segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Repercussão

Acompanhe abaixo coluna CineArt publicada na Gazeta de Limeira deste sábado, 11 de dezembro:


INFÂMIA

Por José Farid Zaine
farid@limeira.com.br
Twiter: @faridzaine


“A Sexualidade não admite opções, simplesmente se impõe. Podemos controlar nosso comportamento; o desejo, jamais. O desejo brota da alma humana, indomável como a água que despenca da cachoeira. Mais antiga do que a roda, a homossexualidade é tão legítima e inevitável quanto a heterossexualidade. Reprimi-la é ato de violência que deve ser punido de forma exemplar, como alguns países o fazem com o racismo”. Estas são palavras de Drauzio Varella, consagrado médico, escritor e apresentador de TV, em seu artigo na Folha no sábado passado, 4 de dezembro. Dr. Drauzio vai ainda além ao comentar, com a autoridade de cientista e pesquisador, que “o comportamento homossexual foi documentado em machos e fêmeas de ao menos 71 espécies de mamíferos, incluindo ratos, camundongos, hamsters, cobaias, coelhos, porcos-espinhos, cães, gatos, cabritos, gado, porcos, antílopes, carneiros, macacos e até leões, os reis da selva”. Contudo, disseminada entre a sociedade, existe uma intolerância absurda que chega ao espancamento e assassinato de homossexuais, como tem sido mostrado na imprensa nos últimos meses. Nesta semana, como na cidade ocorre pela primeira vez um movimento contra a homofobia, e a favor da diversidade, resolvi indicar filmes relacionados ao assunto, já que o cinema e o teatro nunca deixaram de tratar do tema. O meio artístico, naturalmente, sempre foi o território mais livre para a expressão da sexualidade. Por outro lado, astros e estrelas do cinema , do teatro e da TV muitas vezes não assumem publicamente seu comportamento para não atrapalhar seu trabalho. O público feminino, por exemplo, ficaria incomodado ao saber que um galã de novelas é gay, como disse recentemente um renomado autor. O célebre caso de Rock Hudson, um ídolo do cinema nos anos 1950 e 1960, foi marcante.
Ocultando sua homossexualidade, Rock chegou a se casar, numa imposição do seu estúdio, forjando um desastrado relacionamento com uma atriz. Rock morreu de AIDS em 1985. Um dos maiores mestres da música universal, Tchaikovsky, também se casou, e sua mulher foi levada ao inferno da loucura, como podemos ver no belo “Delírio de Amor” (The Music Lovers, 1970) de Ken Russel. Nos tempos atuais, enfim, há progressos. Muitos países adotam o casamento entre pessoas do mesmo sexo, baseando-se em “um princípio elementar de justiça”, e indo contra a orientação religiosa, como aconteceu na Argentina e na Espanha, onde a reação foi mais forte.

Em São Paulo, no mês de novembro, aconteceu mais uma edição do Festival Mix da Diversidade Sexual, uma prova da grande produção que existe pelo mundo todo tendo a sexualidade como tema, e produzindo obras vistas por um público cada vez maior e cada vez mais atento à necessidade do combate ao preconceito, à discriminação e à intolerância.

Poderia indicar uma lista interminável de ótimos filmes que retratam as dores e as alegrias vividas por pessoas que se apaixonam por outras do mesmo sexo, muitos deles grandes sucessos como o pungente drama “O Segredo de Brokeback Mountain” e o mais recente “Direito de Amar”, os brasileiros “Do Começo ao Fim” e um que ainda está nos cinemas, com Ana Paula Arósio, vivendo o sofrimento de uma separação (“Como Esquecer”, de Malu de Martino e Elisa Talomelli). Mas vou dar destaque a um clássico de William Wyler, o genial diretor de Ben-Hur, aquele épico grandioso, um dos melhores da história, que relata uma longa e conturbada relação entre dois homens, o próprio Ben-Hur e seu amigo de infância e juventude, e depois inimigo mortal, Messala. O clássico de que falo é “Infâmia”, com interpretações inesquecíveis de Audrey Hepburn e Shirley MacLaine. Bonitas e talentosas, no auge de sua popularidade, as duas se entregaram de forma intensa à criação de suas personagens, duas professoras proprietárias de uma escola, que tem suas vidas tumultuadas por uma aluna cruel e mentirosa. Até onde uma mentira pode conduzir à revelação de uma verdade oculta e dolorosa? O filme, magnificamente fotografado em branco e preto, é oriundo da peça homônima de Lilian Hellman, cujo título original é “The Children´s Hour”. Audrey fez esse papel dramático e difícil em 1961, pouco tempo depois de ter filmado um dos seus maiores e mais marcantes sucessos, “Bonequinha de Luxo” (Breakfast at Tiffany´s), baseado no livro do escritor homossexual Truman Capote, também vivido magistralmente no cinema por Philip Seymor Hoffman, no filme “Capote”.

“Infâmia” foi lançado em DVD em 2009 pela Versátil Home Vídeo. Acompanhemos esse drama maravilhoso, tanto pelo que ele tem de profundamente artístico, como pela possibilidade de sacudir os nossos sentidos e fazer com que compreendamos que homens e mulheres podem, sim, controlar seu comportamento, nas nunca os seus desejos, como disse sabiamente o Dr. Drauzio Varella.



Assessoria Parlamentar do Vereador José Farid Zaine (PDT)

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