Por José Farid Zaine
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“Quem não fica velho, morre moço”, dizia meu pai, que morreu com 82 anos, mas tinha um comovente apego à vida, uma vontade enorme de continuar vivendo. Certo, quem não quer envelhecer é porque prefere morrer jovem...O tempo que passa, a juventude que se esvai, o vigor que desaparece, as doenças que surgem, as limitações que se impõem e passam a comandar um novo modo de enfrentar o cotidiano, a perspectiva da morte próxima, o enigma indecifrado do que existirá além da vida, tudo isso são fantasmas que rondam as mentes de todos, principalmente dos que se aproximam da velhice. Tema assim tão fascinante não poderia deixar de estar presente nas obras dos poetas, romancistas, dramaturgos, cineastas...O cinema nos deu, ao tratar do assunto em questão, grandes filmes. Falo disso agora por conta do lançamento em DVD e Blu-Ray de um filme que estreou muito recentemente em nossos cinemas, a ainda continua em exibição: “O Exótico Hotel Marigold”, que nos envolve de forma simpática e agradável no mundo da chamada “terceira idade”, em que nem tudo são flores, mas em que é possível saborear a vida sem preconceito, curtindo o direito de viver sem que, por causa da idade, seja preciso abrir mão da felicidade e ficar à espera da morte.
Antes de falar especificamente de “O Exótico Hotel Marigold”, lembremo-nos de alguns ótimos filmes que falam da velhice, e que podem ser vistos em casa facilmente, porque estão em praticamente todas as locadoras.
Quem não se lembra do grande sucesso “As Pontes de Madison”, dirigido por Clint Eastwood e em que ele faz um inesquecível par romântico com Meryl Streep? Aqui a história de amor de um casal maduro, revelada aos filhos dela após sua morte, nos toca profundamente com seu drama comovente e plausível, e é sempre um prazer rever o filme, principalmente pelas presenças magnéticas e irrepreensíveis de Eastwood e Streep.
Uma obra-prima que arrebatou a Palma de Ouro em Cannes é outra excelente chance de ver um grande filme sobre o tema: “A Balada de Narayama”, filme japonês maravilhoso que nenhum cinéfilo desconhece. Aqui o foco central é sobre uma aldeia em que é cultivado o costume cruel de se abandonar idosos que completam 70 anos para que, sozinhos no alto de uma colina, permaneçam até morrer.
E o que dizer de “Morte em Veneza”, baseado num dos mais célebres romances de Thomas Mann e dirigido por um dos gênios do cinema italiano, Luchino Visconti? Num caso raro de se ver no cinema, é difícil saber qual das duas obras-primas é maior: a literária ou a cinematográfica nascida a partir dela. Belíssimo, o filme acompanha a trajetória de Von Aschenbach, músico que vai a Veneza para se desligar do seu mundo de cansaço e amargas lembranças, e que, ao se ver atraído pela beleza de um adolescente, passa a camuflar a própria idade, numa cidade maravilhosa contaminada pela peste, como a mostrar que tudo pode deteriorar. Arrasador!
E ainda podemos citar a deliciosa comédia dramática argentina “O Filho da Noiva”, o drama inglês “Longe Dela”, o lindo e originalíssimo “Harold e Maude – Ensina-me a Viver”, o delicado “Num Lago Dourado”, que deu o Oscar à dupla sensacional Henry Fonda e Katharine Hepburn, o canadense vencedor do Oscar “ As Invasões Bárbaras”, a ficção “Cocoon”, além de um dos mais cultuados filmes de Ingmar Bergman, “Morangos Silvestres”. A lista é muito longa.
Voltando agora ao indicado da semana: “O Exótico Hotel Marigold” conta a história de um grupo de pessoas da terceira idade que partem da Inglaterra para uma viagem à Índia, levados pelo exotismo do país e pela propaganda de um Hotel, o Marigold, recentemente restaurado. Nada será como o previsto, mas a aventura terá impacto sobre o futuro de todos. A direção é de John Madden, indicado ao Oscar por “Shakespeare Apaixonado”. Aliás, num elenco excepcional como o que foi reunido, não faltam oscarizados: Judi Dench (melhor atriz coadjuvante em “Shakespeare Apaixonado”) e Maggie Smith (melhor atriz em “A Primavera de Uma Soleirona”), grandes damas do teatro e do cinema da Inglaterra lá estão, soberbas, na companhia de Tom Wilkinson.
Há muitos exemplos de ótimos filmes que mostram o envelhecimento sob vários aspectos, com o olhar diverso de grandes diretores. Em qualquer idade, é preciso curti-los, sempre com a certeza de que é possível “viver e não ter a vergonha de ser feliz”, como diz a imortal canção de Gonzaguinha.
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