sexta-feira, 3 de agosto de 2012

BATMAN VAI AO FUNDO DO POÇO


Por José Farid Zaine
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Christopher Nolan acertou de novo, contra algumas expectativas negativas de gente que gosta de apostar na derrota. Diretor de uma das mais bem sucedidas trilogias da história do cinema, tanto em arrecadação nas bilheterias como em qualidade, ele finaliza uma sequência de três ótimos filmes com “Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge”. Os dois primeiros são também magníficos, o segundo tendo a antológica participação de Heath Ledger como um inesquecível Coringa, um dos melhores papeis da curta carreira desse maravilhoso ator, morto no auge do talento aos 28 anos.



 
O novo “Batman” é mais do que simples entretenimento. São tantas as questões colocadas, que a conhecida luta do super-herói na caça aos bandidos, em defesa da paz em sua Gotham City, explorada apenas nesse aspecto em muitos filmes, é apenas uma das questões. Nosso herói agora, depois de levar a culpa pela morte do promotor Harvey Dent, o “Duas Caras”, vê a cidade banir a criminalidade através de uma lei rígida e bem-sucedida. A verdade, enquanto for conveniente, precisa ser ocultada. Bruce Wayne conhece o isolamento, a distância, a decadência física. Para que retornar, se ele não é mais necessário? Mas como a vida dele não pode ficar inerte por muito tempo, e como não há paz que sempre dure, um forte motivo vai tirá-lo das sombras . Gotham City ganha um novo e poderoso vilão, Bane, que surge com a ameaça nada desprezível de explodir a cidade. Claro, Bruce vai contrariar o mordomo, Alfred, descobrir a trama perigosa que se avizinha, vestir seu traje negro, usar seu batmóvel – não, seu carro equipadíssimo não é mais apenas um carro, a mulher-gato que o diga – e fazer o que for preciso para salvar a cidade.

“Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge” é um filme sombrio, violento, e o tempo todo sobrevoamos Nova York travestida de Gotham City (embora as filmagens tenham sido feitas em muitos locais diferentes) para sentir o medo, a angústia, o ar sufocante ainda carregando os restos do 11 de setembro. O caos aparece, está presente como a dizer para o mundo: isso pode acontecer. Até um super-herói com seus poderes será colocado à prova, descerá (literalmente) ao fundo do poço e só uma força quase sobrenatural e uma obstinação inabalável conseguirão tirá-lo de lá.





Nolan reuniu um elenco impecável para finalizar sua trilogia. Quem daria um rosto mais apropriado à angústia, temores, fraquezas e determinação de Batman, melhor do que fez Christian Bale? Ninguém. Ele é mais do que a cara de Batman, ele é a alma dele. Ao seu redor, a melhor companhia possível: Gary Oldman é o comissário Gordon,Michael Caine é o mordomo Alfred, Anne Hathaway é Selina Kyle, Tom Hardy é Bane, Marion Cotillard é Miranda Tate. E ainda temos o magnífico Joseph Gordon Levitt, que nos reservará ótima surpresa como o policial John Blake, além de Morgan Freeman e Liam Neesom.

Bale é um ator notável. Começou a carreira muito cedo, como menino de “O Império do Sol”, de Steven Spielberg. Ali, aos onze anos, ele já demonstrou todo o seu potencial, num drama de guerra carregado por seu olhar. Muita coisa se passou na vida de Bale, muitos problemas particulares escancarados pela imprensa interferiram em sua carreira, mas como o menino vitorioso de “Império do Sol”, ele continua firme nas telas, dando vida a tipos duros e sofridos, como esse Batman de agora. O menino que, neste último filme da trilogia, canta o Hino Americano num campo de beisebol, remete à outra voz infantil e suave que entoava o acalanto “Suo- Gan” no filme de Spielberg.

Ação vertiginosa, suspense e terror, dilemas e enigmas, tudo vem extremamente bem apresentado por ótima fotografia, excelente direção de arte e música espetacular de Hans Zimmer. Aliás, a música, como nunca, carrega o filme de tal forma que, sem essa trilha sonora, ele perderia a maior parte do seu impacto. Zimmer, aliás, em homenagem aos mortos por um assassino num cinema de Colorado, compôs “Aurora”, nome da cidade em que aconteceu a tragédia, na estreia de “Batman”.

Nolan, que já provou seu grande talento no sensacional “A Origem”, não poderia dar melhor encerramento à série que dirigiu sobre o sombrio herói Batman. A meia hora final do filme é arrebatadora, surpreendente e bela, como se o clímax de uma ópera dramática estivesse vigorosamente sendo conduzido por um grande maestro. Façanha incrível, a de Nolan: o público sai do cinema querendo mais uma trilogia... Já que nosso herói conseguiu sair do fundo do poço, ele merece, mais do que nunca, a luz dos holofotes.

Um comentário:

  1. Realmente tenho que concordar que é uma das melhores trilogias já feita.

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