Por José Farid Zaine
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Quem pensa que vai ao cinema ver “O Gato de Botas” (Puss in Boots) e assistir a uma adaptação do célebre conto de Charles Perrault, pode esquecer. Do original, a personagem mantém apenas as botas e a extrema esperteza. Esse Gato que protagoniza a animação que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros na semana passada, é oriundo de Shrek, onde era coadjuvante. Aqui ele vive uma aventura própria, tecnicamente irrepreensível nestes tempos de 3D. Vozes célebres também dão credibilidade e charme ao filme, sendo o gato dublado por Antonio Banderas e a gata Kitty Pata-Mansa por Salma Hayek. A personagem principal faz várias referências ao filme “A Marca do Zorro”, estrelado por Banderas. O diretor é Chris Miller, o mesmo de Shrek Terceiro. A versão brasileira não tem o charme das vozes de Antonio Banderas e Salma Hayek.
“O Gato de Botas”, além de Banderas e Hayek, foi dotado de uma latinidade acentuada pela trilha sonora. Já a história é meio sem graça e arrastada, fora alguns momentos de aventura ligeira, com as tradicionais perseguições, lutas de espadas, fugas alucinadas. O visual é sempre magnífico, mas uma animação, mesmo a que tenha tratamento tecnológico sofisticado e efeitos especiais de última geração, não se sustenta apenas por essas qualidades. Além do mais, as crianças atentas às histórias que lhes são contadas, podem ficar confusas, primeiro com a história do próprio “Gato de Botas”, depois pela mistura meio atrapalhada de “João e o Pé de Feijão” e “A Galinha (ou Gansa) dos Ovos de Ouro”. Os fãs de Shrek, contudo, ficarão felizes em ver o Gato tendo sua própria aventura, e não reclamarão de nada...
Fim de ano e férias são sinônimos de desenhos animados nos cinemas e nas locadoras. É preciso achar atrações para o público infantil que deixa as salas de aula. O atrativo adicional das cópias em 3D também ajuda a consolidar gordas bilheterias. Nessa linha estreou também o competente e gracioso Happy Feet 2, de origem australiana, dirigido por George Miller. Esses são os mais recentes sucessos garantidos, antes da chegada de “A Era do Gelo 4” em 2012, confirmação da espetacular ascensão do nosso diretor Carlos Saldanha em Hollywood, depois dos primeiros três filmes da série e da consagração de “Rio”.
E para quem deseja ir ao cinema para ver um filme sobre crianças, está em cartaz
“O Garoto da Bicicleta” tem sido celebrado como um dos melhores filmes do ano pelos críticos brasileiros. É sentimental e comovente, mas marcado pela dureza da vida real, mostrada sem retoques, nem artifícios para conduzir a emoções fáceis. Isso é característica dos diretores, os belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, que surpreenderam o mundo cinematográfico principalmente com “A Criança”, de 2005, vencedor da Palma de Ouro em Cannes.
No elenco de “O Garoto da Bicicleta” o destaque maior é para o menino Thomas Doret, que interpreta Cyrill, o garoto do título. Ele é sensacional e já aparece como uma grande promessa do cinema europeu, dado ao seu talento precoce que, espera-se, venha a se confirmar na continuidade da carreira. O outro destaque é para a excelente Cécile de France, sempre bela e ótima atriz. Para quem não se lembra dela, vale recordar que é a atriz do belíssimo filme de Clint Eastwood, “Além da Vida” (Hereafter), que pode ser visto no DVD ou Blu-Ray.
Bem, é isso: gatos espertos e garotos abandonados são ingredientes comuns nos cardápios cinematográficos de todo ano. Nos casos citados, até que temos bons pratos.