segunda-feira, 21 de março de 2011

CORES DE ALMODÓVAR


José Farid Zaine
farid@limeira.com.br
twitter: @faridzaine
Facebook: Farid Zaine



Na sua famosa composição “Esquadros”, Adriana Calcanhoto canta “eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome, cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores!” ... Na letra da música ela coloca no mesmo patamar a lembrança das cores dos filmes de Almodóvar e dos quadros da pintora mexicana Frida Kahlo, daí a constatação de que, para a cantora, a marca dos filmes do cineasta espanhol são as cores vivas, fortes, sempre presentes em suas obras, como uma referência.

Não fosse a lembrança das cores, outras marcas nos remetem aos filmes desse grande diretor: suas personagens, na maioria das vezes ambíguas, diferentes, vivendo histórias complicadas que, se não houvesse a mão firme e o cérebro do cineasta, poderiam resultar em catastróficos melodramas. Almodóvar, contudo, por seu talento , sua criatividade e sua ousadia, transformou-se num dos diretores europeus mais cultuados e premiados no mundo todo, inclusive com os Oscars dados a “Tudo Sobre Minha Mãe”(Melhor Filme Estrangeiro), talvez seu melhor filme e ao roteiro de “Fale Com Ela”. “Tudo Sobre Minha Mãe” ganhou também o Globo de Ouro como melhor filme estrangeiro e Almodóvar ganhou a Palma de Ouro em Cannes como melhor diretor!

Hoje, então, indico aos leitores e leitoras para que vejam ou revejam filmes importantes desse “enfant terrible” do cinema espanhol.

Dentre as tantas “sacadas” do genial Almodóvar, uma eu acho sensacional: no filme “Má Educação”, há a presença da atriz espanhola Sarita Montiel, sucesso internacional nos anos 50 com ingênuos musicais que a projetaram e a levaram inclusive a Hollywood, mas não dá pra contar nada para não estragar a surpresa. Sarita ainda está presente na trilha sonora, em duas canções. Para conhecê-la melhor, nada como ver seus filmes mais famosos, “La Violetera” e “O Último Tango”, juntos num único DVD recentemente lançado pela Classicline. “Má Educação” tem como intérprete Gael Garcia Bernal, o ator mexicano em excelente fase de sua carreira.

“Tudo Sobre Minha Mãe” tem o argumento delicado de uma mãe (Cecília Roth, magnífica), cujo filho é produto de um rápido relacionamento amoroso com um travesti chamado Lola, e que perde esse filho num acidente, quando este vai obter o autógrafo de uma famosa atriz (Marisa Paredes). Esta é apenas uma parte de uma história intrincada de relacionamentos, de cruzamentos de vidas e destinos, tudo de uma forma brilhante. O título vem do fato de que o garoto, no início do filme, assiste pela TV a uma exibição de “A Malvada”, cujo título original é “All about Eve” , ou “Tudo sobre Eve”, revelando a paixão do diretor por esse filme magistral com Bette Davis e Anne Baxter.

Outra história incrivelmente original é a de “Fale com Ela”, em que um relacionamento entre um homem apaixonado e uma mulher em coma,de quem se torna praticamente enfermeiro, coisa aparentemente bizarra, surge como fio condutor de um roteiro recheado de surpresas e reviravoltas. Em uma sequência de “Fale com Ela”, aparece Caetano Veloso cantando Cucurrucucu Paloma, em momento suave e comovente. Ele é amigo de Almodóvar. O filme também foi indicado ao Oscar de melhor direção, mas Almodóvar ganhou pelo roteiro...

“Carne Trêmula”, com Javier Bardem, é outro momento excepcional da obra de Almodóvar: um filme tenso, de alta voltagem emocional, igualmente com histórias de vidas que se cruzam e dramas familiares e passionais.

Penélope Cruz, recentemente premiada como melhor atriz coadjuvante em “Vicky Cristina Barcelona”, de Woody Allen, estrelou um dos últimos filmes de Almodóvar, “Volver”, um drama de mulheres às voltas com suas vidas e o fantasma da mãe, pelo qual foi indicada ao Oscar de Melhor atriz, tendo perdido para Helen Mirren , em “A Rainha”.

Voltando ao início da carreira do cineasta espanhol, podemos buscar diversão garantida com um dos primeiros grandes sucessos internacionais dele: “Mulheres à beira de Um Ataque de Nervos”, com sua onipresente Carmen Maura, indicado ao Oscar de Melhor Filme estrangeiro.

E, voltando ainda mais, vamos encontrar um dos melhores trabalhos do mestre, e a melhor parceria dele com o astro Antonio Banderas. Trata-se do belíssimo “A Lei do Desejo”, história de uma paixão entre um diretor de cinema maduro, que tem uma irmã transexual, e um jovem, vivido por Banderas, obsecado por ele. Na trama mirabolante, não faltam ingredientes de filmes policiais, os sempre presentes dramas familiares e sexo, muito sexo, desta vez com cenas quase explícitas entre Banderas e Eusebio Poncela.

Não bastasse isso, na trilha sonora está nossa Maysa, interpretando Ne Me Quitte Pas, de Jacques Brel, talvez a mais apaixonada e angustiada versão dessa que é uma das mais belas canções de amor já compostas.

“Má Educação”, “Tudo Sobre Minha Mãe”, “Fale com Ela”, “Volver”, “Carne Trêmula” “Mulheres À Beira de Um Ataque de Nervos” e “A Lei do Desejo” são as indicações que faço para quem deseja mergulhar em parte da obra de Pedro Almodóvar (há ainda muito mais), e dela sair atordoado por suas cores, mas recompensado por um cinema original e perturbador.


"Fale com Ela"

"Tudo sobre minha mãe"

Assessoria Parlamentar do Vereador José Farid Zaine (PDT)

Nenhum comentário:

Postar um comentário