sexta-feira, 20 de abril de 2012

SEM PAULÍNIA NO CALENDÁRIO



Por José Farid Zaine

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Facebook: Farid Zaine

"Febre do Rato", de Cláudio de Assis.


Minha primeira matéria no Cineart foi sobre o Festival de Cinema de Paulínia. O título era “O Sonho Mora ao Lado”, numa alusão ao filme de Marilyn Monroe, “O Pecado Mora ao Lado”, em que acontece uma das mais icônicas cenas da história do cinema, aquela em que a maior sex symbol das telas tinha o vestido levantado pelo vento da grade de ventilação do metrô, prendendo-o com as mãos e criando uma imagem singular e jamais inigualada, combinando ingenuidade com erotismo e sensualidade, coisas em que a loura era campeã...isso só pra lembrar que ali, bem pertinho de nós, num teatro deslumbrante, com produção espetacular e de altíssimo custo, acontecia um grandioso festival de Cinema, tornado um dos principais do País em apenas 4 edições...para nós, mesmo vizinhos, era como se a loura platinada estivesse bem perto de nós, mas inatingível...



Como cinéfilo, frequentei o quanto pude o Festival de Cinema de Paulínia, vendo filmes brasileiros incríveis e com aquele prazer inenarrável de acompanhar a primeira exibição pública de muitos deles... Conversei com alguns diretores, produtores, artistas, e reencontrei outros que conheci nas andanças pelos teatros e pelos cursos de interpretação para TV que andei fazendo com dois diretores da Rede Globo. O Festival de Paulínia era tudo de bom, mesmo com Rubens Ewald Filho sendo apresentador...



Agora chega a notícia de que em 2012 o festival não será realizado, por falta de recursos. O Prefeito anunciou o cancelamento alegando que a 5ª edição seria patrocinada por empresas particulares, mas nenhuma teria se interessado. Uma pena. Mas a maior surpresa, para mim, veio com a descoberta do Orçamento do Festival, na casa dos R$ 10 milhões!!! Cifra impressionante para um evento de menos de uma semana de duração, mesmo com tudo de bom que acontece nele, com todo o seu glamour... Difícil imaginar de que forma esse dinheiro é distribuído nas várias demandas do festival, mesmo sabendo que a premiação, talvez a maior do País, tenha chegado, segundo as notícias que li, aos 800 mil reais! E pensar que Orçamento da Cultura em Limeira, no ano passado, foi perto do valor do orçamento do Festival de Paulínia, para manter uma Secretaria e todos os seus departamentos, incluindo Teatro, Orquestra Sinfônica, Escola Livre de Música, Escola Municipal de Cultura e Artes, Decadie, Biblioteca Municipal, continuidade das construções e restaurações do Museu, Palacete Levy, Biblioteca Municipal, reforma e adaptações para acessibilidade total no Teatro Vitória, manutenção das Oficinas culturais no prédio alugado onde funcionava a Escola Einstein, na Senador Vergueiro, parceria com a Secretaria de Estado da Cultura no funcionamento da Oficina Carlos Gomes, no Festival Paulista de Circo, e ainda a compra de um piano de cauda...além de uma programação cultural intensa e diversificada que incluiu Concertos, Festival de MPB Canta Limeira, FestiAfro, Slac- Salão Limeirense de Arte Contemporânea, Mostra Municipal de Dança, Mostra Municipal de Teatro, Festival Nacional de Teatro, Limeira em Blues e Jazz, Um Show de Mulher, Exposições, Shows, Peças teatrais, Projeto Cine Cultura (incluindo o Festival Mix de Cinema da Diversidade Sexual), Natal no Edifício Prada, Serenata de Natal, Festival Viola de Todos os Cantos...e muito mais. Um ano de manutenção da estrutura administrativa da Secretaria da Cultura, com todos os seus funcionários, prédios em construção ou restauração, projetos culturais e formação dada através de cursos dos mais variados, tudo isso é feito com o valor que seria destinado à edição de 2012 do Festival de Cinema de Paulínia.



Segundo o Prefeito de Paulínia, esse recurso, neste ano, precisa ser destinado a outras necessidades do Município. Está correto. Mas não haveria um jeito de manter o Festival, com um orçamento menor, uma premiação menor, menos despesas com convidados , mais economia em todos os eventos do Projeto? Mesmo com cortes radicais nas despesas, o Festival poderia acontecer com brilho, já que ganhou notoriedade em tão pouco tempo. E poderia se adaptar aos tempos de poucos recursos públicos e nenhum interesse da iniciativa privada. Acho que esse será o caminho, para que uma conquista tão preciosa na área cinematográfica não perca seu espaço definitivamente.



Fiquemos, então, na saudade, revendo pelo menos os filmes vencedores das primeiras edições: “Encarnação do Demônio”, de José Mojica Marins (2008), “Olhos Azuis”, de José Joffily (2009), “5 x Favela - Agora por nós mesmos”, de vários jovens diretores (2010)...enquanto aguardamos o lançamento de “Febre do Rato”, de Cláudio de Assis, o vencedor de 2011. Fica um vazio no mês de julho de 2012 no calendário cultural do País.

Um comentário:

  1. Oi Farid, tudo bem?

    Estive semana passada no Theatro Municipal de Paulínia para prestigiar a peça "Para Viver Um Grande Amor". Esta é a 2ªvez que estive lá. Acredite, fiquei deslumbrada com o local e sem palavras diante do memorial à Paulo Gracindo.
    E justamente este ano que provavelmente eu iria conhecer este "Festival de cinema" tão comentado e que não tinha tido a oportunidade de conhecer, e olha que moro pertinho.
    Estou com um panfleto que anuncia que do dia 19 de Junho à 01 de Julho vai ocorrer a "Mostra Paulínia de Cinema 2012", acho que vale a pena ir conferir.
    Apesar de tudo que você relatou eu, mesmo assim sou fã dos governantes da cidade de Paulínia, e como não ser? Sou de Campinas e aqui não temos um espaço como este.
    Um abraço...

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