os Oscars de Roteiro Adaptado e Som. Depois dele, vieram dezenas de outros subprodutos abordando a possessão demoníaca, mas nenhum conseguiu se igualar ao impacto causado por ele ou à sua inequívoca qualidade. Uma vez ou outra surgiram bons filmes sobre o tema, como “O Exorcismo de Emily Rose”, em 2005, e agora este “Possessão”, de 2012, que estreia hoje em todo o Brasil.
“Possessão” (The Posession), dirigido por Ole Bornedal, coprodução entre EUA e Canadá, mistura com competência algumas das conquistas dos seus similares anteriores. Com um diretor habituado ao gênero, um expert em sustos e climas tensos, Sam Raimi, a produção resulta em um thriller de terror bem aceitável, com produção requintada e efeitos visuais impressionantes, sem o exagero dos terrores sanguinolentos. Como em “O Exorcista”, em “Possessão” a vítima também é uma menina, possuída por um demônio que fora aprisionado em uma caixa, depois trancada e com uma inscrição em hebraico avisando que jamais deveria ser aberta. Comprada por um pai para a filha que se encantou com a caixa numa feirinha de antiguidades, roupas e objetos esquisitos, a caixa passa a ser uma obsessão para a menina que, é óbvio, conseguirá abri-la. Com o demônio solto, a vida da família vira um inferno, literalmente.
Os pais da menina são interpretados com eficiência por Jeffrey Dean Morgan e Kyra Sedgwick. O casal está divorciado e tentando levar a nova situação numa boa com as filhas. As coisas ruins que começam a acontecer são creditadas a esta fase vivida pela família, mas logo descobrirão que algo muito pior está por trás das drásticas transformações de temperamento e comportamento da menina, Emily, vivida com intensidade pela jovem atriz Natasha Calis.
Sam Raimi é um diretor muito competente para o gênero terror, como demonstrou nos dois exemplares de The Evil Dead ( Uma Noite Alucinante - A Morte do Demônio). Aliás, The Evil Dead terá remake em 2013, mas sem Sam na direção, e o título brasileiro será apenas “A Morte do Demônio”, a distribuidora tendo optado por suprimir “Uma Noite Alucinante”. Raimi é bom em aventuras também, como provou através do monumental sucesso dos exemplares que dirigiu de “O Homem Aranha”. Além de não pesar demais a mão, ele sempre usa uma dose apropriada de humor, muito presente no ótimo “Arraste-me para o inferno”, ótima pedida para se conferir o seu talento, já que está disponível em DVD e Blu-Ray. Aqui o humor é mais raro, mas pode ser sentido principalmente na sequência em que o pai busca a ajuda de um rabino para sua desesperada luta contra o espírito do mal, neste caso um dybbuk, um espírito que aos poucos domina e devora seu hospedeiro, de nome Abyzou. Em “O Exorcista”, o nome aterrorizante era Pazuzu, aliás bem semelhante.
Não há comparação entre “O Exorcista” (The Exorcist), clássico de 1973, e este “Possessão”, de 2012. Dizem que Sam Raimi quis, na verdade, usar o filme de William Friedkin como referência, e fazer a ele uma homenagem. Pode ser. Quem gostar de bons sustos e climão sufocante não vai ter do que reclamar, mesmo porque fica claro, ao final, que a caixa que aprisiona o demônio Abyzou ainda vai atormentar muitas famílias. Afinal, meninas possuídas por demônios são ingredientes de incontestável eficiência no tempero dos filmes que miram altas bilheterias.
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