segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Repercussão

Nesse sábado, 4 de setembro, na Gazeta de Limeira, a coluna “CineArte” abordou o filme “Nosso Lar”. O texto, de José Farid Zaine, está disponível na íntegra abaixo:

ESPÍRITOS ARQUITETOS
Por JOSÉ FARID ZAINE
farid@limeira.com.br
twitter.com/faridzaine



Desde a estreia de “Bezerra de Menezes”, uma plateia cada vez mais numerosa passou a esperar com ansiedade os lançamentos das grandes produções de temática espírita, “Chico Xavier”, de Daniel Filho e “Nosso Lar”, de Wagner de Assis. “Bezerra de Menezes” atraiu mais de 500.000 pessoas, público razoável para uma produção tosca, dramaturgicamente paupérrima. O púbico- alvo não estava nem aí para os defeitos do filme, presentes em todos os quesitos – roteiro, figurino, interpretações, tudo. E aí chegou “Chico Xavier”, outra cinebiografia, mas agora bem acabada, com produção sofisticada, grandes interpretações (principalmente a de Ângelo Antonio), direção, fotografia, roteiro, trilha sonora de Egberto Gismonti, enfim, tudo de bom. Com excelente trabalho de publicidade, não deu outra: enorme sucesso visto por mais de 3 milhões de espectadores. Sucesso merecido. Embalado por essa visibilidade conferida ao tema, num ano particularmente importante para o espiritismo, o do centenário de nascimento de Chico Xavier, em pleno período de exibição do longa de Daniel Filho, os cinemas anunciavam, num trailer muito bem feito, a estreia de “Nosso Lar” para setembro. Desta vez também não deu outra, e a abertura de “Nosso Lar” já contabilizou, no primeiro fim de semana, mais de 540.000 espectadores. Outro aspecto da estratégia de divulgação do filme de Wagner de Assis, foi a exaustiva exposição de um certo orçamento milionário, já que a produção teria consumido cerca de 20 milhões de reais, a maior cifra para um filme brasileiro. A quantia estaria justificada na contratação de grande empresa canadense de efeitos especiais (a mesma de “Watchmen”), do fotógrafo Ueli Steiger (de “O Dia Depois de Amanhã”) e até na encomenda da trilha sonora, feita por Philip Glass, que compôs a trilha de “As Horas”, tendo sido indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro e vencido o BAFTA por esse filme, em 2003.

Mexer com vida após a morte, ou vida após a vida, como se diz no filme, sempre rendeu produtos de alto interesse popular, e não apenas entre adeptos do espiritismo. Quem nunca se questionou sobre o que existiria no “outro lado”? Pois o fascínio pela solução desse enigma atinge a todos. Entre o desejo de descobrir como é esse “outro lado” e conferir uma produção brasileira muito aguardada, move-se um público ansioso por esclarecer suas dúvidas, confirmar suas convicções ou apenas curtir mais um blockbuster do cinema nacional.

Em certos aspectos, NOSSO LAR cumpre o que promete: as sequências do Umbral, espécie de purgatório, são plasticamente muito bem feitas e convincentes. Já a “cidade” para onde vão os espíritos desencarnados, com sua característica futurista, parece falsa. Quem seriam os arquitetos desses edifícios moderníssimos, em uma cidade que abriga também bucólicas casinhas coloridas e exuberantes jardins? Nesse cenário estranho, em que uma parede se move magicamente e se abre para o visitante, desenrola-se a história de André Luiz, o médico que, ao desencarnar, sofre os horrores do Umbral para depois, numa passagem por um tipo de hospital, certificar-se de que chegou a uma outra vida, onde terá chance de fazer seu espírito evoluir. Ele é interpretado, sem grandes vôos, pelo ator consagrado em peças teatrais espíritas, Renato Prieto. Alguns rostos conhecidos tem passagens discretas pelo filme, como Othon Bastos, Werner Shünemann, Ana Rosa, Paulo Goulart. Nas cenas em que a história se passa na década de 1930, a direção de arte é muito boa. A fotografia, de modo geral, é bastante competente. Com tantos bons elementos, o resultado geral não é satisfatório. De qualquer modo, é sempre bom ver um filme brasileiro provocando filas nas salas dos nossos cinemas. É alentador ver que uma produção nossa seja o filme mais visto em seu fim de semana de estreia, batendo poderosas produções estrangeiras como “Karate Kid” e “Como Cães e Gatos 2”, com uma arrecadação espetacular que, aliás, não tem nada de espiritual. Que o sucesso prossiga, para o bem do cinema brasileiro, e que cada um veja o filme e tire as próprias conclusões. Claro, é assim que tem de ser.

“Quem são vocês, o que aconteceu comigo?”, pergunta numa cena a personagem principal André Luiz, ao ajudante de serviços gerais do Ministério da Regeneração, Lísias, vivido por Fernando Alves Pinto, que diz: “ Todas as perguntas serão respondidas no tempo devido”. Para mim, ao final do filme, diante das dúvidas que permanecem, isso soa como “vem aí Nosso Lar 2”...


Assessoria Parlamentar do Vereador José Farid Zaine (PDT)

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