Por José Farid Zaine
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Um novo filme de Tim Burton é sempre bem-vindo. Sabemos o que vamos encontrar: visual arrebatador, trilha sonora competente, história interessante e, claro, Johnny Depp... Essa parceria continua firme em “Sombras da Noite” (Dark Shadows), que estreou na semana passada em todo o Brasil, e funcionou bem em outros similares como “O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet” e “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça”, sem falar na recente – e como não poderia deixar de ser – estranha versão de “Alice no País das Maravilhas”.
“Sombras da Noite” conta a história de Barnabas, vivido por Johnny Depp, transformado em vampiro por uma bruxa, Angelique, que não pode ter seu amor, interpretada pela bela Eva Green, que rouba a cena. Um amor interrompido pela morte da amada, Josette (Bella Heathcote) e a vingança da mulher rejeitada, levam Barnabas a ser enterrado por quase 200 anos. O clima de terror gótico dos anos 1770, com direito a grandes mansões assustadoras, mares bravios, penhascos e quedas violentas sobre rochedos açoitados por ondas furiosas, é repentinamente quebrado por um salto no tempo: o vampiro acorda no ano de 1972, faz um estrago considerável para saciar uma sede de sangue de dois séculos, e é mergulhado num cenário que ele desconhece totalmente, vindo daí toda a graça do filme.
O humor negro, sempre presente nas obras de Tim Burton, surge em “Sombras da Noite” como uma luz salvadora. As situações criadas pelo choque de época são interessantes e engraçadas, sendo a música a marca mais eficaz das melhores sequências. De Carpenters a Alice Cooper (com o próprio em cena), a trilha traz momentos especiais, que dão charme e encanto ao longa.
Uma presença mais do que especial no elenco é a de Michelle Pfeifer, sempre linda, como Elizabeth Collins, a herdeira da mansão construída pelos pais de Barnabas depois de um período de enorme prosperidade conseguido através da pesca numa pequena vila costeira, não por acaso chamada Collinsport, no Maine. Os tempos levam a família a perder espaço para a rival, a bruxa Angelique, até a deterioração quase total dos negócios, refletida na mansão em ruinas. A chegada de Barnabas é a promessa de salvação, mas muita turbulência e revelações acontecerão por conta da visita inesperada...
FIGURINHAS CARIMBADAS
Johnny Depp já é figura carimbada nos filmes de Tim Burton, mas outra figurinha está sempre presente: Helena Bonham Carter, atriz muito talentosa e com ótima queda para o humor, presente em “Alice”, “Sweeney Todd”, e agora como uma psiquiatra obcecada pela juventude neste “Dark Shadows”. Helena ficou conhecida internacionalmente com o filme “Uma Janela Para o Amor” (A Room with a View), de James Ivory, elegante drama romântico de 1985, e mais recentemente brilhou como a Rainha Elizabeth em “O Discurso do Rei”. Sua ligação com Tim Burton vai além do cinema, pois eles são casados.
É possível fazer organizar um festival doméstico de Tim Burton com o farto material que existe nas locadoras. Uma mostra significativa não poderia ficar sem “Edward, Mãos de Tesoura” (1990), “Os Fantasmas se Divertem” (1988), “Marte Ataca” (1996), “Peixe Grande” (2003), “A Noiva Cadáver” (2005) e “Ed Wood”(1994).
Como o humor é luz sobre essas “Sombras da Noite”, espero que os leitores e leitoras se divirtam com a nova aventura dirigida por Tim Burton. Desejo também que todos se deixem envolver pela luz da arte, da cultura, essa poderosa luz capaz de dissolver todas as sombras.