sexta-feira, 27 de abril de 2012

CineART

Abaixo, coluna "CineART", do professor José Farid Zaine (PDT), publicada na Gazeta de Limeira de hoje:


Um brasileiro muito Amado






Por José Farid Zaine

farid.cultura@uol.com.br

Twitter: @faridzaine

Facebook: Farid Zaine



No ano em que comemoramos o centenário de nascimento de Jorge Amado, uma quantidade muito grande de eventos acontece por todo o País, para homenagear um dos autores em língua portuguesa mais lidos em todo o mundo, tendo suas obras traduzidas para dezenas de países. O fascínio exercido pelo texto de Jorge Amado, temperado com a sensualidade e o exotismo próprios dos lugares que descreveu em suas obras, fizeram não apenas que milhões de pessoas se encantassem com suas histórias, suas personagens, a Bahia,suas cores, seus cheiros, suas crenças, sua cultura, mas chamaram sempre a atenção de cineastas e novelistas.



Recentemente, até como parte das comemorações desse centenário, foi lançado nos cinemas e em DVD e Blu-Ray o filme dirigido por sua neta Cecília Amado, “Capitães da Areia”. É um belo filme, sem ser uma obra-prima. Cecília captou o clima da vida dos meninos de rua de Salvador nos anos 30, deu ao seu filme cores e sons apropriados, atores mirins interessantes, personagens adultos bem delineados. Contudo, a grandeza do livro que cativou tantos leitores não está presente. “Capitães da Areia”, o livro, está muito distante do que o filme conseguiu transpor de suas páginas. Mesmo assim vale a pena vê-lo. A aventura dos meninos Pedro Bala, Volta Seca, Sem Pernas, o Professor e outros, além da menina Dora, que se integra ao bando, é emocionante, e quem assistir ao filme primeiro, poderá mergulhar na leitura do livro, só ganhando com isso.



Há uma versão estrangeira de “Capitães da Areia”, datada de 1971, dirigida por Hall Bartlett, mas pouca gente sabe da existência dela, e tendo visto alguns trechos no Youtube, não me animei nem a procurar uma cópia para ver a versão integral. O pouco que vi fala contra o filme.



Até há pouco tempo, antes do sucesso fulminante de “Tropa de Elite 2”, o recordista de bilheteria do cinema brasileiro era “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, com Sônia Braga, José Wilker e Mauro Mendonça. Uma boa adaptação da obra do mestre baiano que sempre merece ser revista. A montagem teatral que está em cartaz, com Marcelo Farias e Fernanda Vasconcellos, já esteve em Limeira, só que com Carol Castro no papel de Flor, agora trocada por Fernanda. Uma minissérie de sucesso estrelada por Julia Gam também saiu desse livro magnífico, que acabou inspirando um filme peruano gay (Contracorrente).



Outra mulher da galeria invejável de Amado causou furor na TV, na novela “Tieta”, e também no filme de Cacá Diegues, “Tieta do Agreste”. O livro foi outro marco na história de sucessos do escritor baiano.



Nada se compara, contudo, à paixão dos brasileiros pela mais famosa morena da literatura brasileira: Gabriela! Saída da obra-prima “Gabriela, Cravo e Canela”, a personagem feminina mais desejada dentre as mulheres de Amado tomou forma no rosto e no corpo de Sônia Braga, e essa imagem é muito difícil de mudar. Bruno Barreto levou a história para o cinema, trouxe até Marcello Mastroianni para fazer o turco Nacib, mas não deu certo. O filme não rolou. A novela, sim, foi um marco que a Rede Globo tenta reeditar neste ano de comemorações, colocando Juliana Paes para interpretar Gabriela. Veremos o que acontecerá.



Desde muito cedo o cinema namorou as obras de Jorge Amado, mas poucas vezes fez jus à grandiosidade delas. O cinema americano, com sua estúpida mania de refilmar obras originalmente concebidas em língua estrangeira, temperando-as para o gosto do seu público, fez uma adaptação catastrófica de “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, chamada “Kiss Me Goodbye”, com Sally Field. Um absurdo, apesar da presença de Sally.



Fiquemos com nosso jeito tropical, baiano, sensual, na busca dos filmes feitos por aqui mesmo para homenagearmos, com nossa atenção e carinho, um brasileiro muito, muito Amado!

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