terça-feira, 10 de abril de 2012

CAVALOS SOFREDORES

Por José Farid Zaine
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Um filme lançado em 1977 nos cinemas, e anos depois no vídeo, pode ser visto agora como uma curiosidade. A peça que deu origem a ele, “Equus”, de Peter Shaffer, tem sido encenada em muitos países, principalmente após o impacto da montagem londrina com Daniel Hadcliffe no elenco, e a famosa cena de nudez frontal que ele encarou, mesmo sem se desvincular da imagem do bruxinho Harry Potter. Daniel começou o processo de transformação de ator infanto-juvenil para adulto, justamente nessa ousada empreitada, em que encarna um adolescente problemático, às voltas com um crime cometido contra cavalos. Ele agora faz sucesso no terror “A Dama de Preto”, e acho que já pode se livrar de papeis pesados demais para provar o talento de ator. O filme de que falo, de 1977, é justamente “EQUUS”, roteirizado pelo próprio Peter Shaffer, autor da peça, e dirigido por Sidney Lumet. O intérprete do adolescente era Peter Firth, e o psiquiatra que cuida dele era nada mais, nada menos que Richard Burton. Os dois ganharam o Globo de Ouro em 1978.



“Equus” conta a história de um rapaz de vinte anos, controlado pela mãe, uma fanática religiosa, e pelo pai, que rejeita a religião e não tem relações muito boas com ele. O garoto trabalha num estábulo, cuidando de cavalos, pelos quais ele é apaixonado. Num certo dia ele é preso, acusado de cegar, com um estilete, 6 cavalos. Um psiquiatra será convidado pela justiça para analisar o caso, e da relação desse médico com seu estranho paciente, surgirão revelações instigantes que deixam a história sempre interessante.



Nesta sexta-feira estreia em São Paulo uma nova montagem de “Equus”, que antes teve uma temporada aqui no Teatro Amil, no Shopping Dom Pedro, em Campinas, onde pude vê-la. A montagem é excelente, trazendo Elias Andreatto no papel do Dr.Martin Dysant, e o jovem ator da Rede Globo, Leonardo Miggiorin no papel do adolescente Alan Strang. Nos anos 1970, o grande Paulo Autran deu vida ao psiquiatra nos palcos paulistanos, e o ator Ewerton de Castro interpretou o jovem Alan.



A volta do interesse pelo texto de Shaffer, que questiona se a psiquiatria tem mesmo o direito de arrancar de uma pessoa uma paixão avassaladora, para transformá-la num ser “normal”, o grande dilema vivido pelo médico em “Equus”, ainda vai render remontagens pelo mundo afora.
Já que estamos na Semana Santa, recomendo, em primeiro lugar, que as pessoas saiam de casa para ir ao Parque Cidade, onde ocorre, desde ontem, a encenação da Via-Sacra, o espetáculo limeirense sobre a Paixão de Cristo, há 22 anos acontecendo nesse período na cidade. O espetáculo é apresentado hoje, seu dia principal, e vai até amanhã, sempre às 20h, com entrada franca, num espaço que deu à encenação uma dimensão cinematográfica, com elenco de mais de 120 atores e atrizes vindos de todos os cantos da cidade. Mas como o feriado prolongado permite ainda muitas opções, indico uma visita às locadoras, onde “Equus” poderá ser encontrado. E como o tema desse filme é intimamente ligado a cavalos, outro filme magnífico, que envolve em sua dramaticidade o mesmo animal, também pode ser procurado; trata-se de uma obra-prima dirigida por Sydney Pollack, com Jane Fonda e Michael Sarrazin: “A Noite dos Desesperados”, inspirado no livro de Horace McCoy, “Mas não se matam Cavalos?” (They Shoot Horses, don´t they?). Aqui a história é sobre uma maratona de dança durante os duros anos da depressão econômica nos EUA. As pessoas estão desesperadas, fazendo tudo o que conseguem para sobreviver a ponto de uma delas, no caso a personagem vivida por Jane Fonda, pedir ao parceiro para que a mate. Um cavalo, quando sofre, é sacrificado. Um ser humano, no limite do sofrimento, poderia ter o mesmo tratamento? Filme antológico, grande clássico, para ser visto e revisto.



Nos recentes lançamentos nos cinemas, incluindo presença no Oscar, de onde saiu de mãos abanando, vimos o “Cavalo de Guerra” (War Horse), de Spielberg, mostrando um lado nem sempre conhecido da vida desses animais, o da participação em uma guerra mundial.
Dediquemos uma pesquisa aos filmes que falam desses animais: há desde os mais ingênuos, para cativar as crianças, até os mais contundentes, de onde mesmo os adultos podem sair muito atordoados, embora acrescidos de conhecimentos mais profundos sobre o ser humano, ainda que a partir do sofrimento de cavalos.

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