sexta-feira, 10 de agosto de 2012

QUANTO MAIS QUENTE MELHOR


Por José Farid Zaine
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Era de se esperar: a obra-prima de Billy Wilder “Quanto Mais Quente Melhor” (Some Like it Hot), voltou aos cinemas, tendo reestreado no dia 3 de agosto em São Paulo, em cópia restaurada, como parte das homenagens do mundo cinematográfico aos 50 anos da morte de Marilyn Monroe, um dos maiores – senão o maior – símbolos sexuais do cinema. Morta os 36 anos, no auge de uma carreira que ainda prometia muitos anos de sucesso, a loura (que, na verdade era morena) mais famosa da tela grande teve sua atribulada vida encurtada por barbitúricos no dia 5 de agosto de 1962, durante o período em que filmava a comédia de George Cukor “Something´s Got to Give”, jamais terminada. Abalada por uma sequência de casos amorosos mal resolvidos, precisando lidar com sua enorme insegurança, Marilyn foi mais uma superstar que não suportou o peso da fama, depois de uma infância pobre e uma adolescência perturbada. O envolvimento dela com os irmãos Kennedy (John e Bob) até hoje rende suspeitas assombrosas sobre sua morte trágica e prematura. Muito ainda será revelado e muito mais será ocultado dessa história mais intensa e mais dramática que qualquer roteiro que ela tenha filmado.

Billy Wilder, que era um gênio, conhecia bem o talento de Marilyn para a comédia, e esse talento jamais foi tão bem explorado como em “Quanto Mais Quente Melhor”. Ela está deslumbrante , sensual e engraçada como Sugar, a cantora de uma banda de mulheres em que toca ukulele (aquele instrumento que parece um cavaquinho e que hoje está tão em moda). Para essa banda entram, disfarçados de mulher, Tony Curtis (Joe/ Josephine) e Jack Lemmon (Jerry/ Daphne), perseguidos por um grupo de gângsters na Chicago de 1929, durante a Lei Seca. O encontro dos três é sensacional. Curtis e Lemmon, soberbos, ajudaram muito na criação desta que é, sem dúvida, uma das melhores comédias já realizadas pelo cinema. Mais de meio século depois de sua estreia, o filme, rodado em preto e branco, pode ser visto com o mesmo deleite, e é um exemplo para as novas gerações.

Programa imperdível para os cinéfilos de todo o mundo é, sem dúvida, conferir “Quanto Mais Quente Melhor” na tela grande, restaurado, em salas com projeção e som de primeira, para que se possa avaliar o que foi o prazer que o público do finalzinho dos anos 1950 sentiu ao curtir esse estrondoso sucesso da época, um período marcado por forte preconceito sexual, o que faz com que o extraordinário e ousado final seja ainda mais saboroso.

Para quem não tem chance de ir a um cinema que exiba a nova cópia, é ótimo lembrar que o filme está disponível em DVD e pode render excelente sessão caseira.

MARILYN E BILLY WILDER, PARA SEMPRE
Já comentei aqui, neste espaço, o filme “Sete Dias com Marilyn”, em que Michelle Williams interpreta a atriz quando ela filmava em 1957, sob a direção de Laurence Olivier, “O Príncipe Encantado”. Vale a pena curtir. E, aproveitando a oportunidade, vale muito a pena conferir outros filmes estrelados por Marilyn Monroe, desde “A Malvada” (All About Eve), em que ela fez uma ponta, mas chamou a atenção do mundo inteiro, até seus maiores sucessos como “Os Homens Preferem as Louras”, “Nunca Fui Santa” , “Como Agarrar Um Milionário”, ou seu último filme, de 1961, dirigido por John Huston e com Clark Gable no elenco, “Os Desajustados”.



O relançamento oportuno de “Quanto Mais Quente Melhor” é uma chance também de se fazer uma revisão da obra de seu diretor, o grande Billy Wilder. Ele não era apenas um gênio da comédia. Dirigiu, por exemplo, um dos mais espetaculares dramas do cinema, “Crepúsculo dos Deuses” (Sunset Boulevard), que está na minha lista de melhores filmes de todos os tempos, estrelado por William Holden e Gloria Swanson. Simplesmente obrigatório. Outros filmes igualmente magníficos do mestre Wilder também são frequentemente citados nas listas de melhores de críticos do mundo todo, como “Farrapo Humano”, “Irma La Douce” ,deliciosa parceria de Jack Lemmon com Shirley MacLaine, dupla consagrada em “Se Meu Apartamento Falasse” (The Apartment), Oscar de Melhor filme em 1960. Todos eles podem ser facilmente encontrados em DVD.

Marilyn Monroe e Billy Wilder já se foram. Mas incontáveis gerações ainda curtirão seus filmes, graças ao poder da tecnologia, essa desafiadora do tempo. O tempo, com seu poder corrosivo e destruidor, às vezes perde para o homem e sua inteligência. Ainda bem.

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